Foi quando me deparei com esta bonita história.

Figueiredo, do antigo português, é sinônimo de figueiral, e designa lugar onde existem muitas figueiras. (Antenor Nascentes, II, 112). Como laranjal, bananal.
Sua origem como sobrenomes está ligada a uma lenda, ocorrida por volta do ano 783, pela qual consta que os mouros, de cultura muçulmana, invadiram a Península Ibérica, onde hoje se localiza Portugal e Espanha, e dominaram toda a região. Como tributo de conquista, o Kalifa, rei de Córdova (Espanha), passou a exigir do vencido Mauregato, Rei de Leão, um tributo de 100 donzelas anuais. Inconformados com essa absurda exigência por terem formação cristã, os fidalgos e o próprio povo ibérico ofereciam resistência toda vez que os mouros passavam para cobrar as mulheres, mas sempre eram vencidos.
Numa dessas ocasiões, os mouros conduziam seis donzelas para o kalifa e, quando passavam por um Figueiredo (ou figueiral) localizado próximo a Viseu, o fidalgo Goesto Ansur, que se encontrava por ali caçando, investiu contra os muçulmanos e, depois de esgotada a munição, armou-se com um pesado galho de figueira, vencendo-os e restituindo as mulheres à liberdade.
Depois de expulsos os árabes da penínsulas como homenagem por aquele ato de bravura, o fidalgo foi agraciado com o sobrenome de FIGUEIREDO com direito a Brasão de Armas.

Embora a partir daquele ato todos os seus familiares passassem a utilizar o sobrenome, a genealogia dessa família só é encontrada pela primeira vez com o quinto neto deste Ansur, de nome Soeiro Martins de Figueiredo, conforme registros datados de 1211 e 1245, ao tempo dos reis de portugal, D. Afonso II e D.Afonso III.
Depois, encontramos na história do Brasil, o nome de Jorge Figueiredo Correia, escrivão da fazenda real, que, em 1535, foi donatário da capitania de Ilhéus, localizada entre a Capitania da Bahia e a de Porto Seguro.
A família à qual pertencia o donatário Jorge de Figueiredo Correia era chamada, em Portugal, de “a dos escrivães da fazenda”, já que três de seus membros desempenham aquele cargo: Henrique de Figueiredo, seu Bisavô, foi escrivão da Fazenda do rei Afonso V e de D. João II. Enquanto Rui de Figueiredo, avô de Jorge, desempenhou a mesma função no reinado de D. Manoel.
Jorge de Figueiredo nunca veio ao Brasil. Administrou sua capitania através de terceiros. Casou-se com D. Catarina de Alarcão, e um filho deste casal, Jerônimo Alarcão de Figueiredo, foi pagem de D. João III, o que evidencia a intimidade daquela família com a corte portuguesa.
O primeiro Figueiredo de que se tem notícia que efetivamente desembarcou no Brasil, foi Lourenço de Figueiredo, “fidalgo nos livros d'El Rei”, condenado a degredo na Bahia por haver assassinado um cônego, seu parente. Lourenço aqui chegou em fins do ano de 1536, trazido pelo donatário Francisco Pereira Coutinho, na companhia de seu filho de 12 anos, Jorge Figueiredo Mascarenhas que mais tarde casou-se com Apolônia Álvares, filha do lendário Diogo Álvares Correia , o Caramuru.
A partir de então, por ser sobrenome muito comum, tanto em Portugal como na Espanha, muitos Figueiredos vieram para o Brasil e aqui se estabeleceram.
Texto extraído do ESTUDO DA ÁRVORE GENEALÓGICA DA FAMILIA FIGUEIREDO. Autor: GERALDO FIGUEIREDO
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Tendo salvo as donzelas, D. Guestu desposou uma delas, Orélia no seu paço e para ela compôs o seguinte poema de amor, que é, aparentemente, a mais antiga poesia escrita em língua portuguesa:
Trovas de D. Guestu Ansur
"No figueiral figueiredo
a no figueiral entrey,
seis ninas encontrara
seis ninas encontrey,
para ellas andara
para ellas andey,
lhorando as achara
lhorando as achey,
logo lhes pescudara
logo lhes pescudey,
quem las maltratara
y a tão mala ley.
No figueiral figueiredo
a no figueiral entrei,
Vma repricara
infançon nom sey
mal ouuesse la terra
que tene o mal Rey
seu las armas vsara

y a mim sse nom sey.
Se hombre a mim leuara
de tão mala ley,
A Deos vos vayades
Garçom ca nom sey
se onde me falades
mais vos falarei
No figueiral figueiredo
a no figueiral entrei.
Eu lhe repricara
amim sse nom irey,
ca olhos dessa cara
caros los comprarei,
a las longas terras
entras vos me irey,
las compridas vias
eu las andarei,
lingoa de arauias
eu las falarei.
Mouros se me vissem
eu los matarei.
No figueiral figueiredo
a no figueiral entrey.
Mouro que las goarda
cerca lo achei,
mal la ameaçara
eu mal me anogei,
troncom desgalhara
troncom desgalhei,
todolos machucara
todolos machuquei,
las ninas furtara
las ninas furtei,
la que a mim falara
nalma la chantei.
No figueiral figueiredo
a no figueiral entrei"
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Figueiredo das Donas situa-se a cerca de 6 Km de Vouzela, Distrito de Viseu, e a cerca de 10 Km de São Pedro do Sul, pelo que a principal via de acesso é o IP5. A freguesia é, também atravessada pela Estrada Nacional 228.
