Gosto de esportes. De todas as modalidades.
Já me aventurei até mesmo pelo boxe, até que o Campetti, um menino mau do ginásio me arroxeou um olho.
Gosto de futebol, como a maioria dos brasileiros. Enquanto as pernas me obedeciam, jogava na meia-direita, com a camisa oito. Na época a posição no campo, obedecia alguma lógica. A ponta esquerda era sempre ocupada pelo jogador da camisa onze, a ponta direita com a sete, o centro-avante era o nove. Eu era o oito. Chamavam, na época, de meia-armador. Diferentemente do meia-esquerda, que vestia a dez, o oito, no caso eu, tinha uma dupla função. Precisava voltar para ajudar os zagueiros, inevitavelmente compostos por quatro pesadões, que ocupavam essas posições por falta de opções. Ou por imposição do dono da bola. E depois da bola rebatida pelo paredão, organizar as jogadas de ataque. Era uma tarefa exaustiva, mas na época o fôlego sobrava.
Até fiz alguns gols bonitos e decisivos em torneios pelo interior, quando a partida era dividida em dois tempos de dez minutos cada, e o troféu era uma ovelha miúda. Viva. Ela ficava num cercadinho improvisado na beira do mato. Um pouco preocupada com o movimento e a curiosidade, imagino que se alheava do motivo de tantos marmanjos correrem ao sol de 40 e picos, e os olhares cobiçosos de quem saia do campo vitorioso, até o próximo embate.
Mais que o prêmio, que iria virar um churrasco em algumas semanas, quando se convidava o anfitrião do torneio para uma partida amistosa, agora no nosso campo, o que nos movia era o espírito da competição e a integração que se fazia com as comunidades que encontrávamos na disputa.
Nem sempre eram disputas cordiais. Havia rivalidades históricas, mesmo que na segunda-feira, estivéssemos no mesmo eito, cada um com sua enxada.
O que tem isso a ver com a copa?
Acho que tem tudo.
O esporte, e especialmente o futebol deixou de ser uma atividade lúdica. Passou a ser uma mercadoria. Uma atividade econômica. Os jogadores deixaram de serem jogadores, para virarem empresas cercados de profissionais que os administram. As competições se tornaram mega-eventos. E nos seduzem nos impondo ídolos, para dar audiência às redes da mídia.
Cuba, que nunca teve tradição no futebol, mostrou ao mundo grandes atletas, no vôlei, no basquete ou em competições individuais. E nenhum deles era profissional. Jogavam e competiam pelo esporte, ou quando muito, por uma medalha simbólica, como uma ovelha viva e um nome na história. Alguns, maldosos, dizem que tinham medo do paredón do Fidel. Maldade ideológica.
Nesta copa a empáfia e a tradição foram derrotadas. Restou a Alemanha, para mim a melhor equipe, embora torça pelo Uruguai.
A Argentina soçobrou na megalomania do Maradona.
A grande Itália sucumbiu já na primeira fase, vitimada pela falta de renovação de seus quadros. O mesmo aconteceu com França, agravada pela falta de comando e hierarquia. Ao montarem grandes times em seus países, contratam, à peso de ouro, jogadores de outros países, inclusive do Brasil, fechando as portas para os seus próprios jogadores incipientes. Não lhes dão oportunidade. Então, embora por lá tenhamos o grande Milan, Internacionale, Barcelona, Manchester... na hora de montar uma seleção nacional, o que se vê? Vazio. Os melhores estão fora, representando suas seleções, Brasil, Argentina, Paraguai, Gana.
E esses jogadores, vindos de lá, dessas equipes européias, representaram bem as suas nações? Messi, Cristiano Ronaldo, Kaká (apesar do desconto físico), foram em algum momento decisivos para suas equipes? Melancólicos. Para nós que queríamos vê-los mostrando lances bonitos. Para eles não. São empresas. Valorizaram-se no mercado por terem participado da copa, mesmo que de forma medíocre.
Culpar o Dunga? Seria muito simplismo.
É preciso antes resgatar uma competição por amor ao esporte e não pelos lucros e interesses de quem está envolvido, sejam confederações, países ou jogadores-empresas. É preciso voltar a jogar por uma ovelha e pela honra.
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1 comentários:
é preciso voltar a jogar, nem que seja pelo somente pelo prazer de ter participado. claro, ovelhas e honra são bastante válidas.
saudades das coisas que a ganância pelo dinheiro nos tirou.
tá, dinheiro é necessário, mas será que é mesmo preciso passar com um trator sobre tantas outras coisas?
beijos, querido!
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