A região oeste catarinense caracterizou-se pela economia essencialmente agrária, o cultivo do arroz, milho, feijão e trigo servia para abastecer as necessidades locais e comercializar com regiões mais distantes como São Paulo, por exemplo. Além do trabalho agrícola, a região destacou-se também na criação de animais, especialmente o suíno. Em função disso, surgiram os primeiros abatedouros o que a tornou - até hoje - conhecida como área de grandes empresas frigoríficas brasileiras.
A madeira foi uma das atividades comerciais mais lucrativas, especialmente nos períodos de 1930-1950. Na década de 1930, foi o principal produto de exportação do estado. A maior parte da produção madeireira “era destinada ao mercado argentino e uruguaio, transportada por meio do rio Uruguai, em forma de balsas, durante o período de cheias” 5
As árvores eram, geralmente, compradas no mato. Segundo Aloísio Lauxen2, em 1947 pagava-se de vinte a vinte e cinco mil réis por árvore (final da década de quarenta). “Eles [os patrões] compravam madeira no mato, ficavam junto para derrubar o cedro, e também já tinha boi e tudo. Então eles mandavam levar para o rio. Aqui no mato, pagava naquele tempo vinte a vinte cinco mil réis a árvore”.
Nessa época, com tal soma, era possível comprar dois alqueires de terra. Para retirar a madeira, primeiro cavoucavam em torno dela até que ficasse o mais próximo possível da raiz. Em seguida, cortavam a tora com machado. Após isso, descascavam a madeira e cortavam a ponta de cima da árvore. Finalmente, arrastavam e encarreiravam, colocando uma árvore ao lado da outra.
Para tirar as toras do mato, usavam três, quatro ou até cinco juntas de bois. Das glebas, primeiramente, o transporte era feito com carretão3 e mais tarde, depois da Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, foram utilizados os primeiros caminhões. O combustível usado nesses meios de transporte era, a princípio, o gás pobre (assim chamado o carvão) e, mais tarde, o óleo diesel.
Segundo Bellani, o pelotão era formado “de 10 a 15 toras, amarradas a uma travessa de madeira de lei, forte, cuja espessura variava de 20 a 25 cm de diâmetro, chamada pelos balseiros de ‘lata’. A lata possibilitava a amarração e a fixação da madeira”4 . Em seguida, as madeiras eram amarradas com cipó, doze voltas de cada lado da vara, para que ficassem bem firme – era a gravata5. Isso dava a devida aderência à madeira, formando um pelotão compacto, que era unido a outro pelotão por mais uma gravata. Feito assim, de maneira sucessiva, tinha-se a balsa, formada por dez pelotões ou mais.
Uma balsa possuía, em média, de 180 a duzentas toras. Seu tamanho era de dez metros de largura, por noventa a cem metros de comprimento. Em cima das toras eram construídas duas casinhas (ou ranchos). Uma era utilizada para armazenar os mantimentos e fazer a comida. Outra, um pouco maior, para proteger as mochilas, as roupas dos balseiros e para abrigar os peões quando a balsa estava ancorada.
Na região do Alto Uruguai Catarinense, o cedro era a principal madeira destinada ao comércio por meio das balsas. Comercializava-se também o louro, a guajuvira, a araucária, a açoita e a cabriúva. Para fazer o transporte das madeiras pesadas, como o pinheiro, por exemplo, era preciso intercalá-las com o cedro. Também era necessário fazer uma amarração bem resistente, para que as toras não afundassem.
Depois de prontas, as balsas ficavam à espera de uma enchente que elevasse o nível da água, para serem levadas até São Borja – RS e dali para a Argentina e Uruguai, onde seriam comercializadas. Valentini lembra:
“Pronta a balsa era só aguardar a enchente, indispensável para a largada e requisito para vencer o itinerário dos obstáculos naturais que se compunham de cachoeiras, remansos, pedras, peraus, ilhas, curvas, corredeiras, neblina, chuva e frio. Tudo dependia das condições climáticas, do número e da habilidade dos balseiros.” 6
O nível das águas deveria aumentar em quatro metros, no mínimo,e era chamado de ponto de balsa7. Quanto maior o nível da água, menor o tempo da viagem. As balsas de toras eram preparadas no leito, ao longo de todo o rio Uruguai. Os locais de partida eram os chamados pontos baixos e ficavam em Entre Rios, Porto Itá, Barra do Uvá e Linha Simon, todos no estado de Santa Catarina.
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De Chapecó, no porto de Goio-En, saíam as balsas feitas com madeira de pinheiro serrada. Para fazer as amarras, era utilizado o arame galvanizado, embora o cipó oferecesse maior segurança, devido à sua maleabilidade. Angeli comenta o fato e menciona os principais comerciantes envolvidos nessa atividade:
“A partir da década de quarenta, muitos madeireiros partiram para a construção de balsas de pinho serrado. Muitos foram os que adotaram esse meio de transporte para a Argentina, possuindo uma liderança destacada o coronel Francisco Bertazo e seu filho Serafim Bertazo, a Cooperativa Chapecó, Irmãos Pagnondelli, Emílio Grando, Germano Hoffmann, Ernesto Fronza, Nenê Barthier e os Frare de Nonoai.” 8
A opção pela venda do pinho deu-se especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, em 1939-45, quando essa madeira teve um aumento de valor considerável. Apesar das dificuldades, como a distância do rio para encontrar as árvores e o fato de que essa era uma madeira que flutuava de maneira precária, os madeireiros dedicaram-se com afinco a essa atividade.
A balsa foi, durante muitos anos, a principal fonte de renda para os balseiros, que também eram pequenos agricultores. O rendimento obtido com essa atividade era maior que o da venda de produtos cultivados. Muitos investiram seu dinheiro nas propriedades ou em outros negócios, como madeireiras, alambiques ou mesmo no comércio.
4 POLI, Jaci. Caboclo: pioneirismo e marginalização. Chapecó: FUNDESTE, 1991, p. 65.
5 GOULART FILHO, Alcides. Formação Econômica de Santa Catarina. Florianópolis: Cidade Futura, 2002. p. 91.
2 Aloísio Lauxen trabalhou como balseiro e cozinheiro. Atualmente mora em Ita/SC. Entrevista concedida à autora em 01/10/04. Acervo Particular.
3 Espécie de carroça, sem a caixa. Era puxada por burros ou por juntas de bois.
4 BELLANI. Eli Maria. Balsas e Balseiros no Rio Uruguai (1930-1950). IN Centro de Organização da Memória Sócio-Cultural do Oeste. Para uma História Catarinense: 10 anos de CEOM. Chapecó: UNOESC, 1995, p.118.
5 Nome dado ao nó, feito de cipó, que amarrado às madeiras, formavam as balsas.
6 VALENTINI, Delmir José. Tropeiros, Ervateiros e Balseiros: Memoráveis personagens da História do Sertão Catarinense. IN: Ágora: Revista de divulgação científica da Universidade do Contestado. Caçador (SC): UnC, 1994. v.1, nº 1 (jan/jul), p. 85.
7 Limite mínimo para elevação do nível da água
Fonte: Trabalhadores do Rio - Os Balseiros do Rio Uruguai - Noeli Woloszyn
O dia de Fabrício era dividido em três partes distintas. Pela manhã ia cedo para a beira da estrada, do outro lado do rio para vender frutas aos motoristas que reduziam a velocidade ao aproximarem-se do posto policial. Em algumas épocas do ano eram bergamotas, noutras ameixas ou goiabas. Não dava muito lucro, e vendia-se pouco. Eram raros os motoristas que paravam, e mesmo estes, compravam também dos outros meninos e meninas que, como ele se enfileiravam na margem da estrada, do lado do morro. Na época de bergamota até sobrava mais dinheiro, pois elas eram tiradas da roça do pai. Mas na roça não tinha um só pé de ameixa ou de goiaba. Então era preciso colhê-las nas roças dos vizinhos e repartir, meio a meio com eles a féria do dia. No inverno era melhor, pois o sol batia de frente e aquecia a manhã fria. No verão o sol torrava. Seria melhor trabalhar à tarde, quando a sombra do morro se esparramava no asfalto. Mas à tarde ia para a escola.
Essa era a parte do dia de que mais gostava, a parte da escola. Principalmente quando, no terceiro ano começou a aprender sobre as navegações portuguesas. Gostava especialmente da palavra “caravelas” e de Vasco da Gama. Cabo da Boa Esperança também lhe trazia sonhos.
Nos dias de enchente, quando o Uruguai bufava lá embaixo, ele via, do alto da ponte, o Oceano e as Tormentas. Via Vasco da Gama, seu pai, em pé no centro da caravela, gritando ordens enérgicas para os marujos balseiros. Via os monstros marinhos surgirem na correnteza em forma de sacos de lixo e litrões de Coca-Cola, que desciam céleres o rio e atacavam a caravela, balsa imaginária, valentemente defendida pelo pai, Vasco da Gama e pelos destemidos marinheiros armados de remos e cartucheiras.
Depois da escola, às cinco horas, passava no bar do Moura e comprava as encomendas que a mãe fizera. Coisa pouca, quase sempre. Um quilo de sal num dia, um Anil no outro, um carretel de linha, um pedaço de fumo para o pai... Quando o dinheiro dava, pagava. Quando faltava, o Moura anotava na caderneta.
No verão sobrava dia para buscar as frutas e acertar a parte com o dono da plantação, e ainda podia ajudar o pai na roça, quando este estava lá, recolher lenha ou revisar as esperas no rio.
Antigamente, quando o pai ficava em casa à noite e não chegava tarde bêbado, ouvia calado as histórias que ele contava para a mãe Elvira e para o irmão que foi-se embora prá cidade, trabalhar no frigorífico.
Seus sonhos eram povoados de ressorjos, chefadores e corredeiras. Gostava do Salto Grande, mesmo que lá tivesse ficado para sempre o Vicente, melhor amigo do pai, atingido por uma ponta de galho de um chefador, já do lado do Rio Grande.
O pai contava que formaram os três, ele Fulgêncio, Natalício e Vicente, os melhores balseiros do Uruguai, desde que Manuel Pereira confiara-lhes a primeira descida. Isso lá atrás no tempo, quando eram ainda moços e foram conversar com Manuel e conheceram Elvira. Nunca perderam uma tora. Natalício e Vicente foram padrinhos de casamento. Vicente perante o padre e Natalício na lei dos homens.
Pois a tragédia foi dar-se justamente na última descida de balsa, quando já o cedro escasseava e as taboas de pinheiro eram levadas, já serradas, pelos caminhões Internazionale e FNM do Coronel.
Daquela viagem não sobrou dinheiro e nem sedas para Elvira, embora a balsa tenha chegado inteira em São Borja. O pai nunca contou, mas um dia Tiço escutou do Natalício que gastaram todo o dinheiro nos cabarés da fronteira.
Continuando a postagem anterior:
PLANO DE AÇÃO
O plano de ação contém toda parte metodológica do projeto. Listarei os assuntos que estou planejando para 2009. Não colocarei todos os detalhes, como objetivos ou estratégias. Se alguém interessar-se em tê-lo completo, é só me contatarem.
No primeiro momento levarei leituras com o tema BRINCADEIRAS para a sondagem que me referi semana passada. Serão leituras sobre bonecas, brinquedos em geral, como curiosidade: boné: sua origem e alguns fatos pitorescos. Passarei também pelas histórias clássicas de fadas. Procuro assuntos que chamem a atenção, para que as leituras não sejam desgastantes, sendo do universo deles, fica mais interessante.
As leituras contém, no primeiro momento letras grandes e poucas linhas, entre 15 a 20 linhas. Não devo colocar mais linhas, pois estão se familiarizando com o projeto e ainda apresentam inibições. Aqui também preciso de atenção para a verificação se estão alfabetizados.
Não se assustem: Às vezes alguns alunos chegam ao 6º ano sem saber ler, ou lendo silabicamente.
No mês seguinte, o segundo tema será sobre Valores Humanos. O título será PEQUENAS TERNURAS.
São leituras sobre cidadania, ética, as palavras: obrigado, por favor, desculpa, etc. Também leremos sobre as virtudes e seus significados. São histórias lúdicas que ensinam e trazem mensagens.
O terceiro tema: VOCÊ SABIA? Envolvendo curiosidades e informações. Leituras científicas experiências, conhecimento geral. Exposição das imagens em 3D das Sete Maravilhas do Mundo Moderno com suas histórias (coleção Revista Caras-2008).
O quarto tema: “A LIÇÃO ATRAVÉS DAS HISTÓRIAS”, assunto folclore. Leituras de fábulas e lendas. Enfoque para a poesia, com a “COLETÂNEA DE POESIAS”.
O quinto tema: “TEMPORADA DE ARTES”. Sobre a artista Tarsila do Amaral. Biografia, história e leituras de suas obras.
Um espaço para a leitura de imagens, oportunizando a observação e apreciação de detalhes como: cor, forma e textura.
Interpretar obras de Tarsila estabelecendo relações entre textos, desenvolvendo o senso crítico, valorizando nossa artista.
O sexto tema: “EMBARQUE NESTA AVENTURA”.
Leituras deste gênero, com biografias de super heróis, História em quadrinhos. È um tema muito aceito, portanto deixo-o para o final. Faço um estudo no túnel do tempo, resgatando Dom Quixote entre outros heróis clássicos já desconhecidos destas crianças, até chegar nos cibernéticos e nos mais conhecidos, como super homem .
Dependendo do rendimento durante o ano, deixo preparado uma última unidade chamada “ESTAÇÃO REFLEXÃO”. Como o título diz, leituras reflexivas. Ano passado não trabalhei este tema, pois meus alunos eram bem imaturos, preferi encerrar com os heróis, pois não assimilariam histórias de autoconhecimento e linguagem figurada. Isto depende muito do repertório literário que tiveram nos primeiros anos escolares. Muitos chegam à segunda etapa do ensino fundamental totalmente despreparados, inclusive, de ter vários professores, um para cada matéria. Eles chegam chamando-nos de “tias”,costume antigo de salas infantis.
Estes são os temas que selecionei, porém havendo necessidade posso substituir algum.
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8 comentários:
sobrevoando o rio e acompanhando o movimento dos balseiros...
curiosa p/ saber até onde chegarão.
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lendo atentamente a história de elvira. deu água na boca pensar nas bergamotas (lembro-me de umas minúsculas e doces como o mel).
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torcendo pelo projeto da krika.
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saudades do anfitrião.
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beijos em todos
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______ sobrevoando uma vez mais ______
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Olá amigo!
Acompanhando a história da colonização atentamente, e confesso que desconhecia alguns detalhes.
Nota dez o vocês. Assuntos interessantes, material para pesquisa e de grande valia.
A parceria deu certo!
Ah, o Juca tá bão? rsss
Beijos a todos!
Escuita...Milly não apareceu?
Será que está as voltas com a família de Francisco e Maria?
Sei não amigo, acho que essa família vai aumentar muito!
(hahahahaha)
Sherazade... O rio e os balseiros perceberam o farfalhar suave de asas multicores...
As cigarras cantaram mais forte, os sabiás mais melodiosos, e os sapos mais saudosos...
Beijo, amiga. Obrigado pela sua presença constante.
Prima...
A parceria parece mesmo estar dando certo. Principalmente porque as parceiras são de grande valia e muito incentivam. Sabes bem de quem eu falo.
Juca está bem, pelo que me consta. Tem me ajudado muito nas pesquisas e no modo de falar dos personagens. Afinal, como ele mesmo disse quando apareceu aqui pela primeira vez, ele presenciou ou viveu todos os fatos, em todas as épocas. Achei essa declaração um tanto quanto exagerada. Meio onipotente, onipresente e pouco factível. Mas não serei eu a duvidar do Juca...
Quanto à Milly, não a tenho visto por aqui, embora saiba que ela sempre dá uma passadinha. Ocupada por demais, imagino.
Pela disposição da prole dela, a estas alturas ela já deve ser bisa... Francisco e Maria são muito ativos. Se essa qualidade se transmitir geneticamente, logo logo ela terá que ampliar as instalações da creche.
Beijo, amiga. Que teu final de semana seja de muita luz e paz...
Olá meu amigo da Torre.
Li o conteúdo , na época da postagem, absorvendo aos poucos, gosto de fazê-lo. Como se alguém estivesse contando, volto ao tempo de criança, adorava ouvir histórias da História. Aqui é um lugar de transporte para mim.
Continua um lugar bom de se sentar e "ouvir". Teus bancos da Torre, são acolhedores.
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Krika, teu ano está perfeito. Planejado , estruturado , acredito até , que a esta altura , estejas com várias atividades prontinhas , no aguardo da meninada, que logo chega.
Parabéns.
Gostaria que muitas professoras, te lessem, pois teem aqui, uma versatilidade de sugestões maravilhosas.
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Meu abraço aos amigos , ao dono da Torre e a você , sua hóspede.
Girassol, obrigada pelas palavras de incentivo...Sim, já estou preparada para 2009. Só no aguardo da meninada!
beijos
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