Puxirão... Sim, era assim que chamavamos.
Puxirão.
Em alguns outros lugares do Brasil, se usa “mutirão”, o que é a mesma coisa.
Segundo o que dizem os dicionários é “ (Gauches-Portugues) auxílio mútuo que se dão aos vizinhos para as lides da roça, ou derrubadas de matos, colheita, raspagem da mandioca para o fabrico da farinha. O puxirão é uma reunião alegre, em que cada um leva os instrumentos que lhe pertencem para auxiliar o seu vizinho, que retribui tal auxílio com festas, bailes, comidas fartas, etc. é um procedimento que está na índole do povo. O mesmo que muxirom.”
A Wikipédia diz que é “(termo de origem tupi de etimologia obscura) é o nome dado no Brasil a mobilizações coletivas para lograr um fim, baseando-se na ajuda mútua prestada gratuitamente. É uma expressão usada originalmente para o trabalho no campo ou na construção civil de casas populares, em que todos são beneficiários e, concomitantemente, prestam auxílio, num sistema de rodízio.
Atualmente, por extensão de sentido, "mutirão" pode designar qualquer iniciativa coletiva para a execução de um serviço não remunerado, como um mutirão para a pintura da escola do bairro, limpeza de um parque e outros.
Para nós, guris da roça, era “Puxirão”.
Se originava de várias formas. Por iniciativa do dono da roça, que, ajudara outros em outros puxirões, ou por iniciativa de algum vizinho que, percebendo a dificuldade momentânea de um amigo, por causa de doença ou outra desgraça, convocava os amigos para ajudar àquele a tirar a roça do mato.
Era sempre uma festa. Já de madrugada chegavam os primeiros roceiros. Alguns faziam uma fogueira no pátio, cantavam o Chico Mineiro e coavam o café na pixorra de lata de óleo Primor. Outros traziam a erva e a cuia para o mate.
Alguns passavam a lima na enchada ou na foice, sentados no travesseiro do lenheiro.
Logo iam par o eito. O morro mudava de cor como se houvesse um fogo a queimá-lo, desde baixo até descambar do outro lado, deixando pequenos pontos verdes enfileirados a balançar ao vento. Milho, feijão, cana.
Pelo meio da manhã, chegavam as mulheres e as moças. Algumas também iam para a roça, ajudar na lida, mas a grande maioria ia para a cozinha e para as panelas. Algumas iam ao galinheiro escolher as penosas mais gordas. Outras preparavam o arroz no panelão de três pernas na trempe do fogo de chão.
Lá no eito, se cantava. Um que outro, por alguma desavença havida no passado, procurava ficar pelas beiras, bem longes um do outro para evitar algum enroscar de foice. As moças chegadas, ombreavam ao lado do pretendente num esforço de demonstrar serventia. Os mais arredios aos calos, buscavam água na sanga.
Mas o eito andava. A roça ficava limpa lá pelas duas horas da tarde. Então se voltava para casa. O almoço estava pronto.
Depois da purinha e da bóia, alguém tirava do saco a viola ou a gaita, e se arranjavam casamentos ou divórcios.
Até um outro puxirão, na vizinhança.
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9 comentários:
Delícia de texto , meu querido amigo, transportei-me...
Obrigada pelo momento...
Bejao pati!!!
Não sei, mas me parece que esses mutirões eram bem divertidos, não? O Chico mineiro sempre me faz pensar no meu paizinho, pq ele sempre toca essa no violão pra gente cantar! E esse texto tb me faz pensar o quanto as coisas simples podem ser significativas e belas. Solidariedade, respeito e ajuda mútua são ótimos valores!
Aliás, saudade de vc, meu querido amigo. Por onde andas? Ainda é meu vizinho aqui ou mudou-se para terras mais cheias de amor? rsrs
Manda notícias quando puder, nem q seja um sinal de fumaça. Chama no msn qdo tu me ver lá, pra ti eu arranjo tempo sempre!
Fica com Deus e até breve!
Bjos
Há sempre qualquer que não se sabia...
Um abraço
Amigão,
Ainda sem net no novo endereço... Vim matar saudades,logo entro em contato. bjus
Amiga dos Retalhos.
Vamos deixando, aqui e acolá, retalhos de nossa vivência.
Abração.
Anne, amiga querida.
Estou por cá, ainda. Mas com uma vontade danada de aposentar meus aperos no sopé da Mantiqueira.
Eram mesmo divertidos os mutirões. A colheita do trigo ou do feijão era feita manualmente. Então se guardava a colheita, ainda sem debulhar, a espera da máquina Eda ou Vencedora, que vinha, puxada por duas ou tres juntas de bois, acompanhada pelos vizinhos. Depois de terminado o serviço naquela propriedade, incorporava-mos à caravana para o auxílio ao roceiro seguinte.
Somente a solidariedade e a ajuda mútua poderia possibilitar a sobrevivência de todos naquele, então, sertão abandonado.
Beijo, amiga. Saudades de ti e da Lu.
Vieira.
Prazer em receber-te aqui. Sigo teus poemas e outros escritos através de nosso amigo comum, o Henrique, da Travessa.
Abraço.
Krika, amiga.
Agora que mudastes o sotaque do "uai" para "ô meu", não vás abandonar os amigos.
Esperamos, ansiosos a tua volta. O Linguagem já é parte da cultura cibernética. Tu faz falta, guria.
Beijo. Volte logo.
Sim,amigo, estarei no speed semana que vem e entro em contato Ô meu!
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