Seu irmão, Fernando, ia buscar água nessa hora. Era o mais novo. O que menos rendia no eito. Então era dele a tarefa de encher os dois porongos na sanga mais próxima. Ás vezes demorava, talvez como ele, ficasse a assistir ao gavião, tentando se safar da perseguição dos passarinhos que o tentavam afastar o mais possível dos seus ninhos, ou então, como dizia o pai, “era um vadio mesmo!"
Este não era dos grandes, não! - parecia mais o Pinhé-Pinhé que a sua mãe tanto temia. Já o tinha visto de longe um dia, em cima do palanque de concreto da cerca farpada que havia acima do muro. Seria o mesmo?
Sim! Era mesmo um Pinhé-Pinhé! Parecia maior porque estava perto, logo acima do muro.
Parava no ar por uns minutos, antes de mergulhar como uma flecha desaparecendo atrás do muro. Depois, voltava a pairar. No mesmo lugar, parecia.
Não havia conseguido apanhar sua presa?... Ou se conseguira, não lhe teria bastado para matar sua fome?
Que presa seria? Uma cobra? Um rato? Um grilo? Ou seria um pintinho, como sua mãe temia?
As galinhas do terreiro ficavam apavoradas quando um Pinhé-Pinhé estava por perto. Cacarejavam preocupadas e paravam de ciscar, escutando.
Então, como um raio ele vinha, sem se saber de onde e desaparecia adiante, levando mais um pintinho nas garras
As galinhas se alvoroçavam mais e o galo cacarejava grosso. Depois voltavam a ciscar normalmente, como se soubessem que naquele dia ele não voltaria mais. Já haviam pagado o seu tributo diário.
Os mais antigos diziam que gavião Pinhé não come pinto, só carrapato e berne. Que só o Carijó come pinto e cobra. Mas ele vira muitas vezes, um Pinhé-Pinhé sumir com um pintinho novo. Seria falta de carrapatos?
No entanto, este, olhando bem, não levava no bico nenhum pintinho, nem uma cobra, nem um rato. Um grilo, talvez, mas grilo é pequeno. De onde estava não dava para divulgar, ainda mais agora, que o sol o atrapalhava. Ardiam-lhe os olhos. Cegava.
Mário chama-o para o jogo de bola. Não vai. É melhor olhar o gavião.
Mário é quieto. Gosta de jogar bola. No jogo não é quieto. Grita. Pede o passe. Depois do jogo pouco fala. Só uma vez falou da filha Beatriz, e do mal que o patrão lhe havia feito.
Está demorando...
Já faz uns dois minutos que o gavião mergulhou atrás do muro. Será que caçou? Pegou a cobra? O rato? Um pintinho? Grilo não. Grilo é pequeno. Já teria tido tempo de tê-lo comido. Carrapato?
Esperou... Esperou...
Já não havia mais gritos de jogo de bola.
Olhou para trás. Mário estava sentado a um canto do pátio, fumando sozinho. Mais adiante, na sombra, mais uns cinco conversavam.
A sombra do muro já cobria meio pátio. Seria melhor entrar. Logo viria a janta.
Encaminhou-se para a porta principal e entrou.
Sorria ainda, pensando no gavião que vira e desta vez nem prestou atenção ao som metálico do ferrolho que fechava a grade da cela 118 do Pavilhão 9. A sua cela.
Quasímodo – 20/07/08
A NOVA ÁGUIA pretende ser uma homenagem a essa tão importante revista da (nossa) História, procurando recriar o seu “espírito”, adaptado ao século XXI, conforme se pode ler no seu Manifesto.
Tal como n’ A Águia, procura-se o contributo das mais relevantes figuras da nossa Cultura, que serão chamadas a refletir sobre determinados temas. O primeiro número, já lançado, tem como tema: A idéia de Pátria: sua atualidade. O segundo, a ser lançado em Novembro, terá como tema: António Vieira e o futuro da Lusofonia.
O terceiro, a sair no 1º semestre de 2009, será dedicado a: O legado de Agostinho da Silva, 15 anos após a sua morte.
A Revista resulta de uma parceria entre a Editora Zéfiro, a Associação Marânus/Teixeira de Pascoaes, que será a sua sede a Norte de Portugal, e a Associação Agostinho da Silva, que será a sua sede a Sul (Rua do Jasmim, 11, 2º andar – 1200-228 Lisboa.
Concomitantemente, foi também criado um Movimento cultural e cívico, o MIL: MOVIMENTO INTERNACIONAL LUSÓFONO, a que poderá aderir, caso se reconheça na sua Declaração de Princípios e Objetivos.
Para maior conhecimento, acesse o que “Da Torre Vejo”, ao lado, ou http://novaaguia.blogspot.com/
Ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci;
Ler obras de Machado de Assis Ou a Divina Comédia; ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA e muito mais....
Esse lugar existe!
O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso,basta acessar o site: http://www.dominiopublico.gov.br/
Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acesso é muito pequeno. Vamos tentar reverter esta situação, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura. Divulgue para o máximo de pessoas.
.
Na bomba do mate ficaram teus lábios
E o gosto maduro de mel de mirim
E se não mateio depois que partiste
É que ando triste perdido de ti
.
A bomba é uma pomba de penas cansadas
E a cuia morena seu ninho vazio
E agora que foste chegou o inverno
E as águas do mate tiritam de frio
.
Às vezes teus lábios recordam os beijos
Que a bomba trazia de ti para mim
E o mate de ontem me lembra tudo
Que é doce a princípio se amarga no fim
.
Por outras me indago se não vale a pena
Trocar um capricho por um chimarrão
Tomar mais um mate por ti que levaste
Meus restos de doce da palma da mão
.
(Composição de Vinivius Brum, Beto Bollo e Aparício Silva Rillo)
----------------------
Abraço a todos os visitantes da Torre. Sejam bem vindos.
______________