sexta-feira, 31 de julho de 2009

Aconteceu no Velho Oeste




O texto abaixo, foi gentilmente cedido à Torre pelos amigos do blog Xapecó - O X da Questão http://www.xapeco.com.br/
As palavras (ou expressões) em destaque, são nomes de cidades ou lugares, a maioria do oeste de Santa Catarina.
Servem também como link para o Site oficial do município citado, onde os amigos poderão confirmar que existem mesmo, e poderão também conhecê-los melhor.
O autor é desconhecido, conforme informado pelos administradores do "X".
Aconteceu no Velho Oeste
O Abelardo Luz estava conversando com o Coronel Freitas, numa festa da Dona Irani, esposa do seu Dionísio Cerqueira, quando lhe contou o seguinte episódio:

Estava eu em um Novo Horizonte da vida, resolvi sair para um Descanso. Sentado à porta de um Barracão, deparei-me com uma Formosa menina, que se aproximava. Agradeci a Santa Terezinha, que Progresso. Fiquei no Paraíso, mesmo estando no Sul do Brasil.
Pensei comigo mesmo, Quilombo, não suportei. Ela estava Lindóia, fui abrindo suas lindas perninhas para contemplar sua Anchieta, que Maravilha aquele Capinzal, que Riqueza ter na frente uma Princesa. E com a ponta dos dedos comecei a tocar o seu Vargeão, que Campina da Alegria.
Quase Caibi de costas quando senti um calor no Pessegueiro. Foram aquelas Águas de Chapecó. Ela queria dinheiro, mas eu estava sem Pratas, nem Ouro.

Pensei, ela não
Concórdia comigo, mas disse-lhe vamos lá naquele Arvoredo vai ser ali, Entre Rios, com a Ponte Serrada. Rolamos então por uma Serra Alta até encontrar uma Vargem Bonita. Com delicadeza acariciei Iraceminha. Recebi um tapa na orelha, PAIAL!!!

Ela voltou-se e disse-me tire a Mondai e deu um Saltinho. Não me intimidei e botei sua mão no meu Tigrinho, perguntei Chapecó e ela respondeu Xaxim.

E completou, tens um Palmito que é um Modelo. Pensei… Seara que ela está falando a verdade?
Fui acariciando seu Belmonte ela ajeitou-se e ficou com a Cordilheira Alta. Fui introduzindo o Guatambu na Ilha Redonda. Iporã para todo Oeste. Naquela época eu era um Araçá.
Rezei a Santo Antonio para casar. Hoje não passo de um Erval Velho e só me resta Saudades.
Itá encerrado o assunto.

Abraços

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domingo, 26 de julho de 2009

Diante de mim



Refletindo com Geraldo Eustáquio



Visitem seu site:
http://www.paracrescer.com.br/



Diante de mim


Tendo eu mesmo por testemunha e sob pena de perder o respeito por minha própria palavra eu me comprometo a buscar e a defender qualidade de Vida em tudo o que eu faço e em todos os lugares onde eu esteja.

E me comprometo também a estar presente aqui e agora a despeito do prazer ou dor que este momento me traz fazendo a parte que me cabe do melhor modo que sei, sem me queixar do mundo, nem culpar os outros pelos meus erros e fracassos mas antes me aceitando imperfeito, limitado e humano.

Mesmo que tudo recomende o contrário, eu me comprometo a amar, confiar e ter esperança sem limites nem condições. E embora eu só possa fazer pequeno, eu me comprometo a pensar grande, me preparando com disciplina e coragem para os ideais que ainda espero e vou alcançar, sabendo que tudo começa simples e singelo.

De corpo, cabeça e coração eu me comprometo a crescer sempre muito, de todos os modos possíveis, de todos os jeitos sonhados até que a vida me considere apto para a morte.

Krika

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domingo, 19 de julho de 2009

Gre-Nal e o Centroavante empalhado


Gre-Nal

Hoje foi dia de Gre-Nal.

Para quem mora em outros estados, talvez seja difícil entender a dimensão da rivalidade desse clássico esportivo do Rio Grande do Sul.

Tudo bem que historicamente polarizamos as coisas.

Aqui ou se é Maragato ou se é Chimango, ou se é macho de palitar os dentes com o facão ou se é boiola, ou se é gremista ou se é colorado.

Claro, não tão ao pé da letra assim, ultimamente.

Hoje em dia já se admite o meio-termo.

Pode-se palitar os dentes com um osso fino da costela do churrasco, sem fazer feio. E alguns rebolados estranhos, credita-se à possíveis desvios posturais de coluna, de tanta dedicação aos estudos. Se bem que os birivas tropeavam mulas do Alegrete à Sorocaba e não voltavam rebolando. Enfim...

Mas hoje foi dia de Gre-Nal.

O Grêmio ganhou por 2 x 1, justo quando se comemorava o centenário deste embate tão peculiar. Ontem, dia 18, fez 100 anos do primeiro clássico, vencido também pelo Grêmio pelo modesto placar de 10 x 0.

Isso é história. História que me remete a outras histórias, como esta, que passo a contar.


O Centroavante empalhado


Tio Lorivan é um desses gaúchos sem meio-termos.

Irmão mais novo de minha mãe, e de uma ninhada grande, teve certas regalias na estância. Tinha consciência e usava disso a seu favor. Tirava para si e botava marca, no melhor potrilho recém nascido; escolhia o melhor terreno da lavoura para plantar pipoca; criava porcos-da-índia num cercado de varas de guamirim só para satisfazer sua excentricidade exótica. Que serventia poderia ter aqueles ratinhos lá na estância?...

Trancava as sangas para fazer açudes...

Nada disso ele fazia. Gerenciava!

Convocava a nós, sobrinhos pequenos, sob promessas de não apanhar, para cavoucar banhados, arar a terra, colher pasto na hora certa para alimentar aqueles coelhinhos estúpidos. E aí se algum morresse; e ai de nós se alguma cova de pipoca não vingasse.

Foi um inovador, ele.

Introduziu o esporte bretão, lá naqueles confins de querência, entre vassouras e samambaias das coxilhas, numa época em que nós, bárbaros incultos, só pensavá-mos em caçar passarinho, correr pelos matos e pescar, de vez em quando.

Primeiro ele trouxe uma bola de couro, dura como uma pedra, que dizem, tomou de uns piás da escola.

Nós, os súditos, tinha-mos que mantê-la umedecida com sebo de ovelha.

Era preciso uma técnica especial para chutá-la: arrebitavam-se os dedos e batia com a ponta do pé, pegando mais na sola. Mesmo assim ardia ou destroncava algum dedo.

Tio Lorivan, como dono da bola, do campo, e das bostas de vaca que demarcavam o gol, escalava os times, dentre a gurizada da vizinhança, sempre tendo os mais fortes na sua equipe. De vez em quando ele mudava um jogador de um time para o outro, conforme estivesse o placar.

Foi o primeiro atleta campeiro, pelo que se sabe, a jogar calçado. Não era bem uma chuteira, dessas de marca, que se usa hoje. Ele cortou, à faca, os canos de um par de botas que o tio Severiano tinha deixado a secar ao sol depois de ensebada.

Na ponta, como biqueira, ele pregou um latão dourado, tirado das montarias do vô. Costurou uns meiões de sacos de farinha dos Moinhos Santistas e fez umas caneleiras de ripas de taquara também costuradas, lado a lado, num pedaço de pano em que vinha o açúcar Cristal.

Na primeira apresentação esportiva em que ele se apresentou assim, paramentado, o time dele ganhou fácil. Ele fez vários gols...

Não havia jogador adversário que ousasse enfrentar, numa dividida de bola, aquela fortaleza encouraçada. Alguns jogadores da defesa e até do meio campo, abriam caminho e corriam para o mato ao ouvir o barulho das botas cortadas... plof... plof... plof...

A sua maior contribuição esportiva, no entanto não vingou.

Durante dias de uma semana que chovia, ele se fechou no sótão da casa velha e não permitia que ninguém subisse as escadas.

Escutáva-mos, lá de baixo, o ralar de faca na madeira, barulho de lima afiando, batidas de martelo. Pragas.

De vez em quando ele descia para beber água, suado, nos olhava com olhos ameaçadoramente estanhados...

Bebia a água e subia de novo.

No domingo seguinte não teve jogo. Chovera a semana toda e as carquejas cresceram no campo.

Na quarta-feira, já com sol a pino, recebemos a convocação sutil dele para preparar o palco do espetáculo: “Vão lá, arrancar as carquejas prá domingo, se não quiserem levar uma sumanta de fivela”. Fomos.

No domingo o campo estava bonito. Tinha até goleira com trave em cima das forquilhas que meu irmão mais velho trouxe do mato. As carquejas arrancadas na quarta, demarcavam, já meio amareladas, a linha lateral.

As equipes se formavam naturalmente, conforme o costume; os Fracos (nós) jogavam sem camisa. Os Fortes (eles) jogavam de camisa de cores, feitio e panos variados, a maioria de “riscado”.

Estáva-mos lá, desde as 9 horas, chutando aleatoriamente aquele couro duro, e nada do tio aparecer. Impensável iniciar qualquer partida sem ele.

Lá pelas 9:30 ele surge por entre os sinamomos da mangueira, devidamente paramentado; as botas sem cano do tio Severiano, a meia de algodão, a caneleira de taquara... mas parecia mais ereto, mais duro, mais mecânico...

Os puxa-saco de sempre o rodearam, logo que ele adentrou ao gramado.

Orgulhoso ele apresentou o seu novo invento.

Transformara uma gamela velha da vó em uma peiteira que cobria, desde perto do pescoço até as proximidades do umbigo. Moldara com faca e formão a velha vasilha de cedro, adaptando-a, rudemente, ao seu formato anatômico.

O artefato era preso por duas tiras de couro que passavam pelos ombros, formando um X nas costas e se afivelavam, assim, cruzadas, em outra tira de couro que vinha pela barriga e prendia a gamela na parte de baixo.

Era para “melhor matar a bola no peito”, dizia...

A invenção não vingou.

Primeiro porque não houve, durante o jogo, nenhuma bola alçada na altura adequada para submeter o invento à prova.

Segundo porque a mobilidade do atleta ficou bastante prejudicada, nos lances em que se exigia maior velocidade e penetração na área adversária.

E por último, não se mostrou suficientemente resistente.

Numa falta ocorrida pela meia-direita, à favor do nosso time (os descamisados) o tio foi para a barreira e estoicamente esticou o peito engamelado.

O negro Lúcio tomou distância, arrebitou os dedos e soltou a bomba.

A bola bateu bem no peito do tio, provocando um estalo seco, como o estalo de um porongo verde, jogado na fogueira de São João.

O tio caiu de costas e ficou na grama, gemendo.

Alguém chegou com uma faca e cortou as tiras de couro.

Com a força da bolada a madeira tinha se partido, e na volta, talvez com a queda de costas, ela se contraiu novamente, apertando o couro do peito, desde a teta esquerda até o vazio.

Ficou um vergão feio e saia sangue em algumas partes.

A vó curou com banha de porco, em algumas semanas.

Nunca mais teve jogo de bola.

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domingo, 12 de julho de 2009

A Ausência do Livro


O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA



Vamos “re” Refletir:
Nossa amiga Suely do Ufa!Bloguei!, publicou-o no dia 13/01/09.
Suely diz: “O relato da história de leitura de Maria me deixou bastante sensibilizada… Nele reconheci as histórias de outras Marias, de outros Joões da vida real, com que convivemos nas escolas. Transcrevo o texto na íntegra, para que, a partir dele, façamos uma reflexão sobre como podemos mudar essas histórias.”


A ausência do livro

De Ana Miranda, publicado no número 138, de setembro de 2008, da revista Caros Amigos.


Maria é uma estudante brasileira. Gosta de ler, mas não tem o hábito da leitura. Ouve os pais, os professores dizerem que ela precisa ler, portanto sabe que precisa ler, mas não sabe muito bem o motivo. As escolas fazem um esforço para que ela leia, os governantes adquirem livros aos milhões e sustentam ou criam bibliotecas, mas Maria não lê. Ela já leu alguns livros na escola, orientada pelos professores, foi à biblioteca da escola e leu, teve dificuldades para ler um ou outro livro, mas dos livros “fáceis” ela gostou.

Maria até gosta de ler, porém não lê. Acha que é porque não tem tempo, ou porque não tem dinheiro, porque não sabe se concentrar, porque não entende… Simplesmente não adquiriu o hábito de ler. Não lê direito nem mesmo as placas de rua, as legendas de filmes, erra muito e sua mente fica confusa. Maria tem agora dezessete anos e vai fazer o vestibular, entende as matérias, mas erra nas respostas porque não sabe ler o enunciado. Não sabe ler o que encontra no computador, apenas copia e cola. Não sabe ler nem mesmo aquilo que escreveu. Não sabe escrever uma redação.


Maria cresceu distante dos livros, em sua casa jamais teve uma biblioteca na sala, nem uma pequena estante de livros, nem uma prateleira de livros no quarto, nunca viu seus pais lendo, sua mãe jamais a levou a uma livraria ou a uma biblioteca, nas salas de aula Maria jamais teve uma estante de livros, os passeios escolares jamais foram a uma livraria ou biblioteca ou editora ou impressora de livros, nos fins de semana a escola lhe oferece esporte, jamais Maria teve um horário de leitura no seu cotidiano, nem na escola nem em casa, ouviu a professora lendo livros para as crianças, encantou-se com contadores de histórias, mas jamais lhe ensinaram o hábito de ler e escrever diariamente, embora lhe tenham ensinado o hábito de tomar banho, escovar os dentes, amarrar os sapatos, fazer o dever de casa cotidianamente.


Maria percebe um esforço dos professores para que ela leia livros, mas o livro é retirado de sua vida, sua cartilha não tem o formato de livro, na escola os livros têm formato de apostila, mais parecida com revista, na igreja ela recebe um folheto. Maria nunca vê alguém lendo, o livro está fora de seu percurso diário, ela não sabe nada a respeito do livro, não sabe distinguir um bom livro de um livro ruim, os professores dão um tema que Maria vai pesquisar na Internet, e não exigem a leitura de um livro, um capítulo que seja, os professores dizem que é preciso ler, mas Maria recebe apostilas, jornais, onde se encontram os caminhos para evitar a leitura de um livro, que reproduzem trechos ou resumos de livros, e perguntas e respostas, o livro jamais fez parte da vida de Maria, ela não tem nenhum amor pelo livro, nem mesmo apreço, ou interesse, o livro não lhe diz nada, apenas ela sabe, de forma meio vaga, que precisa ler…


“E, então, o que fazer para que o livro esteja presente na vida de nossos alunos?
Quais são as ações para a construção de uma escola leitora? Deixe aqui tua contribuição.”



Eis a minha contribuição:


Trouxe de volta este assunto porque também queria encontrar soluções... Obviamente todos nós deveríamos ter o hábito de leitura, e consequentemente, sendo pais ou professores deveríamos dar exemplos aos jovens. Mas isso basta? Não estamos também pecando na ausência de leitura por falta de dinheiro? Não sei quanto a vocês amigos, mas quando eu vou a uma livraria, fico doida! Quem dera pudesse comprar tudo!


Além deste fato crucial, os jovens não gostam de ler. De fato! O que podemos fazer, é levar um pouco deste hábito para as aulas de literatura. Não sei se vale a ideia, mas eu estou tentando unir a leitura e a arte, na tentativa de resgatar os alunos que “odeiam” ler, para nosso mundo das “letras”. Quem sabe tenho sorte?


Não consigo imaginar resgate do hábito à leitura sem trabalho e mão de obra, ou seja, aquele professor que percebe que seus alunos precisam de um empurrão, ou de estímulos novos, que não arregaçarem as mangas com projetos inovadores, aulas mais dinâmicas voltadas para artes plásticas ou cênicas não vai sair do lugar comum. Quer coisa mais monótona do que ouvir o professor ler uma história? E desde quando os alunos estão ouvindo? Já é difícil mantê-los sentados, imagine atentos a uma voz única na sala de aula? E quando o aluno “tem” que ler e fazer a famosa ficha do livro? Será este é o caminho correto para adquirir o gosto pela leitura?Importante também é mostrar o livro (pelo menos um exemplar), falar dos autores, ilustradores, editora, para que valorizem aquela obra. Nada vale na vida sem apreciação.


Falando do lúdico (adoro por sinal!), os alunos querem é brincar e divertir... Então vamos deixar as aulas “clássicas” e investir no imaginário, na arte, na possibilidade de fazê-los mergulhar nas histórias com vontade e não por obrigação. Por isso sou a favor das revistas em quadrinhos, pequenos contos e similares, por causa da descontração de seus textos, de suas cores e fantasias. Se seu aluno habituar-se aos livrinhos e revistinhas a chance dele chegar a ler Dom Casmurro será maior ,não ? Claro, seu objetivo será este: trazer boas histórias, de vários tipos literários, viajando pelas fabulosas possibilidades de produções de textos e até interpretações teatrais, correto? Sem dúvida, as “Marias” que gostam de ler e não sabem para quê ler, vão ter mais facilidades, respostas e estímulos para avançarem no universo literário.


E por acréscimo, sonhe que nossos salários serão acessíveis e compraremos muitos livros e mais ainda: nossos alunos também comprarão, porque seus pais terão empregos ótimos e salários melhores ainda!


__Postagem de Krika, a professora__


Krika é a professora Cristina, de Minas Gerais. Desde os meados de 2008 ela posta aqui suas experiências. A Torre abriu-lhe espaço depois de conhecer seu trabalho e seu esforço de levar aos alunos, principamente carentes, o hábito da leitura, contrariando, em muitas vezes, o curriculum oficial.

Timidamente ela começou aqui procurando sensibilizar as pessoas para a necessidade de abrir horizontes novos para as crianças que vão para a escola, muitas vezes não por gosto, mas por falta de alternativa até mesmo de alimentação e afeto.

O seu projeto de estímulo à leitura, já se percebeu por depoimentos de alunos, reverteu, em muitos casos essa situação.

Despertou o prazer em ler, o prazer em estudar, o prazer em crescer. Abriu horizontes. Criou perspectivas de futuro, para muitas crianças que não tinham nem mesmo perpectivas de presente.

Hoje ela divide suas experiências em dois blogs que faço questão de recomendar à quem, de alguma forma, tem preocupações com o futuro desta geração. Um deles, já vem de algum tempo, foi criado junto com outra educadora, não menos dedicada e comprometida; a Géssica. Trata-se do blog Projetos e Idéias http://nossosprojetoseideias.blogspot.com/

Outro, é de sua própria lavra e igualmente interessante e bonito a cada dia que passa: Linguagem e Afins http://www.linguagemeafins.blogspot.com/

Ambos estão em destaque, de onde avisto da Torre, para facilitar o acesso.

Não nos esqueçamos porém, que são atitudes individuais e que, na maioria das vezes, são conduzidos com recursos próprios, tirados do próprio bolso para a compra de revistas e livros.

Assim, renovo o apelo. Aqueles que tiverem revistas, livros, gibis, que puderem ajudar a professora Krika no seu projeto, por favor, entrem em contato com ela por um dos blogs indicados.

Não serei eu, nem ela que agradecerão. Será o futuro.

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sábado, 4 de julho de 2009

Culinária Gaúcha - Final

As faces do Rio Grande



Falar em um Rio Grande do Sul como um estado único é quase que uma força de expressão. Porque aqui existem muitos Rio Grandes diferentes, cada qual com sua cultura, com seus rostos e falas. São as faces do Rio Grande - que são muitas.
Há um Rio Grande açoriano, nas pequenas cidades do vale do Jacuí, que atualmente vivem suas pacatas vidinhas de interior, mas que já formaram a linha de defesa deste continente de São Pedro. Há um Rio Grande também português, mas com um rosto diferente, na região da Fronteira, conquistada a ferro e fogo pelos milicianos. Esses dois Rio Grandes, um de bombacha e outro em meio a procissões, têm em comum a origem - portuguesa - e a linguagem.
Mas existe outro, em que as exclamações de "tche" se misturam aos "porca miseria". É o dos italianos, nas terras quebradas, com seus parreirais subindo e descendo pelas pirambeiras. Perto dali, tanto em zonas mais baixas - do vale do rio dos Sinos e outros próximos -, como mais altas, no Planalto, está o Rio Grande dos kerbs, das oktoberfests, dos alemães. Esse mesmo Rio Grande, de gente clara e fala arrevesada, tem uma pequena "ilha" em uma região tipicamente portuguesa - são os pomeranos da região de São Lourenço, que formam uma ilha dentro de uma ilha, uma vez que se trata de uma cultura de origem alemã, mas inteiramente diferente desta.
Espalhado por todo o estado está também o testemunho de um Rio Grande sofrido. São os descendentes de negros, trazidos contra a vontade, oprimidos, e que, apesar disso, conseguiram manter traços de sua cultura. Assim como no passado não tinham propriedade, atualmente não têm sua região definida. Estão entre todos, mas com uma história construída de lágrimas que é só deles.
Também de lágrimas é a história de um outro Rio Grande, o dos judeus. Concentrados em Porto Alegre - especialmente no Bom Fim -, vieram para cá fugindo da fome, da discriminação e, a partir do final da década de trinta, da exterminação pura e simples.
Fugindo da dominação de outros países, vieram os poloneses, que entre 1795 e o final da Primeira Guerra Mundial não existiam como nação: tiveram sua pátria dividida entre a Rússia, a Prússia e a Áustria. Assim, muitos desses imigrantes chegaram aqui sob outras nacionalidades. Mas, com a teimosia dos povos que não perdem sua identidade, sempre fizeram questão de frisar que eram poloneses - o povo da pátria retalhada.
Se a Primeira Guerra devolveu aos poloneses o direito de serem nação, a Segunda criou as condições para que o Rio Grande recebesse um novo fluxo migratório. Dessa vez, vinham de uma cultura totalmente diversa, tão diversa que provocava espanto inicialmente. Mas, calados e trabalhadores, esses novos gaúchos de olhos puxados marcaram sua presença na economia do estado: em 1956 começaram a chegar os japoneses.
Esses são alguns dos que vieram. Outros povos, outros sangues, também estão presentes, embora em contingentes não tão significativos. Como se vê, não há um único Rio Grande, mas muitos Rio Grandes. Só que, assim como as pessoas, que são diferentes ao longo do dia, ao longo da vida, esse Rio Grande político, que é a soma de todos os Rio Grandes concretos, existe como unidade.
E a culinária gaúcha é a mescla dessa diversidade integrada, harmoniosa e, sobretudo saborosa.

Os textos desta série foram extraídos, intepretados e por vezes comentados e complementados especialmente de RS Virtual: www.riogrande.com.br

Imagens: Internet - Google - Diversas fontes de uso não restrito

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Com esta postagem, finalizamos, Quasímodo e Juca, a série de artigos sobre a culinária gaúcha.
Mais que falar de comidas, procuramos trazer aos amigos leitores um pouco da história dos povos que ajudaram a formar este belíssimo Estado.
É importante, no entanto ressaltar que não existe um lugar ou uma região onde a culinária seja exclusivamente desta ou daquela tipicidade.
Existem, sim, os pratos típicos de acordo com a hegemonia dos povos que as habitam. Podemos, no entanto, saborear polentas na fronteira, em acompanhamento à um suculento churrasco, ou a sobremesa de um quindim na serra, depois de uma bela macarronada, ou ainda, se quisermos, um chucrute picante nas zonas de pescadores em Pelotas ou Rio Grande, depois de uma taínha na telha.
Como foi dito no início, esta série foi dedicada à amiga Beta, de Pelotas onde se realiza anualmente, a Fenadoce, Festa Nacional do Doce. Quem puder ir, não perca.

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