Mantive a Torre, à custos, isenta das discussões políticas partidárias. Como se Quasímodo e Juca Melena fossem seres a viver na distante Paris de Notre Dame ou num rancho barreado num fundo de campo, num mangrulho qualquer, às costas do Uruguai.
Mas não!...
Quasímodo e Juca vivem aqui, neste Brasil varonil dos tempos de hoje.
Viveram, ambos, outros tempos. Trazem as marcas, os sinais dos manotaços das ferraduras dos cavalos dos generais.
Levam tatuados na alma as chagas da fome e o choro dos filhos nas noites frias de desesperança, quando a perspectiva do dia seguinte era uma incógnita.
Seguiram, a cabresto, o voto do senhor da estância, dono da vida e da morte, porque este lhe dissera que peão não tem vontade nem querer. Submissos, obedeceram ao patrão, para garantir-lhes a condição de escravos ignorantes.
Os tempos mudaram. Um operário retirante, com um dedo mutilado por uma máquina de enriquecer os expropriadores da mais-valia, virou presidente. Eu, modestamente, ajudei.
Deixamos de ser gado e aprendemos a ser gente. Juca e os compadres já podem comer o que plantam e colhem. Já encilham seus próprios cavalos e galopam livres, sem cabrestos, por um pampa com menos aramados e maneias.
Os guris só lavam as virilhas na sanga por gosto. Lá no rancho tem luz elétrica e chuveiro com água quente. Para aqueles que changueavam algum eito, para o prato minguado, sem conseguir, veio o Bolsa Família, que a elite chama de assistencialismo. Que seja o nome que for. Mas o fato é que esse arrego, que os críticos não fizeram quando podiam fazer que permitiu que os piás pobres crescessem e pudessem lidar com as letras nas escolas.
Quiseram, de novo, nos engambelar. Encheram-nos de mentiras e ameaças. Fizeram a campanha do ódio. A imprensa criava, divulgava e incentivava os factóides. Mas nossos guris estavam espertos. Lá no rancho tem computador e internet. E principalmente inteligência para separar o joio do trigo. A cada mentira espalhada, vinha um, sem raiva e com coerência, desmentir com fatos e provas.
Foi essa rede que deu a vitória à Dilma. Um grande abraço à camaradinha Fá, e à companheira Mariza, para mim os símbolos maiores de todos os brasileiros que fizeram esse trabalho de formiguinha.
Agora temos uma presidenta. Uma mulher que tenho a certeza zelará pelo nosso bem.
Mas tenha cuidado, Dilma. Já vimos que os urubus estão a postos.
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Tenho um profundo respeito pelas pessoas que, sinceramente, defendem idéias diferentes das minhas.
O que não aguento e já não tenho mais paciência para aguentar, são os papagaios que pulularam aos bandos nesta campanha eleitoral. Gentes que encheram minha caixa postal com baboseiras, desreipeitando a minha modesta inteligência. Gente que cuspiu no prato que comeu.
Vou reavaliar minhas amizades.
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