segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Três poemas para um (triste) regresso

(Deu saudade deste canto e dos amigos que aqui vinham. Talvez voltem, talvez não. Talvez eu volte, talvez não)


            - I -

Maria, traga-me os panos,
embebidos com arnica.
Doem-me os cortes e os lanhos,
e a sede me sacrifica.
Quero beber o teu beijo,
cicatrizar com teu pranto.
Acenda um rolo de cheiro,
para agradar o teu santo.
Depois deita-te comigo
e finja que está cansada.
Encosta tua coxa nua
na minha peluda e magra.
Porque amanhã bem cedinho,
a rebelião continua.

                                                                              - II -
Acorda, poeta;
beija de leve
o seio da tua menina,
com quem nesta madrugada,
pichaste um verso do Leminski

no muro da Praça Quinze.

Passe um café bem forte,
e lhe sirva com mel
e pinhão de chapa.
E, antes da nova passeata,
procura terminar o teu poema
antes que a tropa,
pise o papel
e inutilize a pena.

                                                                                       
                                                                                                        - III -
Ora, veja só, Capitão, minha medalha;
Está um pouco opaca, desbotada.
Tem a marca de um beijo na serrilha, 
E um furo de bala no reverso. 
Ganhei à ambos, Capitão, batom e chumbo,
Quase que na mesma metralhada,

No instante em que de cá, desta fortilha, 
Meu amor reabastecia com meus versos,
O perfume que soprei para o seu mundo.

2 comentários:

Lu disse...

Corcundinha querido!
Bom saber que continuas escrevendo.
Ah, e que lindo!
Beijo!

uns... disse...

teus versos... ah os teus versos...

 
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