domingo, 27 de setembro de 2009

Museu Fritz Plaumann

A matéria desta semana é dedicada à sempre presente e queridíssima Marta, a Uns, que, à sua maneira se dedica a observar, proteger e registrar em fotos, variadas espécies que buscam refúgio e proteção em seu quintal.





Fritz Plaumann

Numa aconchegante casa construída na década de 40, cercada de um bem cuidado e florido jardim, no município de Seara, interior de Santa Catarina, viveu um dos milhares de imigrantes alemães que chegaram ao Brasil no início do século. A história desse teuto-brasileiro seria igual à de tantos outros imigrantes do sul do país que trabalharam duro para garantir as condições mínimas de sobrevivência num ambiente inóspito, não fosse ele Fritz Plaumann, um dos mais respeitados entomologistas do mundo.
Em 70 anos de trabalho dedicado e apaixonado, esse caçador, colecionador e estudioso de insetos conseguiu classificar um total de 17 mil espécies. Dessas, 1.500 eram desconhecidas da ciência.

O trabalho meticuloso desse pesquisador autodidata conquistou o reconhecimento de seus colegas cientistas de todo o mundo, que batizaram 150 das novas espécies descobertas por ele com o seu nome. A maioria delas são besouros, como o Atenisius plaumanni, o Aleiphaquylon plaumanni e o Ormeta plaumanni. Uma homenagem justa. E talvez a mais importante que já recebeu, por ser imorredoura. Mas não foi a única. No início de 1991, recebeu a Grã-Cruz do Mérito Científico da Alemanha, a mais alta condecoração do gênero concedida por seu país de origem. Foi homenageado também pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), que em 1985 concedeu, em sua Reitoria, o título de Mérito Universitário. Foi homenageado pela Assembléia Legislativa com o título cidadão catarinense.
Modesto, um pouco arcado pela bagagem de experiências vividas e pelo peso dos anos, o velho cientista não deixou transparecer qualquer emoção pelo fato de ter emprestado o sobrenome para identificar novas espécies de insetos: "Qualquer espécie nova é motivo de orgulho para mim", dizia, com a humildade própria de um pesquisador abnegado que cumpriu o seu trabalho. E teve o prazer de realizar a sua vocação. Desde pequeno, quando ainda morava em Pressich Eylau, na Prússia Oriental (atual Lituânia), ele se interessava por animais. Insetos, principalmente. O seu maior prazer era percorrer as estantes e bancadas do museu de zoologia do colégio onde estudava e mergulhar nos livros, com gravuras coloridas, que seus pais, Friederich e Hulde, lhe davam de presente. Membro de uma família de classe média alta, teve facilidade para se dedicar aos estudos, até que a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) bombardeou seus sonhos de adolescente, destruiu a sua cidade, ocupada pelo exército russo, e trouxe a miséria da depressão econômica para o seu cotidiano.
A família apostou tudo na esperança de reconstruir a vida em outro continente. Juntou os recursos disponíveis e embarcou no sonho de reencontrar a paz e a prosperidade na terra prometida - o Brasil, onde desembarcou em 1924. Os Plaumann foram os primeiros a chegar na atual Nova Teutônia, distrito de Seara, quase 700 quilômetros distante de Florianópolis. A viagem foi difícil. Os últimos 80 quilômetros tiveram de ser vencidos em lombo de burro. O jovem Fritz, então no vigor de seus 22 anos, se entusiasmou com a mata virgem da região. "Fiquei fascinado com a diversidade da fauna. Na Europa, não imaginava nada semelhante". Todos os pormenores dessa viagem a um mundo novo não estão registrados apenas na memória do cientista.
Tudo está documentado, em minúcias, na autobiografia que ele escreveu por cerca de 70 anos. Ali estão anotadas descrições dos peixes avistados e as condições do tempo durante a viagem de navio para o Brasil - um hábito que Plaumann manteve por toda a sua vida, comprovado pelo lugar de destaque que um barômetro e um termômetro ocupam na sua sala, na casa em Nova Teutônia, município de Seara-SC, onde morou. Ele anotava diariamente, a temperatura, a pressão atmosférica, a precipitação pluviométrica e outras observações sobre o tempo. Essa meticulosidade surpreende sua assistente, Edeltraudt Pierozza. Ela acompanhou o trabalho do cientista por mais de 22 anos, que a tratava como uma filha. Os cuidados com os insetos eram os mesmos, desde que ele chegou ao Brasil: escrever o nome científico, o sexo e a espécie de cada inseto, a mão, numa minúscula etiqueta presa sobre o animal; depois guardar os exemplares em gavetas de vidro, onde a umidade é controlada e bolinhas de naftalina os protegem do ataque de insetos vivos. Com esses procedimentos ele nunca perdeu um único exemplar da coleção, apesar de centenas deles estarem guardados há mais de 60 anos.
Hoje são 80 mil exemplares de 17 mil espécies diferentes, adequadamente preservados em condições ideais de umidade e temperatura, que formam um acervo entomológico (entomologia é o estudo dos insetos) que não poderá ser igualado, pois mais de 70% das 17 mil espécies catalogadas já não existem mais, reunidas no Museu Entomológico Dr. Fritz Plaumann, construído em frente de sua casa pela prefeitura de Seara e pela Fundação Catarinense de Cultura, com o apoio do Banco do Brasil, hoje, um convênio entre a UFSC e a prefeitura de Seara (detentora do acervo), administram o museu e garantem a proteção à grande obra de Fritz Plaumann. São gafanhotos, bichos-pau, moscas, vespas, percevejos cigarras, baratas, abelhas, louva-a-deus, besouros, lavadeiras, neurópteros e borboletas diurnas e noturnas com indescritíveis combinações de cores e tons.
No caso das borboletas, as musas da coleção, o cientista teve a preocupação de demonstrar a evolução completa do inseto, do estado larval ao adulto. Ele adotou esse mesmo critério em relação às espécies importantes para o estudo de doenças humanas, como o mosquito Aedes aegypt, transmissor da dengue e da febre amarela.
Dos exemplares da coleção, a maioria (95%) é da região do Alto Uruguai, que ele começou a explorar assim que se instalou em Nova Teutônia, município de Seara. O começo foi árduo. Tinha de dividir o tempo entre o trabalho duro de amanhar a terra como agricultor, as tarefas de professor (responsável pela alfabetização de várias gerações de habitantes da região) e o estudo de entomologia. Foi também fotógrafo ambulante e comerciante. Em meio a essas atividades, ainda arranjava tempo para enveredar pelas florestas do Alto Uruguai, em busca de insetos. Nessas ocasiões, um cão era o seu único e fiel companheiro. Só na década de 50 ele teve mais tempo e recursos para se dedicar às pesquisas. Nessa época, com um caminhão International ou um jipe importado, rodou pelo Pantanal, pelo oeste e norte paulista e até pelo Rio de Janeiro em busca de novas espécies.
Apesar das dificuldades do início, pela época e pelo local onde vivia, Plaumann conseguiu ser perfeito no trabalho de captura, conservação e classificação das espécies apanhadas nas expedições. A falta de livros de consulta foi solucionada por meio de um intenso intercâmbio, que resultou em grandes amizades e no seu reconhecimento pela comunidade científica internacional. Ele enviava insetos e, em troca, recebia livros e outros insetos. Desse modo, forneceu material para os acervos de museus de 12 países no mundo, entre eles o British Museum, de Londres, e os de Estocolmo, Viena e Belgrado.
No Brasil, o reconhecimento da importância do seu trabalho só ocorreu recentemente. Isso em parte se justifica pelo fato de que ele tinha fama de esquisito, explica a sua assistente Edeltraudt. Reservado, ainda hoje ele fala muito pouco. Só o estritamente necessário. E dificilmente fazia novas amizades. Prefereria gastar seu tempo livre em companhia da filha adotiva Gisela Plaumann, de 57 anos, ou lendo livros, ouvindo Mozart, Bach e Haendel e mesmo executando as obras desses compositores no violino ou no velho harmônio (um pequeno órgão de salão).
Com o passar do tempo, entretanto, esse enérgico mestre-escola passou a ser compreendido e admirado em Seara. Isso impediu que a sua coleção, considerada a mais importante da América Latina, fosse vendida para a Universidade Federal do Paraná, num momento de crise financeira. A prefeitura da cidade comprou a coleção do seu cidadão mais ilustre para montar o museu que leva seu nome.
Fritz Plaumann enfrentou também dificuldades burocráticas e a incompreensão das autoridades na sua carreira de entomólogo. Na década de 70, foi perseguido pelo extinto IBDF -Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, acusado de "dizimar a fauna" porque enviava espécimes de insetos para o exterior. E só pôde continuar o seu trabalho depois de obter licença daquele órgão e da Universidade Federal de Santa Catarina. Um episódio carregado de amarga ironia para quem resgatou, para os acervos de museus de todo o mundo, espécies de insetos que se extinguiram ou que estão ameaçados de extinção, dizimados por desmatamentos, agrotóxicos e queimadas.
Falando num português com forte sotaque alemão, Plaumann diz que não entende por que só agora há esse interesse por métodos de controle biológico de pragas na lavoura. "Primeiro destroem tudo, depois querem imitar a natureza", afirma o cientista, que há 40 anos já defendia essa prática preservacionista. Inconformado, ele se lamenta: "Já perderam muito tempo. Talvez a atual conscientização ecológica tenha despertado muito tarde".
No dia 22 de setembro de 1994, às 9h45min, Fritz faleceu. Plaumann foi considerado pela Californian Academy Of Science como o maior colecionador de insetos da América Latina no século XX.

(O texto acima, feito por Carlos Stegmann, foi retirado da Revista Globo Rural de Junho de 1993 págs. 49, 50 e 51, foi adaptado e adicionado novas informações. Algumas das fotos desta página também são desta mesma revista de autoria de Olívio Lamas, e as outras foram retiradas de folhetos sobre o museu.)
Visitem também o Site www.museufritzplaumann.ufsc.br e obtenham maiores informações sobre visitações, localização e fotos do acervo.
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domingo, 20 de setembro de 2009

20 de Setembro - A Data

O mês de setembro tem uma grande importância para o Rio Grande do Sul. 20 de Setembro é a data máxima do Estado e do nosso povo. Neste dia, em todos os recantos, os gaúchos reverenciam a Revolução Farroupilha - marco da história e da formação política da sociedade rio-grandense - suas causas e ensinamentos.

Data transformada em feriado, por decisão da Assembléia Legislativa, a partir de Lei aprovada no Congresso Nacional, em 1996, que estendeu a mesma possibilidade a todos os Estados, o 20 de setembro é uma data que aprofunda o espírito de solidariedade, de ação unitária e coletiva e de patriotismo do povo gaúcho!

Na tarde de 19 de setembro de 1835, uma força revolucionária de pouco mais de 200 cavaleiros, comandados por Vasconcelos Jardim e Onofre Pires, acampava na Azenha, arredores da capital na época. Sem medir o perigo, o governo manda a seu encontro uma pequena tropa comandada pelo major Visconde de Camunu. Anoitecia quando ocorreu o choque entre as tropas, a primeira linha dos revolucionários contava com o capitão Manuel Vieira da Rocha. Os legalistas foram repelidos, lançando pânico aos restantes que haviam ficado na cidade que após acabaram por aderirem aos revolucionários. No dia 20 de setembro, Bento Gonçalves entrava triunfante em Porto Alegre, vindo de Pedras Brancas (Guaíba), de onde dirigira o movimento. O presidente Fernandes Braga foge precipitadamente e a Assembléia Provincial declara vago o cargo, para o qual é empossado o quarto vice-presidente, o médico Marciano Pereira Ribeiro. Assim tem início à guerra que perduraria por mais 10 anos.

Dia 20 de setembro é comemorado o Dia do Gaúcho ou a Revolução Farroupilha. As causas desse movimento foram:
- idéias de liberdade política e pelo sistema republicano
- abandono das provincias pelo governo imperial
- impostos abusivos sobre o charque, o couro e a terra
- falta de estradas, pontes e escolas
- dificuldade para registrar pessoas físicas
- pagamento de pedágios
- justiça centralizada na Corte

Eis que em 20 de setembro de 1935 se trava o primeiro combate entre farroupilhas e as tropas imperias sobre a Ponte da Azenha em Porto Alegre, com a vitória farrapa que permitiu a tomada da capital. Tem inicio ai a Revolucao Farroupilha.

O movimento se estendeu por cerca de 10 anos, com sangrentos combates. Pela longa duração se constata a garra do povo gaúcho, mesmo com o maior número de soldados e equipamentos das tropas imperiais.

Ante o sucesso da revolta, o império envia Luis Alves de Lima e Silva para apaziguar o Sul. Mesmo com as sucessivas vitórias, um fato ajudou para a paz: o ditador Argentino Rosas (que queria a expansão territorial e interessava-se na prolongação da revolta) mandou emissários propondo aliança com o líder farroupilha, David Canabarro, que respondeu-lhe com uma patriótica declaração:

“Senhor: o primeiro de vossos soldados que transpuser a fronteira, fornecerá o sangue com que assinaremos a paz
com os imperiais. Acima de nosso amor à República está nosso brio de brasileiros. Quisemos ontem a separação de nossa pátria; hoje, almejamos a sua integridade. Vossos homens, se ousarem invadir nosso país, encontrarão, ombro a ombro, os republicanos de Piratini e os monarquistas do Sr. Dom Pedro II.”

Nada mais foi necessário para o acordo e o armistício ser assinado em 28 de fevereiro de 1945.

Não houve vencidos nem vencedores, mas os farrapos conseguiram o que desejavam.
Fica o exemplo para a História de patriotismo e coragem de um povo, em busca de seus ideias e causas justas!
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HINO RIO-GRANDENSE
Letra: Francisco Pinto da Fontoura
Música: Joaquim José de Mendanha
Como a aurora precursora
do Farol da divindade,
foi o vinte de setembro
o precursor da liberdade.
(Estribilho)
Mostremos valor constância
nesta ímpia e injusta guerra;
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda a terra.
Mas não basta p’ra ser livre
ser forte, aguerrido e bravo;
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.
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Fontes:
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domingo, 13 de setembro de 2009

Um ano depois...



Na noite fria de 05 de Setembro de 2008, debatia-me entre as incertezas que a vida me reservaria dali para frente.

A companhia era o ritmado gotejar da chuva fina e a amiga Lu, que do outro lado da tela, pela Internet, se tornara a companheira constante daqueles dias.

Pela enésima vez ela voltou a insistir na necessidade de que eu deveria criar um espaço para meus modestos e despretensiosos escritos.

Depois de despedir-me dela, e como a noite seria longa e sem possibilidade de compromissos no dia seguinte, fiquei a matutar; e por que não?...

Naquela mesma noite de 05 de Setembro, arrisquei-me a conhecer o Blog e foram plantadas as primeiras pedras do alicerce da Torre.

Não tinha ainda este formato. Era daqueles sugeridos como modelos pelo próprio Blog, aquele que tem uma torre como ilustração. Começou assim.

Pouco mais tarde a amiga Anne deu este formato, esta textura e este colorido suave, o que não me canso de agradecer-lhe. Anne é uma menina ao mesmo tempo sutil e romântica, forte e briguenta, sem nunca deixar de ser extremamente carinhosa. Isto é; um ser humano maravilhoso.

Quando iniciei as postagens, não imaginava a dimensão que teriam. Pensava ser apenas um exercício de escritos descompromissados, muito mais para satisfação do ego que qualquer outra pretensão.

Com o passar do tempo percebi que se criava uma expectativa por parte de leitores e amigos da virtualidade. E que não eram tão virtuais assim.

Fiquei com um pouco de medo, pela responsabilidade. Já não me pertencia.

A percepção de que em outras partes se desconhecia a história e a formação do Rio Grande do Sul, suas tradições e costumes, gerou o Juca Melena. Através dele procurou-se divulgar as coisas do sul do Brasil, desmitificando a imagem que em muitos lugares têm do Gaúcho, como um ser grotesco e inculto. Mais uma vez a amiga Lu escolheu a figura, não especificamente para o personagem Juca, mas que serviu com perfeição.

Dentre outras histórias, Juca contou dos balseiros do rio Uruguai, da diversidade da culinária gaúcha, da cobra de fogo, do boi velho, da Lagoa Vermelha, do Negrinho do Pastoreio...

Quasímodo, como anfitrião, limitava-se a elucubrar, de vez em quando, sobre desconfortos existenciais. (Frescuras, diz o Juca...)

Mas também buscou se posicionar em relação a fatos concretos, como o acordo ortográfico, e o resgate da língua portuguesa, procurando sempre não criar polêmicas desnecessárias e respeitando as opiniões diversas.

A certa altura, somou-se à Torre a amiga Krika.

Das Minas Gerais, ela veio dar um contributo importante e coincidente com o que pensa Quasímodo: de que a educação passa necessariamente pela leitura e pela re-criação de valores morais já tão esquecidos.

São dela os textos que são postados em azul, tratando do hábito saudável da leitura e invariavelmente marcados com uma bonequinha deitada, lendo.

Na verdade o espaço foi criado em apoio a um projeto real que ela desenvolve em sua cidade e que pode ser mais bem entendido no seu blog específico, o Linguagem e Afins que consta nos links ao lado.

É dela o selinho que consta no início desta postagem e na galeria da Torre. Obrigado, amiga.

No mais, resta agradecer às mais de 10.000 visitas recebidas durante esse primeiro ano de Torre.

E renovar o convite. Visitem sempre. Terá sempre alguém por aqui. Quasímodo, Juca ou Krika para bem receber-lhes.

Assumimos a responsabilidade de continuar, procurando trazer assuntos de qualidade. E sempre com o respeito às opiniões de todos, sejam elas de aprovação ou não.

Que Deus nos ilumine a todos.
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Cabra - Cabriola

Cabra – Cabriola e suas curiosidades





(Imagem do livro publicado pela Editora Ática.
"O Papo da Cabra Cabriola " de Regina Chamlian
e ilustrações de Helena Alexandrino)

Pesquisando pela net encontrei este comentário de Delaíse Pimentel, interessante, sobre o bicho papão do Nordeste, para nossa reflexão:

Cabras - Cabriolas que nos cercam







“O mais assustador do Folclore - Monstros da Mitologia Folclórica Brasileira” foi o livro que meu filho menor, decidiu comprar em nosso último passeio à Livraria. Deixei-o comprar. Sempre incentivo seu gosto pela leitura. Depois, também fui ler o livro; afinal, precisava conhecer o conteúdo do que meu filho havia lido.
Que surpresa boa!!!O livro conta de uma forma bastante interessante uma história sobre os ‘nossos’ monstros e como eles se organizaram para protestar contra a desvalorização dos ‘monstros nacionais’. Comecei a gostar da leitura.
Na 2ª parte, a autora descreve os monstros. Passa-nos a ficha completa deles: nome, lugar de origem, tribo, brincadeira, qualidade, defeito e mania.
Comecei minha incursão por esse conhecimento e deparei-me com uma figura que me pareceu extremamente familiar: a Cabra-Cabriola.
Vibrei!!! Afinal, havia conseguido um nome para umas ‘figurinhas famosas’ que rondam as relações interpessoais e afetam diretamente a comunicação e a produtividade das pessoas dentro e fora das organizações.
Eis a descrição:“Sua boca é enorme e cheia de dentes afiados. A voz grossa e irritante. De seus olhos, nariz e boca saem chispas de fogo. E, da inocente cabra mesmo, ela nada tem. Ao contrário de outros monstros da mitologia folclórica brasileira, a Cabra-Cabriola é um monstro inteligente, capaz de preparar grandes estratégias só para conseguir entrar nas casas à noite e devorar criancinhas.
Por exemplo, ela pode aprender a imitar a voz das pessoas a fim de enganá-las. Mas é fácil descobrir a armadilha porque ela não tem a capacidade de se transformar.
Embora more no campo, ouve-se falar dela até mesmo no litoral nordestino. Mas sua verdadeira origem é portuguesa.”*‘Que interessante’ - pensei.
Lembrei-me de pessoas, várias, que me passam exatamente esta imagem através de sua comunicação e atitudes: “Sua boca é enorme e cheia de dentes afiados. A voz grossa e irritante.” Boca enorme para falar o que não deve, dentes afiados que deveriam morder a própria língua; uma voz que, independente do tom, sempre é irritante pois nunca transmitem otimismo, apoio, compreensão, mas sempre estão prontas a criticar, reclamar, apontar falhas, apontar pessoas culpadas. É uma voz de individualismo e prepotência, voz de isolamento e presunção. Voz irritante.
“De seus olhos, nariz e boca saem chispas de fogo.”É incrível como as Cabras-Cabriolas que nos cercam disparam chispas de fogo para nos abater com um olhar; com uma respiração mais forte demonstrando deboche ou enfado, com uma palavra que nos queima por dentro tentando atingir seu intento maior: nossa pior reação, aquela que ela - a Cabra - quer que tenhamos.
É uma boca que provoca, debocha, escarnece. É uma boca de onde só saem chispas de fogo. Ah!!! Estas Cabras-Cabriolas nos cercam…
“… a Cabra-Cabriola é um monstro inteligente, capaz de preparar grandes estratégias só para conseguir entrar nas casas à noite e devorar criancinhas.
”Elas têm uma característica que marca os monstros e os vilões: São inteligentes para o mal. Nossa!! Como são altamente estratégicas para prejudicar pessoas. Preparam grandes estratégias para mentir, omitir, deturpar, subornar…. Devorar os que entram em seu caminho, custe o que custar. “Por exemplo, ela pode aprender a imitar a voz das pessoas a fim de enganá-las. ”São experts nestas manobras. Manobras de engano, falsidade, desonestidade. “Mas é fácil descobrir a armadilha porque ela não tem a capacidade de se transformar.” Ôpa!! Monstros e vilões têm que ser descobertos e nunca vencem o bem. Que bom!
Temos uma forma para descobrir quem são as Cabras-Cabriolas que nos cercam: Cabras-Cabriolas não têm a capacidade de se transformar. Não desejam crescer por isso não podem se transformar. Não desejam aprender, logo, não podem se transformar. Não sabem se comunicar, por isso não podem se transformar. Não conseguem conviver com a diversidade e aprender com as diferenças, por isso não podem se transformar.
Não reconhecem virtudes nos outros; não reconhecem ‘outros’, por isso não podem se transformar.
Cabras-Cabriolas só querem assustar. Cabras-Cabriolas só querem ‘cabriolar’ - fazer movimentos sinuosos, sem apresentar nenhum resultado efetivo para o próprio bem e para o bem do grupo.
Só querem aparecer, mas não produzem nada, não agregam nada; não compartilham nada, porque nada têm para compartilhar.
Cabras-Cabriolas não querem mudar. Precisamos conviver com elas, infelizmente. Mas não precisamos satisfazê-las. Elas estão ao nosso redor e vão permanecer; então: mantenha-se firme no controle da sua emoção. Mantenha-se no controle de sua comunicação. Mantenha o seu comportamento em suas mãos, não o entregue às ‘cabras-cabriolas’. Lembre-se: elas não têm a capacidade de se transformar. Nós temos. Elas não querem se transformar. Nós queremos.
Que as impacientes Cabras-Cabriolas que nos cercam, se cansem rapidamente de nós e partam para ‘cabriolar’ em outras bandas! Que a insuportável convivência com seres-humanos, profissionais de alto nível de competência e segurança, que não precisam ‘apagar’ os colegas para conseguir mostrar seu brilho, faça-as correr em disparada para outros lugares.
Aliás..
Que não haja lugares para cabras-cabriolas em nossas vidas e empresas!
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Vi,Li,Gostei e Recomendo

Nome: Cabra-Cabriola
Lugar: Nordeste
Tribo: Monstros
Brincadeira: Cabra-cega
Qualidade: Esperta
Defeito: Impaciente
Mania: ‘cabriolar’ = dar pulos e fazer movimentos sinuosos

Livro: O Mais Assustador do Folclore - Editora: Caramelo
Autora: Luciana Garcia - http://www.edcaramelo.com.br/

Esta autora tem mais dois exemplares sobre o folclore, bem ricos em informações, os quais também uso em minhas aulas.

Krika
Imagens: Ilustrações do livro
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