sexta-feira, 21 de maio de 2010

Um Manotaço*

Nasci num rancho pequeno,
De taboinhas, sem soalho,
Sou xucro, não nego a raça.
Me criei entre a fumaça
Do entrevero e do borralho.


Tive a sorte de ser filho
De uma Xirua mui guapa.
Mesmo nas secas, com fé
A mãe fazia o café
Torrando trigo na chapa.

Por nunca aceitar cabrestos
E identificar quem eu sou,
Levo moldados nos traços
Os sinais dos manotaços
Com que a vida me marcou.

Um dia sai no mundo
Para cumprir minha sina
E de todas as andanças
Só me sobrou de lembrança
O desamor de uma china.



De novo a vagar no Pampa
Entre estâncias e povoeiros
Ao me guiar pelos astros
Pisava no mesmo rastro
Do Tiaraju Missioneiro.

Por ser a mala pequena
Para caber os meus trapos
Não pude levar de muda
Quatro livros do Neruda
E os meus discos dos Farrapos.

Agora que o frio da geada
Já me branqueou as melenas
Não mais me paro entojado
Pois me quedei, pealado
Pelo olhar de uma morena.

Campeio agora um recanto
Pra fincar minha bandeira
Erguer um ranchito com esmero
E aposentar meus aperos
No sopé da Mantiqueira.


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*Manotaço: Golpe ou agressão de um animal, desferido com as patas dianteiras.

Estes despretensiosos versos campeiros nasceram de uma leitura errada que fiz. Entendi “um manotaço” quando estava escrito “uma nota só”.

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Imagens (na sequência):

http://bp.blogspot.co/

http://www.moocaonline.com.br/

Paula Romano em: http://www.crescentefertil.org.br/

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10 comentários:

Torrone disse...

fantástico!

fá... disse...

___desprentensiosos versos campeiros, que me trouxeram no cheiro do café, um tanto do que nem vivi.
não nos cabem cabrestos, isso é fato, e os manotaços, mesmo que n'alma, trazemos com cansaço.
sem nunca desistir...rs*
,
querido camaradinha, que todas as leituras "erradas" enveredem por campos assim. saboroso seja o erro!!
viu?
.
um beijo em nota só.
.
rs*

a xirua dos olhos... disse...

bem pertinho do sopé
há alguém a lhe esperar
alguém que lhe tem na lembrança
que vive dessa esperança
que esse dia há de chegar

;o))

fá... disse...

___coisa mais querida essa xirua...rs*
.
.

Lu disse...

Mas bahhhhhhhh tchê!
Gostei!

Qualquer índio, que tem no sangue as ganas, a alma abençoada e santa, mesmo de brancas melenas, quando entoa seu canto, fala das coisas do coração!

uix!...até me inspirou...kkkkkkkk

Essa xirua tá se saindo melhor que encomenda...rsss

Beeeeeeeeeeeeeeeeeijo, nus dois!

Quasímodo disse...

Obrigado, Torrone. Estive por lá, também. Por enquanto só de passagem.

Abraço.

Quasímodo disse...

Fá, Notinha;

Tem dias em que até uma leitura errada, quase banal, serve de mote para o desenvolvimento de um determinado tema.

Tem outros em que estamos diante de um fato ou imagem exuberantes, e por mais que forcemos a massa cinzenta, não sai nada.

Deve ser uma espécie de síndrome dos escribas aprendizes.

Tens razão: essa Xirua é especial.

Beijo grande.

Quasímodo disse...

Xirua;

Pois sei que tem. E os dias veêm um após outro.

Beijo.

Quasímodo disse...

É bem isso, Lu.

Como já falei para a Fá... Tem dias que estamos uma taipa.

Mas tem outros em que fazemos coisas que pensamos terem ficado razoáveis.

Beijo ne tu... e no "ti"

krika disse...

Amigo, gostei da mantiqueira no final....Algo impar não?
Parabéns pelas trovas...

 
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