domingo, 31 de outubro de 2010

Agora é Dilma



Mantive a Torre, à custos, isenta das discussões políticas partidárias. Como se Quasímodo e Juca Melena fossem seres a viver na distante Paris de Notre Dame ou num rancho barreado num fundo de campo, num mangrulho qualquer, às costas do Uruguai.

Mas não!...

Quasímodo e Juca vivem aqui, neste Brasil varonil dos tempos de hoje.

Viveram, ambos, outros tempos. Trazem as marcas, os sinais dos manotaços das ferraduras dos cavalos dos generais.

Levam tatuados na alma as chagas da fome e o choro dos filhos nas noites frias de desesperança, quando a perspectiva do dia seguinte era uma incógnita.

Seguiram, a cabresto, o voto do senhor da estância, dono da vida e da morte, porque este lhe dissera que peão não tem vontade nem querer. Submissos, obedeceram ao patrão, para garantir-lhes a condição de escravos ignorantes.

Os tempos mudaram. Um operário retirante, com um dedo mutilado por uma máquina de enriquecer os expropriadores da mais-valia, virou presidente. Eu, modestamente, ajudei.

Deixamos de ser gado e aprendemos a ser gente. Juca e os compadres já podem comer o que plantam e colhem. Já encilham seus próprios cavalos e galopam livres, sem cabrestos, por um pampa com menos aramados e maneias.

Os guris só lavam as virilhas na sanga por gosto. Lá no rancho tem luz elétrica e chuveiro com água quente. Para aqueles que changueavam algum eito, para o prato minguado, sem conseguir, veio o Bolsa Família, que a elite chama de assistencialismo. Que seja o nome que for. Mas o fato é que esse arrego, que os críticos não fizeram quando podiam fazer que permitiu que os piás pobres crescessem e pudessem lidar com as letras nas escolas.

Quiseram, de novo, nos engambelar. Encheram-nos de mentiras e ameaças. Fizeram a campanha do ódio. A imprensa criava, divulgava e incentivava os factóides. Mas nossos guris estavam espertos. Lá no rancho tem computador e internet. E principalmente inteligência para separar o joio do trigo. A cada mentira espalhada, vinha um, sem raiva e com coerência, desmentir com fatos e provas.

Foi essa rede que deu a vitória à Dilma. Um grande abraço à camaradinha Fá, e à companheira Mariza, para mim os símbolos maiores de todos os brasileiros que fizeram esse trabalho de formiguinha.

Agora temos uma presidenta. Uma mulher que tenho a certeza zelará pelo nosso bem.

Mas tenha cuidado, Dilma. Já vimos que os urubus estão a postos.
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Tenho um profundo respeito pelas pessoas que, sinceramente, defendem idéias diferentes das minhas.
O que não aguento e já não tenho mais paciência para aguentar, são os papagaios que pulularam aos bandos nesta campanha eleitoral. Gentes que encheram minha caixa postal com baboseiras, desreipeitando a minha modesta inteligência. Gente que cuspiu no prato que comeu.
Vou reavaliar minhas amizades.
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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Gilead Maurício e os Herdeiros do Contestado



Gilead Maurício é natural de Natal, Rio Grande do Norte. Hoje radicado em Florianópolis, Santa Catarina, é administrador e jornalista.

Gilead não é daqueles jornalistas de bancada, de gabinete e estúdio. Não é desses engravatados que a gente vê na tela da televisão, lendo as reportagens que os outros fizeram. Gilead bota o pé no barro, literalmente.

Pessoa de convicção, firmeza de propósitos e comprometido com causas sociais, ecológicas e ambientais. E com a verdade. É o que se depreende com a leitura continuada de suas crônicas, reportagens e cordéis, postados assiduamente em seu blog, que recomendo a ter nos favoritos, como um livro de cabeceira. Eu já o fiz:
http://www.gileadmauriciojornalista.blogspot.com/

“Conheci” Gilead por conta de um questionamento que ele me fez, nesta Torre, um tanto quanto extemporâneo em relação à data em que abordei o assunto A Guerra do Contestado.

Embora em forma de letras, percebi nas entrelinhas certa indignação de sua parte. Queria ele saber em qual fonte me baseei para afirmar que o Monge João Maria era fugitivo do Exército. Tratei de responder-lhe imediatamente, informando a fonte, e acrescentando minha opinião sobre o assunto: de que a fonte se baseara em informações que poderiam ter sido forjadas, para denegrir a imagem dos caboclos revoltos e de seu líder. No que, aparentemente ele concordou.

Devido a essa troca de missivas eletrônicas, vim, a saber, que Gilead estava finalizando os preparativos e detalhes logísticos para realizar uma expedição à região central do conflito. E um detalhe: de motocicleta.

E o fez. Durante dias, estabeleceu seu Quartel General na cidade de Caçador, de onde partia em incursões seletivas aos principais pontos históricos da refrega.

Seu olhar crítico e seu caráter humano se dedicaram a focar, especialmente, as condições sociais dos que ele denominou “Os Herdeiros do Contestado”.

Tenho dito aqui, em mais de uma oportunidade, de que a Guerra do Contestado não teve a sua dimensão histórica devidamente reconhecida, sendo lembrada, às vezes, por alto, nos livros escolares, como um mero entrave ao estabelecimento da República. E insisto: A Guerra do Contestado foi tão ou mais importante que a Guerra de Canudos. Apenas não tivemos aqui, ainda, um Euclides da Cunha para imortalizá-la definitivamente. Talvez, e torço para isso, Gilead seja esse Euclides, nordestino/barriga-verde.

Porque, se depender das autoridades, melhor seria sepultar definitivamente esse episódio, como muito bem Gilead relata em suas memórias da viagem.

Lançou ele, também, um grito de alerta, que já venho fazendo e ao qual me associo: a expansão da monocultura do pinus em todo o meio-oeste de Santa Catarina. Essa árvore de folhas espinhentas e palitosas, de crescimento rápido, importada de alhures de clima frio, tomaram o lugar das imbuias, do cedro e das araucárias, (assunto que abordo em “Os Balseiros...) para alimentar as fábricas de celulose e de compensados, a maioria delas com um pé aqui e o corpo e a cabeça (e principalmente o cofre) lá fora, nas estranjas.

O relato dessa expedição, Gilead publicou em seu blog, especialmente criado para ela. http://herdeirosdocontestado.blogspot.com/

Recomendo que leiam a partir da postagem mais antiga, para melhor entendimento da seqüência.

Não publico fotos hoje, por não ter tido a oportunidade de pedir permissão ao Gilead, que, com certeza não se negaria a dá-la. Elas poderão ser vistas no link acima.
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A Torre já recebeu mais de 30.000 visitas. Obrigado, amigos.
Vamos ter segundo turno para Presidente. Tomara que as propostas se aclarem.
Semana que vem estarei ausente.
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