domingo, 29 de março de 2009

A vida palpita na literatura




O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA




Hoje trazendo Douglas Tufano:







A VIDA PALPITA NA LITERATURA


Revista Páginas Abertas - Paulus Editora



Como definir a literatura? Há tantas definições por aí, desde a antiguidade até hoje. Para mim, depois de muitos anos como professor, devo dizer que a literatura nada mais é que uma pergunta. E a boa literatura nada mais é que uma boa pergunta, daquelas para as quais não temos uma resposta definitiva e que nos fazem pensar, às vezes, pela vida toda. Aliás, saber perguntar é uma arte. Disse o escritor francês André Malraux: "O homem não encontra sua imagem na extensão dos conhecimentos que adquire; ele encontra uma imagem de si mesmo nas perguntas que faz.” E é isso que faz a boa literatura: ela nos apresenta perguntas e nos instiga a refletir.


A experiência da leitura nos faz mergulhar no âmago da vida, nos descortina outras formas de existência, nos abre horizontes insuspeitados, nos leva de volta para dentro de nós mesmos, nos inquieta com perguntas provocantes. Essa é a grande força da literatura e por isso ela deve ser introduzida na sala de aula — porque tem uma função educativa, e não meramente escolar. Deve-se ler literatura para ajudar o aluno a crescer como ser humano, não para treiná-lo a fazer testes escolares.


Quando lemos literatura, lemos a vida. Quando discutimos um texto, discutimos a vida, as reações humanas, os problemas da existência. Aparentemente, ela nos distancia da realidade, mas só por alguns momentos, pois logo em seguida nos devolve ao mundo ainda mais lúcidos. Como diz o escritor alemão Hermann Hesse, "não devemos ler para esquecer-nos de nós mesmos e de nossa vida quotidiana, mas, ao contrário, para reassumir em nossas mãos firmes e de maneira mais consciente e madura a nossa própria existência. Devemos ir aos livros não como alunos tímidos que temessem aproximar-se de mestres frios e indiferentes; não como os ociosos que passam o tempo a beber. Mas sim, como alpinistas a galgar alturas, como guerreiros que acorrem ao quartel para buscar armas.”


No mundo de hoje, massificado e massificante, o trabalho com a leitura se torna mais urgente do que nunca. Ajudar o aluno a se tornar um leitor crítico é ajudá-lo a se desenvolver como pessoa, é dar-lhe autonomia de pensamento. Discutir com ele as questões suscitadas pela leitura é estimular-lhe o raciocínio, fazê-lo perceber as várias facetas de um problema, é ensiná-lo a considerar as coisas de outros pontos de vista, a levar em conta os argumentos alheios; é, enfim, ajudá-lo a tornar-se maduro, a ter autocrítica.


A vida palpita na literatura.


Saibamos recriar essa vida na sala de aula, ajudando os alunos a perceberem que os livros convidam a um diálogo, a uma troca de idéias, e que toda leitura, no fundo, é um reencontro do leitor consigo mesmo, em busca de respostas para suas inquietações mais profundas.

Texto enviado por Krika
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Peço permissão à companheira e amiga Krika para dar este recadinho em sua postagem, pois que tem muito a ver com a sua abordagem acima.

Dia 3 de Abril será lançada o terceiro número da revista Nova Águia.
Nesta edição o tema central será "O Legado de Agostinho da Silva, 15 anos após sua morte."

Será lançado pela primeira vez no dia 3 de Abril (dia em que se assinalam, precisamente, os 15 anos sobre a morte de Agostinho), no Anfiteatro I da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, às 16h, no âmbito de um Colóquio cujo programa poderá consultar no nosso blogue: www.novaaguia.blogspot.com
No Brasil ela pode ser encontrada no Espaço Cultural É-Realizações, Rua França Pinto, 498 - Vila Mariana - São Paulo.
Ou através de assinatura no Site: http://www.zefiro.pt/novaaguia.
As edições são semestrais e de ótima qualidade.
Além da abordagem do tema central, a revista reflete a vontade e o empenho de um grupo de pessoas (cerca de 800) no sentido de consolidar um projeto cultural e cívico consubstanciado no MIL - Movimento Internacional Lusófono.
Vale conferir.
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domingo, 22 de março de 2009

Culinária Gaúcha - Churrasco



Inegavelmente quando queremos nos referir à culinária gaúcha, o que nos vem na mente em primeiro lugar é o churrasco. Embora seja a comida típica mais representativa e divulgada, não é a única, decorrente da diversidade cultural e da formação multi-racial da população sul-riograndense.

Nesta série que hoje se inicia na Torre, procurarei demonstrar essa diversidade.

Esta série de postagens é dedicada à queridíssima amiga Betânia Maria (Beta), que, de Pelotas no sul do Estado irradia para o mundo a autenticidade da mulher gaúcha.

O churrasco a inaugura.



O Boi

Há varias teorias sobre a introdução do gado no Rio Grande do sul. Uma destas teorias diz que o gado era originário dos pequenos rebanhos deixados por Hernandarias, em 1611 e 1617, na foz do rio Negro, afluente do rio Uruguai.
Os Charruas comeram este gado vacum, porque quando a Colônia do Sacramento foi fundada só se encontrava gado na Vacaria do Mar.
Outra teoria afirma que Francisco Naper de Alencastro introduziu o gado em 1691, mas antes dessa data já se tem informação de rebanhos bovinos no Rio Grande do Sul.
A terceira teoria é a Missioneira. Em 1628 há relatos sobre rebanhos bovinos nas reduções. Em 1633 registra-se em pequeno numero nos povoados missioneiros. Só em 1634 o Padre Cristóbal de Mendoza introduziu o gado vacum em grande escala no território gaúcho. VACARIA , em Castelhano baqueria, era o nome dado a grandes extensões de campos, onde missionários Jesuítas das Reduções e dos Sete Povos das Missões colocavam seus rebanhos, para se criarem soltos, alçados, formando reservas para suas estâncias.
A introdução do gado pelos jesuítas em 1629, da margem direita para a esquerda do rio Uruguai, foi o ponto inicial de um rebanho imenso que se propagaria aos terrenos baixos do rio Uruguai, que seria conhecido como "Vacarias do Mar" , e ao planalto e serra.
Os Jesuítas, com a chegada dos Bandeirantes, retiraram-se para a outra margem do rio Uruguai, levando os nativos, mas deixando o gado que criavam nas reduções. Esses rebanhos, abandonados no pampa e reproduzindo-se a solta, tornaram-se bravios e formaram uma imensa reserva de gado, conhecido como “Vacaria del Mar”.
A Vacaria do Mar, situada entre a Laguna dos Patos e os rios Jacuí e Negro, havia sido pilhada por espanhóis e portugueses. Para fugir à sanha predatória destes conquistadores, o superior provincial dos Jesuítas, Padre Lauro Nunes, em 1702, resolveu criar a “Vacaria dos Pinhais” , numa região que parecia inacessível a espanhóis e portugueses.
Este território corresponde à última vacaria realizada pelos Padres, denominada "Baqueria de los Pinares", esta estância foi fundada em 1697. A região do Albardão da Serra ou Coxilha Grande fez parte por muito tempo de uma zona conhecida por "Vacaria dos Pinhais".
Fontes de abastecimento de espanhóis e portugueses foram os rebanhos do gado chamado "chimarrão” formado quase espontaneamente.
Sobra a Vacaria dos Pinhais ou Campos da Vacaria, descreve em 1781 Francisco Roque Roscio: "A terceira parte do terreno deste Continente e Governo do Rio Grande de São Pedro são os campos de cima da serra chamados Campos da Vacaria, que é uma extensão de terreno vasto e longo, cortado e banhado para os seus lados meridional e setentrional com vários rios que se esgotam da parte meridional para o Rio Guaíba e da parte setentrional para o Rio Uruguai. É formado ou levantado pelo meio com um Albardão Grande que se alonga e estende até as Aldeias e Campos das Missões Jesuítas no Uruguai e fechado pelos lados meridional e oriental com a Serra e a Cordilheira Geral; pelo lado setentrional com o Rio Uruguai, que tem seu nascimento na mesma cordilheira; e pelo lado ocidental, com a corda de mato (...) na passagem do Jacuí quando atravessa a mesma Serra".
Com a introdução do gado pelos Missionários Jesuítas, e a formação destas Vacarias, estava lançado o fundamento econômico básico de apropriação da terra gaúcha: a preia do gado xucro.
Economicamente, além da preservação do vantajoso comercio ilícito, implicou conhecimento, por parte dos portugueses, das imensas reservas de gado e da Vacaria del Mar. Nesta passou a se desenvolver uma intensa atividade de caráter predatório. Caçava-se o gado xucro para dele extrair o couro que era exportado para a Europa por Buenos Aires ou Sacramento. A preação do gado foi objeto da atenção de diferentes grupos sociais: Portugueses de Sacramento, Índios de aldeados que vinham para vaquear para os padres, “acioneiros” de Santa Fé, Corrientes e Buenos Aires, que preavam os animais com permissão das autoridades espanholas, e aqueles indivíduos que, “ sem rei, sem fé e sem lei” , vaqueavam por conta própria, vendendo os couros a quem lhes paguem mais. Até os ingleses estabeleceram na área um entreposto ligado a “south sea company”, para lucrarem com o negocio da courama.
Neste período, a carne não era considerada um bem econômico, sendo consumida no local aquela necessária à subsistência por ocasião do abate e a restante deixada apodrecer.
A chamada Preia de Gado Alçado, para a comercialização do couro movimentou o extremo sul, atraindo as atenções para a região que se tornou conhecida pela sua riqueza pecuária.
A Vacaria do Mar estava num território que pertencia ao Rei de Espanha, pois a partir de 1640, com o termino da União da Coroa Ibérica, o suposto Tratado de Tordesilhas voltava à tona. Todavia o território era administrado pelos padres da Companhia de Jesus. Com o abate desse gado para tirar couro e sebo, bem como levando tropas para São Paulo em 1739 não havia mais gado na região.


A História do Churrasco
Ele é elemento de confraternização, um alimento apreciado por quase todos e um dos mais antigos pratos do mundo. O churrasco está cada vez mais presente no universo gastronômico, fazendo dos rodízios, sua mais avançada modalidade, uma das melhores opções de alimentação do Homem atual. Saiba como ele foi descoberto e que transformações sofreu durante o percurso de sua história.

A carne.
Esse alimento tem acompanhado a evolução do Homem desde a época em que ele habitava as escuras cavernas. Nos primeiros tempos a alimentação humana era essencialmente vegetariana, feita principalmente da coleta de frutos e algumas folhas. Mas uma vez provada a carne, esta jamais saiu do seu menu, incorporando-se definitivamente aos seus hábitos alimentares. Depois da descoberta desse sabor, qualquer animal que andasse por cima da terra, cruzasse os ares ou deslizasse sob as águas dos rios era prenúncio de um delicioso e fausto banquete.

Para isso, esse ancestral do Homo sapiens, saia à caça munido de paus e pedras ou de uma arma que naquela época era o que havia de mais avançado em termos de tecnologia: a lança de pau com ponta de pedra afiada. Essas batalhas diárias, travadas com as feras pela sobrevivência, garantiu a perpetuação da espécie, contribuindo para a sua evolução até os nossos dias.

Os primeiros nacos de carne saboreados pelo Homem foram "in natura", leia-se, crus e cheirando a sangue. O único referencial que os candidatos a "gourmets" daqueles tempos possuíam era a prática observada entre os outros animais carnívoros que, além de serem os seus primeiros "professores gastronômicos", também engrossavam o cardápio dos humanos. Essa tradição culinária - de comer carne crua - é mantida ainda hoje pelos esquimós com a foca e por algumas comunidades árabes com a carne de cordeiro.

Nasce o churrasco

Assim se alimentou a humanidade por longos anos até que descobriram o fogo, elemento natural que mudou radicalmente a vida de todos que passaram a dominá-lo e a usufruir de sua força transformadora. Inicialmente ele só servia para aquecer durante o inverno e para afugentar as feras que queriam fazer do Homem o seu prato predileto.

Mas um belo dia, por acaso, como quase todas as grandes descobertas da humanidade, alguém resolver chamuscar as carnes que tinha acabado de caçar. O resultado não podia ser melhor, pois além da considerável melhora no sabor, perceberam que nos dias seguintes o assado continuava bom para consumo, não se deteriorando tão rapidamente como a carne crua. Assim nascia o primórdio do churrasco, que podemos considerá-lo como o mais antigo dos pratos da culinária mundial.

Outro fator que contribuiu para incrementar essa mudança nos hábitos alimentares dos nossos ancestrais foi a domesticação de rebanhos bovinos, suínos, caprinos e ovinos, o que garantiu o abastecimento seguro de carne, não mais o Homem ficando na dependência da sorte em suas caçadas.

Tipos de churrasco

O desenvolvimento do churrasco na culinária mundial criou um ser que, depois da carne, é imprescindível para uma boa churrascada: o churrasqueiro. Ele é um sujeito que sempre se acha o melhor especialista do mundo à beira de uma grelha com carvão acesso, algo assim como o técnico de futebol, rente ao gramado, durante uma partida. Se perguntarmos a qualquer um desses grandes mestres das brasas quantos tipos de churrasco existem, com certeza responderá que "existem dois, o meu e o dos outros".

O churrasco, tanto no Brasil como nos outros países do Mercosul, desperta muitas paixões e opiniões. Isso é natural, pois quase todas as pessoas gostam, além de ser uma das melhores formas de se alimentar e, ao mesmo tempo, confraternizar com a família e os amigos.

Radicalismos de churrasqueiros à parte, há "churrascólogos" sérios que mostram que há vários tipos de churrascos e não só os dois definidos pelos "domingueiros do espeto". Esse é o caso do gourmet gaúcho Leon Hernandes, autor do livro A arte do churrasco (Ática, 1998). Nessa obra ele enumera as seguintes modalidades de churrasco: primitivo, de couro, de labareda, assado no barro, de grelha, dos imigrantes, de espeto, a parrillada e o rodízio.

De acordo com Hernandes o primitivo, também chamado de selvagem, é um tipo de churrasco feito "em geral no campo a céu aberto ou no chão de um rústico galpão". A carne escolhida é quase sempre uma costela ou matambre, temperado pelo sal grosso que é dado para o próprio gado. Come-se de pé, sem acompanhamentos e nem talheres, cada um dos participantes tirando um naco do próprio espeto.

Já o churrasco de couro, comum na fronteira entre o Uruguai e a Argentina, está cada vez mais esquecido. Antigamente quando matavam um boi, retiravam um pedaço do traseiro com a picanha, o file e a alcatra, junto com o couro, e assavam essa peça lentamente. Hoje só é feito pelos que gostam de manter as tradições gaúchas.

O churrasco de labareda é feito no campo, durante uma árdua jornada de trabalho e, em geral, com pressa para o almoço. Trata-se do fogo alto, com fortes labaredas, que assa um fino pedaço de carne espetado em um pau, que é rodado meia hora por um churrasqueiro. Não tem muita elaboração, mas garante o fim da fome e a continuidade da labuta.

O assado no barro vale ser citado só pela curiosidade, pois hoje em dia quase não é mais feito. O gaúcho abria um buraco no chão e nele acendia o fogo. Depois de algum tempo aquecendo o local, retirava as brasas e colocava dois pedaços de carne, ainda com couro, sendo que os músculos ficavam para a parte de dentro. Feito isso, acendia novamente o fogo por cima e esperava a carne assar.

O churrasco de grelha, como o nome já diz, é feito em uma grelha de ferro que, nos seus primórdios, era de pau. Esse tipo de churrasco é muito apreciado no Uruguai, mas alguns cortes de carne necessitam de adaptação, como é o caso "da picanha, por exemplo, que não poderá ser assada inteira, e sim dividida em postas", explica Hernandes em seu livro.

Também há que se ressaltar a influência dos imigrantes na realização do atual churrasco gaúcho. Dos italianos incorporamos o galeto e a polenta como acompanhamento, além de algumas saladas. Já dos alemães a influência foi marcada pelos salsichões que eles não dispensam e pelo consumo da carne de porco, que é uma das suas prediletas.

O churrasco de espeto, que todos conhecem, é o mais popular e apreciado. Como bem sintetiza Leon Hernandes ele está "em uso desde o tempo das cavernas". Hoje é de metal, podendo ser encontrado em qualquer supermercado e com um custo bastante acessível. Suas primeiras versões eram feitas de um resistente galho de árvore. Conta a lenda que, na Idade Média, em muitas caçadas os homens usavam a própria espada como espeto, dando a ela uma utilidade menos bélica e mais nobre.

Sobre a parrillada há que se registrar que é uma modalidade de churrasco muito utilizada no Uruguai, na fronteira do Rio Grande do Sul e também na Argentina. Ele consiste em uma grelha portátil que é colocada sobre a mesa, como se fosse um fogareiro com carvão, na qual são colocadas as carnes assadas para serem saboreadas por todos.

Quando se conta a história do churrasco jamais podemos esquecer a sua mais moderna e bem sucedida modalidade: o rodízio. Ele surgiu inicialmente em restaurantes na beira de estradas para atender os caminhoneiros que queriam comer carne de boa qualidade, sem gastar muito e rapidamente, pois tinham que seguir viagem e o frete sempre foi caro. Com o passar do tempo essas casas ganharam fama e começaram atrair clientes de todos os lugares.

Esse foi o convite que os rodízios esperavam para entrarem nas cidades, iniciando a competição com os restaurantes das cozinhas mais tradicionais. A concorrência fez com que as churrascarias rodízio se sofisticassem, ampliando os seus bufês de saladas e oferecesse outros pratos. Somado a tudo isso, a vantagem de se comer bem por um único preço.
Nos dias de hoje, praticamente todas as pessoas gostam das churrascarias rodízio. Nelas é possível encontrar uma grande variedade de carnes e seus diferentes cortes, além de uma série de pratos da cozinha italiana, espanhola, japonesa e portuguesa. Não há como sair com fome de uma dessas casas, pois não falta opções para todos os gostos. Só não vá a um rodízio se você estiver de regime. Será muito difícil resistir a tentação. Se não é o seu caso, bom apetite!
Texto extraído da revista Churrasco & Churrascarias


Curiosidade.

Os índios guararnis costumavam abrir buracos no chão, forravam com folhas verdes de árvores, deitavam a carne, e cobriam com mais ramos, mais uma camada de terra e um fogo em cima, onde assavam carnes frescas e caças.

A terra e as folhas aqueciam assando as carnes envolvidas nos vegetais. O gosto das folhas servia como tempero na falta de sal.



UM POUCO DE CIÊNCIA

O homem descobriu e aperfeiçoou todos esses modos de cozimento, e criou outros recursos hoje conhecidos no âmbito da gastronomia, aliando a ciência ao prazer. Agora, ele sabe que a gordura torna a carne impermeável ao fogo, protegendo-a, para que o calor não carbonize a albumina nela contida.
À medida que impermeabiliza a carne, impede a exsudação da hemoglobina, dos açucares e dos sais minerais. Ao mesmo tempo, a gordura que não coagula, destila-se e carboniza-se ligeiramente, enquanto a glicose se carameliza para que tudo resulte numa textura e num sabor perfeitos.
O fogo não pode ser excessivo. Se isso ocorrer, a albumina se carbonizará e a gordura, decompondo-se, será transformada em acroleína, substância prejudicial à saúde e à arte da gastronomia.
Apesar de todas as suas descobertas, o homem nunca abandonou a simplicidade dos grelhados, talvez pela proximidade mística com o fogo.
Apenas no século passado começou-se a seccionar o boi do modo como se faz hoje, com uma ou outra diferença regional, mas sempre com uma única ótica: do boi nada se perde, tudo é aproveitável.

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domingo, 15 de março de 2009

O caso do poema roubado

O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA

Recebi esta mensagem de Júlio, um amigo pra lá de especial, pelo dia internacional da mulher.
Confirmem se não é uma “pequena ternura”...



O caso do poema roubado (O Globo)
Por Cora Rónai - fotógrafa, jornalista, colunista de jornal e autora de livros e peças para crianças.

Há coisa de dois ou três meses apareceu, no portão do sítio, um pacote grande, embrulhado num saco de lixo preto.

Ninguém viu quem trouxe.
Amanheceu e estava lá. Assim que foi notado, ficaram todos da casa, bípedes e quadrúpedes, muito cabreiros com a sua presença. Nos dias de hoje, ninguém vê com confiança ou simpatia pacotes grandes, embrulhados em sacos de lixo pretos.
Os cachorros cheiraram e latiram, os gatos mantiveram distância, o Dirceu olhou de longe, cutucou com uma vareta, chamou Mamãe. O conteúdo parecia ser duro, sólido, como madeira. Não era nada morto, com certeza.

E não parecia ser bomba, muito embora ninguém da família tenha a mais remota idéia de como seja uma bomba, salvo pelo que se vê no cinema e nos desenhos animados.
Finalmente, depois de mais cutucadas e de muita hesitação, o pacote foi trazido para dentro, e aberto com o cuidado que a desconfiança recomendava.

Quando o conteúdo se revelou, surpresa total: Quem poderia imaginar que um poema roubado há 30 anos voltasse ao lar daquela maneira?!

Quando o sítio ficou pronto, em princípios dos anos 60, uma das primeiras providências dos meus pais foi espalhar pelo jardim e pela floresta uma dúzia de poemas.
Papai os selecionava, Mamãe os pintava em tabuletas e ambos escolhiam juntos, com capricho, as árvores e os cantinhos onde seriam expostos.
Passear pelo sítio era como entrar numa pequena antologia sentimental. Com o tempo, as tabuletas foram sumindo. Algumas queimaram junto com as suas árvores nos incêndios que, há alguns anos, eram comuns na região e que, apesar dos esforços do pessoal lá de casa, eventualmente atingiam partes do terreno. Outras foram vítimas do tempo.
A maioria, porém, desapareceu sem deixar vestígios.
O poema devolvido chama-se "Casa antiga", foi escrito em 1964 por minha madrinha Cecília Meireles e dedicado a Nora e Paulo Rónai:
Forrarei tua casa já tão antiga
Com um papel que imita as paredes de tijolo.
Ficará tão lindo como se estivéssemos na Holanda.
Forrarei tua casa assim, mas por dentro,
De modo que, longe de todas as vistas,
Será como se estivéssemos ao ar livre, no jardim.
E deixarei uma parede quebrada.
Não uma porta, não uma janela:
Uma parede quebrada por onde passe um ramo de goiabeira
Carregado de flores e vespas.
Parecerá que estamos sonhando,
E estamos sonhando mesmo,
E parecerá que estamos vivendo,
E a vida não é mesmo um sonho impossível?
Dentro do pacote, junto com a tabuleta, veio um bilhete escrito em letra pouco cultivada, na folha arrancada de um caderno. Dizia o seguinte:"Quando era menino achei este quadro lindo, pelo poema. Peço perdão por ter roubado este quadro. Hoje me converti a Jesus e sinto necessidade de devolvê-lo. Sinto-me envergonhado pela minha atitude. Mas, era só um menino. Peço perdão a Deus e a vocês. E que vocês também consigam perdoar".
Não havia nome, assinatura, nada.Ficamos com muita pena, pois teríamos gostado de conhecer e abraçar o menino antigo que roubou o poema, e o homem correto que o devolveu, passados tantos anos.
Mal sabe ele que nos deu um presente muito maior do que o que levou: Um mundo onde crianças roubam poemas e adultos os devolvem é um mundo de beleza e de esperança.



Texto enviado por Krika

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sábado, 7 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher

8 de março – Uma data de muitas histórias



Era uma vez uma mulher... duas mulheres.... talvez, 129 mulheres. A data era 8 de março de 1857; mas bem podia ser de 1914 ou (quem sabe?) de 1917. O país era os Estados Unidos – ou será Alemanha? Ou a Rússia?

Tantas datas, tantos lugares e tanta história revelam o caráter, no mínimo, instigante da seqüência de fatos que permeiam a trajetória das pesquisas em busca da verdadeira origem da oficialização da “data de 8 de março” como o Dia Internacional da Mulher. É instigante, e curiosa, talvez porque mescla fatos ocorridos nos Estados Unidos (Nova Iorque e Chicago), na Alemanha e na Rússia: mescla, também, greves e revoluções; reivindicações e conquistas. E nos apresenta datas que variam do dia 3 de maio (comemorado em Chicago em 1908), ao dia 28 de fevereiro (1909, em Nova Iorque) ou 19 de março (celebrado pelas alemãs e suecas em 1911).

A mais divulgada referência histórica dessa oficialização, na verdade, é a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em Copenhague, Dinamarca, em 1910, da qual emanou a sugestão de que o mundo seguisse o exemplo das mulheres socialistas americanas, que inauguraram um feminismo heróico de luta por igualdade dos sexos. Na ocasião dessa conferência, foi proposta a resolução de “instaurar oficialmente o dia internacional das mulheres”. Contudo, apesar de os relatos mais recentes trazerem sempre a referência ao dia 8 de março, não há qualquer alusão específica a essa data na resolução de Copenhague.

É bem verdade que o referido exemplo americano – de intensa participação das mulheres trabalhadoras – ganhou força com o evento de um massacre “novaiorquino” extremamente cruel, datado de 8 de março de 1857. Nesta data, um trágico evento vitimou 129 tecelãs. Era uma vez uma mulher... duas mulheres.... talvez, 129 mulheres : dentro da fábrica em Nova Iorque onde trabalhavam, essas mulheres foram mortas porque organizaram uma greve por melhores condições de trabalho e contra a jornada de doze horas. Conta-se que, ao serem reprimidas pela polícia, as trabalhadoras refugiaram-se dentro da fábrica. Naquele momento, de forma brutal e vil, os patrões e a polícia trancaram as portas e atearam fogo, matando-as todas carbonizadas.

Fato brutal! Mas há quem considere como mito a correlação única e direta da tragédia das operárias americanas com a data do Dia Internacional da Mulher, simplesmente por não haver documento oficial que estabeleça essa relação.

Alguns estudiosos encontram uma correlação “mais confiável” em outros fatos históricos. Descrevem, por exemplo, como uma relação mais palpável, a data da participação ativa de operárias russas, em greve geral, que culminou com o início da revolução russa de 1917. Segundo relato de Trotski (História da Revolução Russa), o dia 8 de março era o dia internacional das mulheres – o dia em que operárias russas saíram às ruas para reivindicar o fim da fome, da guerra e do czarismo. “Não se imaginava que este ‘dia das mulheres' inaugurasse a revolução”.

Com essas duas, ou com outras tantas histórias, materializam-se, em face da diversidade de interpretações, nossas interrogações sobre a verdadeira origem do Dia “8 de março” Internacional da Mulher. Contudo, é impossível não reconhecer o vínculo entre as datas das tragédias e vitórias relatadas com a escolha da data hoje oficializada. A aceitação desse vínculo está registrada em textos, livros e palestras da atualidade. E, com certeza, essa aceitação não decorre exclusivamente de documentos oficiais; decorre principalmente de um registro imaterial – a memória de quem reconhece e jamais esquece as recorrentes e seculares reivindicações femininas por justiça e igualdade social.

E, assim, voltamos ao começo: Era uma vez uma mulher... duas mulheres.... talvez, 129 mulheres. A data era 8 de março de 1857; mas bem podia ser de 1914 ou (quem sabe?) de 1917 . E voltamos a esse começo mesmo para concluir que o fato de o dia internacional da mulher estar, ou não, oficialmente ligado a esse ou àquele momento histórico não é o foco mais significativo da reflexão que ora se apresenta. Afinal, o dia 8 de março universalizou-se – isso é fato . E universalizou-se pela similaridade dos eventos mundiais relacionados à luta das mulheres.

Hoje, sem sombra de dúvidas, a data é mais que um simples dia de comemoração ou de lembranças. É, na verdade, uma inegável oportunidade para o mergulho consciente nas mais profundas reflexões sobre a situação da mulher: sobre seu presente concreto, seus sonhos, seu futuro real. É dia para pensar, repensar e organizar as mudanças em benefício da mulher e, conseqüentemente, de toda a sociedade. Os outros 364 dias do ano são, certamente, para realizá-las.




Texto publicado em 2004 pelo Congresso Nacional em:
http://www.senado.gov.br/anodamulher/destaques/datas.asp


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Quando comecei a me interessar pela internet, e tive condições de fazê-lo na década de 80, ancorei numa sala de bate-papo do portal Terra.


Lá fiz amigos e amigas que guardo com carinho ainda hoje. São tantos e tantas. Com alguns e algumas perdi contato. Outros e outras já partiram para o andar de cima.


Dentre estes está um poeta, que postava lá sonetos maravilhosos. Fizemos amizade, sem nunca nos encontrarmos e sem saber onde um ou outro vivia. Ele enviava-me por e-mail alguns de seus sonetos apenas pelo prazer de saber-se apreciado e agradar. Guardei-os com zelo e nunca os divulguei a espera que um dia seu projetado livro saísse do prelo. Acredito que isso nunca ocorreu, pois ele faleceu no começo de 2005.


Quem me ler hoje e vivenciou esse tempo há de lembrar-se do Vagabundo – O Poeta da Rua. É com um poema dele, que recebi em 22 de fevereiro de 2003, que homenageio a todas as mulheres no dia a elas dedicado. Especialmente às mulheres que fizeram e fazem parte da minha vida.



MULHER


Vagabundo – O Poeta da Rua


Deus quando te fez pensava no pecado
Moldando tuas curvas, chegou à perfeição
Consegues, com um sorriso, mudar o Universo
Consegues, com teu ventre, imitar a criação.

És tão importante em nossas vidas
Que às vezes me pergunto com ironia
- O que seria eu, um poeta vagabundo
Sem musas inspirando minha pobre poesia?

Exalto, sem medidas, teu poder de sedução
Carrega-nos no colo, faz-se mãe, mulher, amiga
E forte como és, domina um coração.

Nada existe igual e Deus disso sabia
Pois quando Te criou, o mundo fez mais belo
E trouxe, aos poetas, a razão da poesia.

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domingo, 1 de março de 2009

Sugestões para a reforma ortográfica


O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA

Desta vez uma crônica bem “mineira” para nosso divertimento.

Sugestões para a reforma ortográfica

João Camilo de Oliveira Torres

É tão difícil ver a língua oficial mudar, ter essas teias de aranhas removidas, que temos que aproveitar esse impulso (que já virou novela, já que dura mais que uma década) desse nosso esforço para que reconheçam o brasilianês e deixemos de lado esse português, idioma de um velho Camões que seus patrícios nem parecem mais recordar. Então, pensei, que ao invés de se preocuparem com coisas com as quais nunca nos preocupamos, como essa conjunção de vogais (o bom mineiro já sabia, sumir com letras é sabedoria) deveríamos reclassificar as palavras.

Em Minas, Trem é um pronome. João também já deveria deixar de ser substantivo e virar um pronome pessoal, tem João para todo lado. Para dar minha contribuição do gênero ficção científica para as gramáticas do futuro, vou ser o primeiro a cuidar da conjugação do verbo coisar.

Sim, verbo, pois todo mundo já viu mãe gritando para os meninos na rua “vem, cá meu filho coisar essa calça aqui!”. Portanto, é verbo vivo e pronto!
Primeiro o Presente: Eu coiso, Tu Coisas, João/Ela coisa, Nós coisamos, Vós coisastes, Eles/Elas coisam. Perfeito, vai em frente e sai usando.
O Pretérito perfeito (que devia mudar para Pretérito que deu para fazer) : Eu coisei, Tu coisaste, Ele/ela: coisou, Nós coisamos, Vós coisastes, Eles/elas coisaram.
O pretérito imperfeito (hoje muito em voga): Eu coisava,Tu coisavas, Ele/Ela coisava, Nós coisávamos, Vós coisáveis, Eles/elas coisavam.
O pretérito-mais –que-perfeito (meu favorito.): Eu coisara, Tu coisaras, Ele/Ela coisara, Nós coisáramos, Vós coisáreis, Eles/Ela coisaram.
O Futuro do presente: Eu coisarei, tu coisarás, Ele/elas coisará, Nós coisaremos, Vós coisareis, Eles/Elas coisarão. Futuro do pretérito: Eu coisaria, Tu coisarias, Ele/Ela coisaria, Nós coisaríamos, Vós coisaríeis, Eles/Elas coisariam. O subjuntivo fica para quando eu coisar uma idéia de transformar essa coisa em algo irregular. Quem sabe coisante... mas isso é coisa de Cavaleiro Andante e já tem uma voz dizendo “Coisa isso para lá, cabloco!” e vou-me satisfeito com minha imortal contribuição para a fala dessa nação. E para as academias, que pensam nessa língua que não se fala nem aqui nem nas terras de lá, fica a obrigação de mudarem algo que a gente já sabe falar melhor e irritar português.
(Postado por Krika)



 
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