segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Quando as coisas não funcionam



Perceberam que as postagens no “Letras da Torre” não foram renovadas com a periodicidade costumeira?

E que não respondi aos e-mails?

Fiquei sem Internet.

Aliás, não só sem Internet. Fiquei também sem chuveiro para o banho. O frio congelou a água no cano. Vi-me na obrigação de trazer água de balde, de uma torneira do outro lado da rua. Água de poço artesiano.

Num domingo, tentei telefonar, como sempre faço aos domingos. Num raio de cerca de um quilômetro, todos os telefones públicos foram depredados. Nenhum funcionava. Roubaram os auto-falantes auriculares. Meu celular (tele-móvel, para os portugueses) está sem crédito, como sempre.

Restava-me voltar para casa. Passei antes pelo restaurante para pegar o almoço. Fechado.

Felizmente restaram três ovos na porta de geladeira e óleo para a fritura.

Pensei em praticar violão à tarde. Uma das cordas estava partida e eu não tinha reposição.

Liguei a TV. Funcionava. Queria assistir ao Gre-Nal. Empate sem gols e sem emoções.

Definitivamente não foi um bom domingo.

Isso tudo me levou a refletir sobre o quanto e como as tecnologias se inserem em nossas vidas de uma forma sutil e progressiva. É como quando nos olhamos no espelho todas as manhãs e não notamos o quanto envelhecemos. Parecemos sempre os mesmos.

Vivíamos bem quando não tínhamos Internet, telefone, água encanada...

Os banhos eram de riacho no verão, e de gamela no inverno. Mais tarde veio um galão, que antes fora de óleo de motor, de vinte litros, em que na parte de baixo fora acoplada, através de solda, uma espécie de chuveiro, e que nada mais era que um recipiente menor, cheio de furos de prego. Enchia-se o galão de água morna, e ascendia-o ao alto através de um sistema de roldana. Tinha que ser rápido o banho, sob pena de ficar ensaboado.

As comunicações eram difíceis e demoradas. Uma carta, para a mãe, no interior, demorava dias para chegar e tinha que ser enviada por um próprio, algum visinho que podíamos encontrar na rua. Às vezes ela, a carta, ficava à espera de um portador por meses.

Quando a notícia era mais urgente, se utilizava da “Hora do Recado”, que a rádio local transmitia diariamente, na hora do almoço, e que, os poucos que tinham receptor no interior sempre ouviam e levavam os recados para os destinatário próximos, muitas vezes bastante deturpados.

Hoje, quando alguns dos recursos atuais falham, percebemos o quanto ficamos dependentes deles.

Agora, as coisas voltaram a funcionar. Talvez tenha contribuído para isso um cartaz que colei no quadro lá da empresa e que dizia o seguinte:

“ Teoria é quando tudo funciona e todos sabem o porque.
Prática é quando tudo funciona e as pessoas não sabem porquê.
Neste ambiente reunimos teoria e prática.
Nada funciona e ninguém sabe porque.”
_____________________


Comentário anônimo em “ Espanhóis” da série Culinária Gaúcha postada aqui:

“Ótimo blog, mas não existe cozido espanhol, existe sim o cozido português. Existe o puchero espanhol, a diferença dele para o puchero criolo é o uso do azeite de oliva e do grão de bico. o cozido espanhol é feito com carne suína, enquanto o puchero espanhol é feito com bovina.”

Obrigado, amigo, mas “hay” que aprofundar, pois na fronteira, por onde muito andei, alguns amigos diziam: “Vamos hacer un cocido?...”
_________________

Da amiga Luzia, de Lisboa, recebi uma série de 41 fotos, feitas por ela, de um lugar meio perdido no tempo, mas que muito significa para mim, e que foi matéria na Torre: Figueiredo das Donas.

Muito obrigado, amiga. Foi mais que um presente.
_________________

8 comentários:

Lu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
retalhos disse...

Olá querido amigo. Tenho passado como sempre pelos teus cantos. Encanta-me tua forma de "falar".
Mas essa foi tão clara e de certa forma tão especial, que te agradeço, por ter-me transportado a um tempo em que era feliz e muito.
Fiquei aflita por vc. Domingo nada bom, mas sobreviveu, e isso é bom ( sorrindo).
Meu abraço!

Lu disse...

Caro amigo,
Lamento as falhas tecnológicas, e os transtornos. Mas sem dúvida, essas "paradas", nos fazem refletir...De um modo geral com tudo que temos, não paramos para ver o quanto estamos habituados a certas coisas.

Ah, o tal chuveiro...Nem sei quantas vezes fiquei ensaboada..rs

Lembro de anúncios da rádio.rss
" Atenção senhor Pedro da silva. Comunicamos que sua esposa deu a luz a um robusto garoto. Mãe e filho, passam bem!"

Era uma vida bem diferente de hoje. Pra se fazer comida carecia de lenha(seca), horas de preparo, e muita paciência...O aroma dos cozidos impregnavam nossa alma...E os invernos, eram passados ao lado do fogão contando causos, a luz de lampião. Embora toda a dificuldade, lembramos com saudades. Seria pelo calor da proximidade?

Beijo!

Lu disse...

Exclui o primeiro comentário, pois tinha inventado uma palavra...rss
Desculpe aí, amigo!

Luzia disse...

Que divertido é ler as suas postagens, de facto, quando a tecnologia falha ficamos paralisados!!!

Interessante foi recordar os banhos em que havia um balde de zinco com uma corrente que se puxava, não que tenha tomado banho algum dia dessa forma, mas lembro-me deles existirem na aldeia quando eu era menina, eu achava aquilo uma tecnologia de ponta, embora em casa (em Lisboa) tivesse banheira e chuveiro, aquilo era um fenómeno... Nesse tempo lá na aldeia, davam-nos banho numa selha enorme e era de pucarinho, hoje quando me lembro sinto saudade, e tinha ainda um detalhe, se eventualmente nos portávamos mal, o banho era de água fria! Enfim... hoje são recordações nostálgicas, património pessoal do qual me orgulho de por lá ter passado.

Quanto ao cozido, tanto quanto sei, há o cozido à portuguesa e o cocido español...

Por fim, Figueiredo das Donas. Fui passar o fim-de-semana em São Pedro do Sul, e logo na noite em que viajámos, eu vi numa estrada a placa que indicava o lugarejo, por certo, outras vezes lá houvera passado, mas nunca me despertara interesse. Naquele dia e por saber a sua afinidade com o lugar, decidi ir conhecer a aldeia. É um povoado mínimo, mas tem 3 entradas para a estrada municipal!!! O resto, você sabe, foram as minhas visões sobre o local...
O curioso foi que dentre as fotos que tirei, você escolheu para postar aqui a que eu achei melhor!!!
Grata por estar por aí! Grata por não desistir de mim!

Beijos!
Lusos!

..
.

Quasímodo disse...

Querida amiga dos retalhos. Retalhos de tantas vivências, convivências, encontros e desencontros. Encantos e desencantos.
Tenha a certeza de que não passamos pela vida simplesmente.
Nós a fizemos acontecer.
E é a nossa vida.
Cada pedacinho dela nos levou à fase seguinte.
Tenho procurado tirar lições dos erros e acertos. Oxalá essas lições me tenham transformado num ser humano melhor.
Ter você aqui, neste cantinho, muito me alegra e sinaliza que valeu a pena viver.

Obrigado pelo carinho de sempre.

Quasímodo disse...

Lu;
É delicioso falar de coisas que, descobrimos,outras pessoas passaram.
A hora do banho, para mim, é um momento sagrado, talvez até mais que as refeições. É quando nos despimos das nossas vestes e nos encontramos com o ser que verdadeiramente somos, sem máscaras, sem maquiagens.
Magnífica imagem literária que deixastes lá no Laços. Posso reproduzir aqui? Posso? Então vai:

"Deixando rastros, tal uma vela, pingando promessas pelo chão."

Acho que todos somos um pouco isso.

Quasímodo disse...

Lusa Luzia.

Envaideci-me aqui. Ser o motivo de uma interrupção na viagem, por um lugar que aparentemente não tem atrativos, me deixou muito feliz. O fato de o teres registrado em imagens, mais ainda. E quando soube que o fez por mim...
Escolhi essa foto, dentre as quarenta e tantas, pelo excelente enquadramento e o olhar arquitetônico, que já disse que tens. Você ali capturou mais que detalhes. Capturou história.

Obrigado, amiga. (Embora um dia combinamos que nunca precisariamos nos agradecer).

 
Letras da Torre - Templates Novo Blogger