segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Censurem Branca de Neve

Repercutiu e repercute ainda nos meios acadêmicos, nos jornais e nas redes sociais da internet, a polêmica a respeito da pretensão de barrar a distribuição, pelo governo, dos livros de Monteiro Lobato “Caçadas de Pedrinho” e “Negrinha”, por suposto conteúdo racista e sexista. O Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) pede que as obras deixem de integrar o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), que distribui livros a bibliotecas escolares do país.

Sem entrar no mérito do descompasso histórico entre a obra de Lobato, a visão de seu tempo e a visão da reformulação do ensino de história no país, Letras da Torre quer contribuir, de forma proativa, com essa zelosa e meritória cruzada revisionista, para o bem dos valores morais da sociedade brasileira e dos preceitos basilares da família.

Trata-se de incluir no INDEX de obras malditas, do livro “Branca de Neve e os 7 Anões”, história compilada, por fontes orais, pelos irmãos Grimm.

Denota-se na obra, o seu caráter nitidamente excludente e preconceituoso já a partir do título.

Ao definir a heroína como “branca” e “alva como a neve” deixa de contemplar a miscigenação característica da formação do povo brasileiro, ignorando a contribuição histórica dos negros, dos índios, e das suas derivações por descendência, como os pardos e mamelucos.

Ainda no título, a palavra “anão” é politicamente incorreta, podendo ser considerada bulling por ofensiva a uma característica genética de seres humanos com estatura inferior à dos homens em geral.

No decorrer do texto os autores descrevem o cabelo da menina como “preto como o ébano”, privilegiando as diospiráceas em detrimento das demais espécies vegetais.

A invejosa Rainha Má planejou o assassinato da menina e para isso associou-se com um caçador dando-lhes ordens para que a matasse e lhes trouxesse o coração e o fígado como prova de sua morte. E são essas bizarrices que servem para nossas inocentes crianças lerem.

O caçador, no entanto, desobedeceu a ordem da Rainha, matando um veadinho em lugar da menina, o que caracteriza caça clandestina de espécies exóticas.

Levados à Rainha o coração e o fígado do veadinho, esta os comeu com alegria pensando tratar-se dos órgãos de Branca de Neve em um inequívoco ato de canibalismo.

Branca de Neve, depois de vagar pela floresta, entrou numa casinha na ausência de seus moradores, infringindo o Artigo 150 do Código Penal Brasileiro, que trata de invasão de domicílio.

Já no interior da casa invadida, a protagonista, de apenas sete anos bebeu um gole de vinho de sete copos, contrariando o Artigo 81 – II da Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente.

Os autores afirmam que os anões extraíam minério da montanha, porém não esclarecem se tinham autorização do IBAMA para essas escavações.

Quando os anões voltaram à casa, encontraram uma das camas ocupada pela menina. Então um dos rapazes passou a noite dormindo uma hora com cada um dos seis outros indivíduos num evidente ato de pederastia de alta rotatividade. E tudo isso na presença de uma criança de apenas sete anos!...

Na manhã seguinte, os anões propuseram à Branca de Neve que ficasse morando com eles. Em troca ela teria que cuidar da casa, fazer comida, lavar e passar roupas, coser e tecer meias e manter tudo muito limpo e em ordem. Dois crimes podem ser deduzidos deste parágrafo: Trabalho escravo, por não haver menção a qualquer remuneração pecuniária ou registro em carteira; e trabalho infantil, já que a menina, repito, tinha apenas sete anos.

A Rainha Má, ao consultar novamente o espelho mágico (uma espécie de Zé Dirceu do castelo) ficou sabendo que Branca de Neve continuava viva. Então por três vezes consecutivas planejou o seu assassinato, e em todas as vezes disfarçou-se de várias maneiras, pintando o rosto, vestindo trapos, descaracterizando-se portanto, com o intuito de enganar, ação passível de enquadramento no Artigo 299 do Código Penal Brasileiro, figura criminosa tipificada como “falsidade ideológica”. Ao usar o cinto de cetim, e com ele tentar estrangular pela barriga a menina, em um segundo momento enganando-a com um pente envenenado, e, por último com uma maçã igualmente envenenada, a Rainha utilizou-se de um meio fraudulento para induzir alguém a erro, ato criminoso enquadrável no Artigo 171 do Código Penal.

Com a pseudo morte da menina, os anões fizeram para ela um esquife de cristal. Ora, dada às condições precárias da localidade, atrás de sete montes, à rudimentaridade dos seus conhecimentos e instrumentos de trabalho, como poderiam os anões terem produzidos placas de cristal com tal simetria e resistência que pudesse suportar o peso de um corpo desfalecido? Certamente essas placas de cristal foram trazidas de algum reino vizinho. Teriam elas passadas pelo crivo da alfândega? Ou teriam sido contrabandeadas ilegalmente? Essas indagações básicas nos levam a um outro questionamento: para onde estaria indo o ouro extraído das minas, já que a única referência de seu uso estava na gravação na tampa do caixão? Essas evidências nos remetem a supor que se praticava ali, de forma continuada, o envio ilícito de riquezas para algum paraíso fiscal.

Um jovem príncipe, tendo-se extraviado durante a caça na floresta (mais um crime ecológico e um desrespeito à lei do desarmamento?) chegou à montanha onde Branca de Neve repousava dentro de seu esquife de cristal e ficou deslumbrado com a beleza da falecida. Tanta birra fez que os anões concordaram em deixá-lo levar o caixão, com a promessa de colocá-lo na sala de honra de seu castelo. Tal deslumbramento, tal paixão por uma defunta não caracterizaria uma psicopatologia, uma perversão sexual definida por necrofilia?

Já no castelo, um criado desastrado que conduzia o caixão tropeçou numa raiz de árvore e, com o solavanco a menina desengasgou da maçã envenenada, voltando à vida. O príncipe necrófilo não perdeu tempo; propôs logo o casamento.

E então se preparou uma grande festa, para a qual foram convidados os anões e também, pasmem, a Rainha Má, que ignorando a identidade da nubente, se enfeitou toda para as núpcias. Mas o seu destino já estava traçado.

Quando fez a entrada no castelo, perante a corte reunida, já estava sobre um braseiro um par de sapatos de ferro, que havia ficado a esquentar em ponto de brasa. Os anões apoderaram-se dela e, calçando-lhe à força aqueles sapatos quentes como fogo, obrigaram-na a dançar, a dançar, a dançar, até cair morta no chão.

Crime hediondo, premeditado, qualificado, com requintes de crueldades medievais.

Em seguida, realizou-se a festa com um esplendor jamais visto sobre a terra.

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Diante desse relato, mais que às obras de Monteiro Lobato, urge que providências sejam tomadas de imediato, para a preservação da moralidade e da decência, dentre as quais sugiro, sem prejuízo de ações complementares que se fizerem necessárias:

1 – Como medida cautelar antecipatória, sejam retiradas de circulação todas as edições, publicações, versões, inclusive a cinematográfica realizada pelos Estúdios Disney, da história de Branca de Neve e os Sete Anões.

2 – Investiguem-se o cometimento de crimes ecológicos praticados pelo caçador, pelo príncipe e pelos sete anões.

3 – Prisão preventiva (post mortem) da Rainha Má por diversas tentativas de homicídio.

4 – Investiguem-se, no âmbito da Receita Federal, a possível evasão de divisas praticada pelos sete anões.

5 – Enquadrem-se os sete anões, o príncipe, Branca de Neve e todos os convidados participantes do casamento por formação de quadrilha para o cometimento de crime hediondo, decretando-se a prisão dos envolvidos sem direito a sursis ou habeas corpus.

E, por último, mas não menos importante: Constitua-se, no âmbito do Congresso Nacional, uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPIm), com a finalidade de investigar o possível envolvimento, nessa trama macabra, de membros do alto escalão do Governo.

Ou do PT.

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11 comentários:

Anônimo disse...

ara num salvei...buááá´

repetindo:
_ esse é meu irmão gêmulo de coração , sabe ler.....amei amei...mas tou preocupada, com algo.....que fazer com todas pessoinhas que em sua infância leram essas obras....tenho uma sugetão...vê ae se vale....tratamento psicológico di grátis , dentro do plano de saúde di grátis também....oferecido pela côrte.

vai junto beju meu

ass: girinha*...ops Neuza Delsin

Quasímodo disse...

Boa idéia, Girinha. Estou pensando em criar uma Petição Pública para tratar do assunto.

Beijo, amiga.

Unknown disse...

faltou levar ao Supremo a história toda, para o voto do Joaquim Barbosa; desde os tempos ancestrais a imprensa é branca, ele dirá...
baita texto, amigo!! abraço

Quasímodo disse...

Valeu, amigo Serapião. A mediocridade está no fato de aterem-se a pecuínhas enquanto os grandes temas são ignorados.

Abraço.

Eliete disse...

Mais uma vez leio uma critica feita por vc com toda leveza e humor que lhe é peculiar, adoro sua maneira de colocar as coisas.
Beijossssssssssss com saudades Lili

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

E o Quasímodo retorna, com força total na crítica ao maior absurdo já visto na história do MEC. É um grande picadeiro!
Um beijo, Clovis,
da Lúcia

Quasímodo disse...

Lili;

A saudade é mútua. Obrigado pelo seu comentário. Fico contente que gosta da minha "maneira de colocar as coisas".

Beijossssssss.

Quasímodo disse...

Lucinhamiga... (Esse tratamento não te faz recordar do Ferreira?...)

Quasímodo às vezes é mordaz. Nem é preciso muito esforço. Atitudes absurdas como essa já são, por si só, uma grande piada.

Beijo grande para ti, amiga.

EKISLIBRIS disse...

Esta crônica está MAGISTRAL! Realmente Monteiro Lobato é um querubim angelical diante de tais horrores praticados pelos personagens do abominável conto dos irmãos Grimm. Com a atenuante de que Lobato é brasileiro e as ideias propaladas pelos Grimm denotam invasão cultural de cunho nazi-fascista.

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Meu querido amigo, não vim aqui desejar feliz natal (mas desejei na mente)...hoje venho para dizer Feliz 2013.
Beijo e abraço, com afeto,
da Lúcia.
Até qualquer dia >>>

Virinha disse...

Antes tarde do que nunca. Achei-te a ti no Google.
Saudadeeeeee

Ass: Virinha

 
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