Está concluído o trabalho de restauração digital do livro “O Índio Penhái” de autoria do sertanista Horácio Nogueira.
Publicado em 1953 pela Livraria Independente Editora, de São Paulo o livro conta, nas suas 207 páginas, a história de um índio caingangue do sul do Brasil, que teve a sua tribo dizimada por bugreiros brancos, na visão de Canabrava, um engenheiro sertanista que seria, ao cabo e por dedução lógica, o próprio autor.
Quando da realização de um trabalho similar para o livro “Na Trilha do Grillo... através das selvas”, publicado em 1927 pelos Irmãos Ferraz Editores, o mesmo autor prenunciava o lançamento de um novo livro que deveria intitular-se “Sombras de Bandeirantes”. Na busca por esse livro, descobrimos que o título fora alterado para “O Índio Penhái”.
Iniciava aí a nossa busca ao livro “O Índio Penhái” de Horácio Nogueira. Tomamos conhecimento de que havia uma editora em Montevidéu, no Uruguai que possuía o livro em seu acervo, e que poderia produzir, sob encomenda, uma cópia. Logo, porém, os primeiros contatos e tratativas, nos levou a desconsiderar essa alternativa, pois não havia nenhuma garantia sobre a autenticidade da obra, nem quanto a fidelidade de termos e expressões lingüísticas da época, regionais e interioranas, incomuns à língua castelhana. Além de que o nosso intuito era manter ao máximo a sua originalidade, inclusive quanto ao tipo de papel utilizado na época, o que com uma reimpressão não seria possível.
Algum tempo depois, encontramos um anúncio do livro num Site de comércio eletrônico, mas quando nos mobilizamos para adquiri-lo, ele já havia sido vendido. Bem, pensamos: se foi vendido, alguém o comprou... Continuemos, pois!
Publiquei aqui na Torre um pequeno trecho do “Na Trilha do Grillo...” com o apelo para encontrar “O Índio”.
Marta, sobrinha-neta de Horácio Nogueira conseguiu um exemplar do livro, que havia pertencido á sua mãe, Maria Nogueira, sobrinha do autor. Júbilo...
Curto júbilo, pois ao manuseá-lo percebemos que faltavam partes. Mas já era um começo.
No início do corrente ano, ao visitar um casal de amigos, Belkis e Eleni (esta também sobrinha-neta de Horácio) na cidade de Registro, interior de São Paulo, meu instinto de rato de quinquilharias me levou a xeretar num desses quartinhos que todos temos em casa, onde se guardam, ou melhor, se dispensam coisas inservíveis, mas que, por alguma razão, não se quer jogar fora. Lá encontrei outro exemplar do livro, tão ou mais surrado pelo tempo quanto o que já tínhamos. Ficamos radiantes, pois vislumbramos a possibilidade de completar as partes que faltavam no nosso exemplar. Realmente muitas lacunas internas foram supridas, porém a falta do final era comum a ambos. O epílogo estava inconcluso.
Estaleiro... Nova espera.
Eis que, em Fevereiro de 2011 o Sr. Horácio Toledo Nogueira, sobrinho neto do autor do livro (daí o mesmo nome) nos contatou dispondo-se a nos fornecer as páginas faltantes, e, - mundo pequeno – tinha sido ele o comprador daquele exemplar que estava à venda no Site de comércio eletrônico. Gentilmente e com presteza enviou-nos pelos Correios, desde a cidade de Guaraci, norte do Paraná, cópias das páginas finais do livro.
Agora sim, poderíamos nos dedicar ao trabalho.
Não vou aqui me estender em detalhes técnicos. Cabe, porém ressaltar que o trabalho exigiu boa dose de paciência e tempo. Devido ao adiantado estado de decomposição, muitas páginas, inclusive a capa, estavam com partes ilegíveis e em alguns casos faltando pedaços. Foi preciso reconstruí-las baseado na lógica simétrica do texto, copiando e colando caracteres extraídos de outras partes do mesmo texto, para que fossem mantidas as mesmas características tipográficas do original.
O livro foi escaneado com resolução de 300 dpi (pontos por polegada) e convertido em arquivo PDF para tornar acessível a qualquer usuário de computador, já que esse formato de arquivo é lido através do Acrobat Reader, de fácil aquisição e instalação e de custo inexistente.
As páginas foram tratadas como imagens através de um software de tratamento de imagens, ampliadas até 1.500% o que possibilitou tratar cada caractere em nível de dpi, ou seja, a menor fração de uma imagem, garantindo, assim pensamos, um texto limpo, legível e sem máculas, inclusive no interior dos caracteres, mas mantendo a sua originalidade.
Pelo ano de suas publicações, acreditamos que esses dois livros sejam considerados de domínio público, não havendo, portanto, direitos autorais a resgatar. Porém a Lei, à esse respeito é um tanto dúbia e confusa. De maneira alguma pretendemos violar quaisquer direitos porventura existentes. Nosso intuito foi e é o de recuperar uma obra que, pelo desenrolar dos fatos, estaria irremediavelmente condenada a ser apagada da memória histórica brasileira, levando consigo uma boa parte de sua cultura, sua língua e seu povo.
Quanto aos originais, eles estão mantidos em nosso poder e serão oportunamente devolvidos aos seus proprietários, no estado em que os pegamos, inclusive com as anotações manuscritas em suas margens e em seu corpo. A restauração física deles só poderá ser tentada junto à laboratórios especializados mantidos por algumas grandes bibliotecas ou grandes empresas do ramo. Processo certamente custoso.
Solicitamos agora, junto ao MEC – Biblioteca Nacional e o Site Domínio Público, que essas duas obras sejam incluídas em seus acervos e disponibilizadas gratuitamente aos leitores e pesquisadores.
Para isso se efetivar, dentre outras exigências, é preciso constar a biografia do autor, razão pela qual apelamos novamente a quem nos puder ajudar, que nos municie de informações sobre a vida de Horácio Nogueira.
Contatos podem ser mantidos através do endereço ao lado: letrasdatorre@hotmail.com.
Através desse endereço podem também ser solicitadas cópias digitalizadas de ambos os livros (novamente considerando que os tratamos como de domínio público). O envio por e-mail será gratuito e individualizado, dentro das nossas possibilidades e até que os livros estejam disponíveis nos Sites oficiais.
Igualmente, através desse endereço, poderemos tratar da viabilização de trabalhos similares, com outras obras que se queira e que seja possível resgatar.
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Capa Original |
Para finalizar, agradecemos a todos os que nos ajudaram nessa empreitada, à Marta, ao casal Belkis e Eleni e especialmente ao Sr. Horácio Toledo Nogueira, sem os quais este trabalho não seria realizado.
Ficamos, além da sensação de dever cumprido, com a satisfação de, através da Torre e da nossa busca, termos aproximado pessoas, parentes e descendentes de Horácio Nogueira, que antes, dispersos, vagamente sabiam – se sabiam - de suas existências.
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