domingo, 24 de maio de 2009

Culinária Gaúcha - Os Judeus



Judeus

Fugindo da miséria e querendo viver em paz





A principal causa das imigrações açoriana, alemã e italiana para o Rio Grande do Sul foi a oportunidade de fugir de uma situação econômica difícil, e de reiniciar a vida em um local onde fosse possível sobreviver com dignidade. Nesse quadro a terra - escassa na Europa - se apresentou como um fator de atração. Aqui havia terra mais do que suficiente para todos. Mas um grupo de imigrantes teve uma outra motivação, além da miséria e falta de terras, para vir para cá. Foram os judeus, que fugiram da discriminação existente em seus países de origem, e buscavam a oportunidade de viver em paz.

A imigração judaica pode ser dividida em duas correntes: uma rural, a outra urbana. A corrente rural foi composta por imigrantes que vieram para se instalar em lotes coloniais. A urbana, posterior, foi formada por aqueles que vieram diretamente para as cidades, em especial para Porto Alegre, principalmente nas décadas de vinte a quarenta deste século, e que tornaram o Bom Fim o bairro judeu por excelência.

A história da imigração rural começou graças à iniciativa de um homem, o Barão Maurício de Hirsch, francês de origem judaica que era banqueiro em Bruxelas. Preocupado com a situação dos judeus russos - que eram altamente discriminados e sujeitos a perseguições periódicas - Hirsch resolveu criar, em 1891, uma organização para a instalação de colônias agrícolas em diversos países, para as quais pudessem emigrar os judeus oprimidos da Europa. Assim, fundou a Jewish Colonization Association (conhecida como JCA ou ICA), que criou colônias agrícolas tanto na Argentina como no Brasil.

Com esse objetivo foi adquirida, em 1903, uma área de 5.767 hectares em Santa Maria, para estabelecer a primeira colônia brasileira. Essa colônia recebeu o nome de Philippson, em homenagem a Franz Philippson, vice-diretor da ICA e presidente da Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Brésil, que atuava no Rio Grande. Ali, a partir de 1904, começaram a chegar os primeiros imigrantes, vindos da Bessarábia - região russa entre os rios Pruth e Dniester, banhada pelo mar Negro. Mais tarde, vieram outros também da Rússia, da Argentina e dos Estados Unidos.

Na nova terra, os imigrantes receberam lotes de 25 a 30 hectares, com uma residência, instrumentos agrícolas, duas juntas de bois, duas vacas, carroça, cavalo e sementes, a um preço de cerca de cinco contos de réis, a serem pagos em prazos de 10 a 15 anos.

Pouco mais tarde, em 1909, a ICA adquiriu a fazenda Quatro Irmãos, de mais de 93 mil hectares, que ficava no então município de Passo Fundo (atualmente em Erechim e Getúlio Vargas). Parte da fazenda foi dividida em lotes de 50 hectares que, em condições semelhantes às de Philippson, foram entregues aos colonos vindos da Argentina, Bessarábia e outras áreas. Com a vinda de novas levas de imigrantes, foram criados outros núcleos de colonização, na região de Quatro Irmãos: Barão Hirsch (1926), Baronesa Clara (1927) e, mais tarde, Rio Padre e Pampa.

No entanto, a enorme maioria dos colonos não permaneceu nesses lugares, mudando-se mais tarde para cidades próximas (Santa Maria, Erechim e Passo Fundo) ou para Porto Alegre. Para isto, contribuíram dois fatores. O primeiro foi a Revolução de 1923. Após o seu término, grupos de revolucionários e de tropas governamentais ficaram vagando pelo estado, ameaçando e assaltando a população. Um desses grupos, em 1925, invadiu a vila de Quatro Irmãos, saqueando casas e agredindo colonos. Um deles chegou a ser assassinado. Esses fatos assustaram os colonos, que decidiram buscar maior segurança nas cidades.

Outro fato, de ordem inteiramente diversa, foi a preocupação que os imigrantes tinham com a educação dos filhos. Como nas colônias só havia ensino primário, tinham que enviar seus filhos para estudar nas cidades. Isto, para muitos, criava um problema: era difícil sustentá-los, tendo que pagar pensões para que morassem, roupas, estudo, etc. Assim, terminaram optando por irem, eles também, morar em cidades.


As três correntes de Porto Alegre


Com o fim da colonização rural, iniciou-se uma outra etapa do processo de imigração judaica. Nessa segunda fase, predominou a imigração diretamente para cidades, em especial Porto Alegre, sempre fugindo de situações adversas em seus países de origem.

Historicamente, essa etapa iniciou-se antes da rural - no final do século passado alguns imigrantes alsacianos vieram para Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas. Mas é a partir da década de vinte que se acentua a imigração, e na década de trinta toma força o processo.

Em 1910 foi fundada a mais antiga sinagoga ainda em funcionamento no estado, a da União Israelita Porto-Alegrense. Em 1917, criou-se uma segunda instituição, o Centro Israelita. No início da década de vinte, foi a vez dos judeus sefaraditas fundarem o Centro Hebraico Rio Grandense. Os sefaraditas - ou sefaradins - haviam começado a chegar a Porto Alegre já no início do século.

Eles pertencem a um dos dois principais ramos do judaismo. São judens de origem espanhola que, após a grande expulsão de 1492, se dirigiram para Turquia, Grécia e países do norte da África. Falam o ladino, um espanhol arcaico, do tempo de Cervantes, e seus ritos apresentam pequenas diferenças em relação ao outro grande ramo, o dos asquenazim. A denominação de sefaraditas vem de Sefarad, termo que significa Espanha.

Já os asquenazim são de origem germano-eslava, e usam o ídiche (dialeto de origem germânica). Asquenazim vem de Asquenaz, descendente de Noé, e quer dizer germano. Além das diferenças de origem houve, em Porto Alegre, uma diferença "geográfica" entre os dois grupos. Os sefaradim, em sua maioria, se estabeleceram com casas de comércio (especialmente tecidos) no centro da cidade, área em que também residiam.

Durante a década de 30 predominou a imigração de um outro grupo, os judeus poloneses. Eram quase todos eles artesãos - alfaiates, marceneiros etc. - e concentravam-se na zona do Bom Fim. Fundaram, eles também, a sua associação, a Poilisher Farband (literalmente associação dos poloneses), que tinha o objetivo de prestar assistência e apoio aos que iam chegando. Essa imigração se interrompeu com a eclosão da Segunda Guerra, sendo retomada no pós-guerra, quando alguns sobreviventes do morticínio vieram para Porto Alegre.

Também na década de 30 - a partir de 1933, quando Hitler assumiu o poder na Alemanha - começaram a vir os judeus alemães. Entre eles estavam vários intelectuais e profissionais liberais, que fugiam de seu país preocupados com a escalada nazista. No esforço para encontrar trabalho e criar um espaço para conviverem, os alemães fundaram em 1936 a Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra).


Essas associações todas atendiam a objetivos religiosos e também a outros muito práticos. Procuravam permitir, ao recém-chegado, a oportunidade de se instalar condignamente em seu novo país. Para isto, foram criadas instituições como as caixas de empréstimo (Laispar-Casse), que forneciam recursos para seus associados. Muitos desses "bancos informais" funcionavam em um dia específico da semana.

É o caso do Poilisher Farband, cuja Laispar-Casse funcionava nas quartas-feiras à noite, e onde o associado poderia receber um empréstimo de 400 mil réis, para ser pago em dez semanas sem juros. A mesma instituiçãso mantinha também a Kranken-Casse (Caixa dos Doentes), cujo funcionamento dá idéia do alto grau de necessidade dos imigrantes. Além de subsidiar consultas médicas, emprestava objetos como termômetros, seringas e agulhas para seus associados.

Os Klienteltshikes e os gravatnikes

Um capítulo à parte, na história da imigração judaica, é o das profissões que os que aqui chegaram exerceram inicialmente, e que deixaram traços lembrados até hoje pelos habitantes mais velhos de Porto Alegre. Figuras como o klienteltshik e o gravatnike povoavam não só as ruas do Bom Fim, mas de toda a cidade.

O klienteltshik era o homem que batia de porta em porta, vendendo a prestação para a sua clientela. Os judeus foram os primeiros a adotar esse sistema em Porto Alegre. Geralmente ofereciam tecidos e, em alguns casos, roupas feitas. Cada um deles tinha a sua "zona de trabalho", que os demais respeitavam. Organizados, chegaram a ter uma cooperativa, que funcionava na Oswaldo Aranha.Outra atividade comum era a venda, pelas ruas, de miudezas tais como rendas e bordados. Como eram artigos mais baratos, costumavam ser pagos à vista. Já o gravatnike levava, na mão, algumas gravatas, que oferecia aos passantes. Essas atividades eram a alternativa para os que não tinham uma profissão definida, ou para os recém-chegados. Os que praticavam algum trabalho artesanal, tratavam de se estabelecer em seu ramo.Foi o caso de vários marceneiros, que começaram com suas pequenas oficinas e terminaram transformando a Oswaldo Aranha em uma sequência de lojas de móveis. Ou de alfaiates que se tornaram donos de grandes confecções.

Culinária Judaica

A culinária judaica é uma reunião de tradições culinárias internacionais que são ligadas entre si pelas leis dietéticas do judaísmo, o kashut, e as tradições dos feriados judaicos. Diversos tipos de comida, como a carne de porco e mariscos são proibidos; carne e laticínios nunca podem ser misturados, e os animais devem ser abatidos ritualmente e salgados para que qualquer traço de sangue seja removido. Vinho e pães são utilizados, especialmente durante os rituais do sabá e dos diversos feriados religiosos.

A culinária judaica é extremamente variada, devido ao uso de ingredientes locais e das influências regionais que deixaram sua marca nas comunidades judaicas ao redor do mundo.
A culinária de Israel
, da mesma forma que esse país, foi profundamente influenciada pelas mistura de diferentes etnias, religiões e culturas.
A influência mais dominante é a culinária árabe
, que trouxe pratos típicos de toda região do Oriente Médio, tais como: Homus, Falafel, Shawarma Kebab, Kebab.

Outra grande influência é a culinária judaica
, com muitas influências da Europa Central e Oriental, locais tradicionalmente habitados por comunidades judaicas numerosas que migraram posteriormente para Israel. Típicos pratos de produtos não-originários do Mediterrâneo fazem parte integral da cozinha israelense, tais como: Gefite fish (bolinhos de carpa), Crem (raiz forte), Arenque salgado.

A culinária judaica é tida como a mais marcada pelos preceitos religiosos hoje. Muito deste conceito se deve às normas do Kashrut, que determina o que pode ser consumido e o que não. A advogada e culinarista Helena Zelmanovitz, no entanto, contesta os que falam em imposição de regras. Ela explica que desde tempos remotos os judeus se preocupavam com a saúde, e todo o Kashrut é baseado nesta idéia. Leite e carne não são misturados devido aos diferentes tempos de digestão. A carne suína não era ingerida antigamente porque estes animais se alimentavam de restos e dejetos, o que poderia acarretar problemas ao organismo humano. O mesmo se estende a determinados tipos de peixe e até à forma como os animais são abatidos. Atualmente não existe tanta rigidez, apesar de haver grupos que seguem o Kashrut à risca. O cuidado com a alimentação é tamanho que existem, na Capital, delicatessens especializadas em produtos kasher, localizadas na rua Fernandes Vieira.


Durante o Seder são feitos pratos diversos, tais como: peixa assado com legumes, bolinhos de carne (Carnatzlach) e de peixe (Guefilt), preparado somente com peixes de água doce (carpa e traíra), e ainda muitos doces: bolo de mel com nozes.
Mas o cardápio pode variar conforme a origem das famílias. Aquelas que pertencem aos ashkenazim - judeus de origem germânica ou européia ocidental - não comem arroz ou outros tipos de grãos. A proibição se estende a quase todas as sementes comestíveis, aos óleos derivados destes grãos e a qualquer alimento que contenha estes ingredientes.
Essa restrição já não acontece entre os sefaradim (judeus orientais e da Península Ibérica). O matzot (pão sem fermento), geralmente consumido durante os oito dias de festa, pode ser saboreado até um dia antes da comemoração na casa de um sefaradi. Até o conhecido doce haroseet (ashkenazim e sefaradi) não é feito da mesma maneira. O mesmo ocorre com prato do Seder, repleto de alimentos com significados. Confira o que cada um representa:
- Betsá (ovo cozido) - lembra o luto pela perda do Templo de Jerusalém
- Charósset (mistura de nozes, vinho, canela e amêndoas) - simboliza o barro usado para fazer as construções dos faraós e o trabalho pesado dos judeus.
- Karpás (ramos de salsa ou salsão entre os sefaradim. Salsinha, cebola e batata na mesa dos ashquenazim) - estão ligados ao renascimento e a liberdade.
- Marór (escarola ou alface para os sefaradim e raiz forte entre os ashquenazim) - representa a amargura da escravidão no Egito. As verduras devem ser molhadas em vinagre ou água salgada como lembrança das lágrimas derramadas e do suor incessante durante o trabalho escravo.
- Zeroá (qualquer osso tostado com carne) - sacrifício do povo judeu



Fontes: RS Virtual; Comunidade Judaica do RS;
Moacir Scliar (em entrevista).
Fotos: Internet de uso não restrito.





_______________________________________

domingo, 17 de maio de 2009

Culinária Gaúcha - Os Negros


Negros - A história dos gaúchos sem história



Os negros entraram na história do Rio Grande do Sul desde seu início. Mas o fizeram como personagens secundários, pouco lembrados, pouco citados - não obstante sua atuação tenha sido, provavelmente, decisiva para a própria formação do estado. Porque para o português branco, o negro era um complemento indispensável de sua atividade: na terra, na casa, na luta, ele se assemelhava à argamassa que, escondida entre os tijolos, mantinha a estrutura, mas que não era nunca levado em conta.
Não é à toa que em um texto escrito em 1807 por Manoel Antonio de Magalhães, em que faz reflexões sobre a situação da capital do Rio Grande, os negros sejam equiparados, literalmente, a equipamentos. O autor defende que deva ser proibida a exportação de escravos do Brasil para as colônias espanholas, pois os escravos são de importância militar "como os artigos de guerra: pólvora, balas, armas, chumbo, ferro, cobre, aço, estanho, salitre e toda a sorte de massames náuticos".

Quando a bandeira de Raposo Tavares explorou os vales dos rios Taquari e Jacuí, no final de 1635, existiam escravos negros entre seus membros. Também em 1680, na fundação da Colônia de Sacramento, a expedição comandada por Manoel Lobo trazia escravos negros. Eram 200 militares, três padres e 60 negros, dos quais 41 escravos do comandante, seis mulheres índias e uma branca e índios. Os negros representavam, portanto, mais de 20% da expedição - sem se considerar os soldados negros e mulatos livres que eram usados pelos exércitos daquela época. Também as expedições posteriores que se dirigiram à Colônia de Sacramento levavam mais negros.
Outro ponto fundamental para a história da ocupação do Rio Grande foi a fundação de Laguna, em Santa Catarina. Afinal, de lá sairiam várias expedições destinadas primeiro a prear gados, segundo a ocupar o Continente de São Pedro. E na fundação de Laguna também o negro estava presente, bem como nas expedições que os lagunenses fizeram ao Rio Grande, em que constituíam a maioria dos membros.
Mas foi a partir do desenvolvimento das charqueadas - que começa em 1780, com ocupação da área de Pelotas - que o tráfico negreiro começa a tomar volume. Naquele ano, os escravos - calculados em 3.280 - representavam 29% da população total do Rio Grande do Sul, e se encontravam concentrados em duas áreas principais. A primeira era ao longo da estrada dos tropeiros, que ligava o extremo sul do Rio Grande ao resto do país, pelo roteiro Rio Grande-Mostardas-Porto Alegre-Gravataí-Santo Antônio da Patrulha-Vacaria, ao longo do qual se localizavam as maiores estâncias.
Nessa região estavam cerca de 65% dos escravos. A outra área de grande concentração estava no eixo Porto Alegre-Caí-Taquari-São Jerônimo-Santo Amaro-Rio Pardo-Cachoeira, ao longo do Jacuí, onde se concentravam 35% dos escravos, especialmente em São Jerônimo.
Esses números seriam grandemente aumentados com as charqueadas, saltando para 50% da população gaúcha em 1822, quando José Antonio Gonçalves Chaves, estancieiro e charqueador de Pelotas, calculou que dos 106.196 habitantes da província metade fosse de escravos.
Esses números talvez estivessem exagerados - afinal, Gonçalves Chaves era contra a escravidão, e usou de todos os argumentos para combatê-la em sua obra "Memórias Economo-políticas sobre a administração pública do Brasil". Um deles era justamente o de que "o excessivo número de escravos faz com que não o possamos tratar como temos obrigação". Mas, de qualquer forma, sabe-se atualmente que seu número era expressivo, e calcula-se que em 1858 alcançava quase 25% da população gaúcha.
No entanto, a história desse povo sem história tem de ser procurada em dois tipos de fontes: ou nas notas que acompanham as narrativas, em que aparecem geralmente como "e uma grande quantidade de homens negros", ou em alguns episódios mais marcantes - que, por suas características singulares, são registrados. É esse o caso dos dois corpos de lanceiros que participaram das tropas farroupilhas durante a Revolução, que entraram para a história mais por terem sido vítimas de uma ainda não bem esclarecida traição (na Batalha de Porongos), que fez com que fossem eliminados para não comprometerem as negociações de paz entre farrapos e o Império.
É difícil estabelecer de que região da África vieram os negros que aportaram, ao longo do século passado, no Rio Grande do Sul. Sabe-se que vieram do porto do Rio de Janeiro, mas não existem detalhes precisos quanto aos portos de origem da África, e menos ainda quanto às regiões em que foram capturados para serem levados para os portos de embarque.
Isto porque os africanos muitas vezes eram caputados a centenas de quilômetros do porto onde seriam embarcados para o cativeiro. E, geralmente, na chegada ao Rio - ou aos outros portos - registrava-se como origem o porto de embarque. Mas, de maneira bastante imprecisa, é possível falar em três regiões principais de origem, com especial destaque para uma delas.
A região que se destaca é a da costa angolana, que mantinha maior contato com o porto do Rio de Janeiro. Dali vieram os escravos de cultura banto e congo. Outra região que também foi fonte de abastecimento de escravos para o Brasil foi a de Moçambique e adjacências. Os africanos vindos dessa área eram denominados genericamente de moçambiques. Por último também vieram grupos de cultura sudanesa, na região da Costa do Ouro, entre os quais se destacavam os minas.
No Rio Grande os grupos de africanos aqui introduzidos recebiam geralmente a denominação de angolas, congos, minas e moçambiques. Isto, entretanto, não significa que fossem efetivamente dessas áreas.

A INFLUÊNCIA DA CULINÁRIA AFRICANA NO BRASIL
Os Africanos quando foram trazidos para o Brasil, já eram dotados de uma vasta sabedoria na culinária e introduziram na culinária brasileira alguns dos produtos que podemos destacar como marcantes – o leite de coco, a pimenta malagueta, o gengibre, o milho, o feijão preto, as carnes salgadas e curadas, o quiabo, o amendoim, o mel, a castanha, as ervas aromáticas e o azeite de dendê que é, sem dúvida, uma das maiores contribuições para a comida brasileira, indispensável na confecção de inúmeros pratos típicos do Brasil e nas oferendas aos Deuses dos cultos afro-brasileiros, como o vatapá, o caruru, o abará, o abrazô, o acaçá, o acarajé, o bobó, os caldos, o cozido, a galinha de gabidela, o angu, a cuscuz salgado, a moqueca e a famosa feijoada - fruto da adaptação do negro às condições adversas da escravidão que com sobras de carnes juntamente com a sabedoria da culinária africana adaptaram-se aquela situação resultando num dos pratos típicos mais apreciados em todo o país.
Não podemos deixar de mencionar os pratos doces à base de ovos, coco e milho – canjica, mungunzá, quindim, pamonha, angu doce, doce de coco, doce de abóbora, paçoca, quindim de mandioca, tapioca, bolo de milho, bolinho de tapioca, etc. A cozinha negra fez valer os seus temperos, os verdes, a sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes; fez a mesma coisa com os pratos nativos da terra; e finalmente criou a cozinha brasileira, descobrindo o chuchu com camarão, o quibebe ensinando a fazer pratos combinados com camarão seco, ovos, coco, castanhas e a usar as panelas de barro ou ferro, as terrinas de jacarandá, a peneira de palha, o pilão e a colher de pau.
Os iorubanos ou nagôs, os jejês, os tapas e os haussás, todos sudaneses islamitas e da costa oeste também, fizeram mais pela nossa cozinha porque eram mais aceitos como domésticos do que a gente do sul, como o povo de Angola, a maioria de língua bantu, ou do que os negros cambindas do Congo, ou os minas, ou os de Moçambique, gente mais forte, mais submissa e mais aproveitada para o serviço pesado das lavouras e dos engenhos.

O tráfico negreiro no Brasil teve início em 1525, intensificando-se em 1600, sendo que no Rio Grande do Sul, o trabalho escravo só começou a ser usado no fim do século XVIII, quando esta província passou a inserir-se no contexto nacional, servindo como ponto de apoio dos exércitos imperiais.
Além disso, o trabalho escravo foi muito utilizado na agricultura extensiva e no comércio de carne salgada, nas atividades de courama, nas plantações de linho cânhamo e no cultivo da erva-mate.
O africano, escravizado, não podia prover-se de alimentos e apenas os recebia uma provisão de milho fresco ou assado, aipim e farinha de mandioca, e raramente tinham tempo de fazer um angu com a farinha de milho ou uma sopa.
Apesar de serem detentores de um grande conhecimento gastronômico, esse era muitas vezes reprimido, obrigando-o a adaptar a sua alimentação com o que lhes era fornecido. Com isso surgiu um prato muito apreciado pelos brasileiros, a feijoada. Esta preparação foi o resultado da fusão de costumes alimentares europeus aliada à criatividade do negro escravo, uma vez que eles utilizavam as sobras de alimentos que os brancos rejeitavam para preparar este prato . Por outro lado, alguns hábitos alimentares foram em parte estimulados isto é, incorporado pela sociedade da época. O exemplo da caça que, dependendo da localidade geográfica, era uma prática gastronômica estimulada e permitida, além da pimenta de várias regiões da África, apreciada na preparação de muitos pratos. Não só os negros escravos, mas também os negros libertos (após a abolição da escravatura) tinham que usar de imaginação para preparar suas refeições, uma vez que após a abolição da escravatura, muitos deles viviam de esmolas e marginalizados, muitas vezes vivendo em quilombos. O termo quilombo sempre foi sinônimo de “grupos formados por escravos fugitivos lutando pela sobrevivência”, porém, além da luta pela sobrevivência, esses grupos, também formados por escravos libertos, visavam construir uma nova realidade, com garantia de igualdade, convívio com a coletividade e ancestralidade. Esse grupos permaneceram até hoje e, a partir da Constituição Brasileira de 1988, quilombo adquiriu uma significação atualizada, ao ser inscrito no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), adquirindo direitos nas terras ocupadas pelos seus remanescentes).

A influência africana na culinária do Rio Grande do Sul refere-se principalmente às comidas para orixás. A culinária de origem africana tem uma relação muito forte com rituais religiosos, sendo que muito dos pratos tradicionais do nosso Estado, são adaptações de pratos religiosos à “cozinha laica”,( cozinha que não tem ligação com a religião).
Apesar disso, não há estudos sobre a adaptação da culinária de origem africana ao no Rio Grande do Sul, sendo este tipo de estudo comum em outros Estados, principalmente, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Com isso, há uma certa dificuldade em obter informações sobre a contribuição, as adaptações e até mesmo as receitas de pratos típicos de origem africana relacionada com a cultura do Rio Grande do Sul, devido à escassez de bibliografia a respeito.

Dos pratos identificados como de origem africana, verificamos que são pratos que constam da bibliografia especializada em receitas típicas do Rio Grande do Sul, porém sem indicativo de sua origem étnica, dificultando dessa forma a busca destas informações para pesquisas relacionadas.
Uma possível explicação para essa escassez de bibliografia a respeito da culinária de origem africana pode ser o fato de que para o homem branco havia, simplesmente, o negro escravo e não grupos de negros portadores de culturas diversificadas.
Dos ingredientes predominantes nestas receitas, observa-se a presença de feijões, milho e condimentos, o que está de acordo com os alimentos tradicionais da África do século XVI, época da vinda dos negros como escravos ao Brasil, com destaque aos diferentes tipos de feijões, aos temperos e condimentos e ao milho, que mesmo sendo de origem americana, foi assimilado com grande aceitação na África.
Além disso, observa-se que pelo menos três dos pratos ditos de origem africana tiveram sua
origem provavelmente da utilização, por parte dos negros ainda escravizados, de restos de comida do branco. São eles: o sopão, o mocotó e a feijoada. O sopão, ao que tudo indica, utilizava, ao invés da carne, o osso, além de vários legumes altamente energéticos, garantindo assim a energia e nutrientes necessários em um único prato de fácil preparo e consumo, não esquecendo que também auxiliava no aquecimento do corpo, uma vez que era servido quente. Hoje em dia se usa carne no lugar do osso, talvez nem tantos legumes, nem a banha de porco, substituída pelo azeite, mas o sopão ou sopa é um prato comum no nosso dia-a-dia, principalmente em dias frios.
No mocotó e na feijoada observa-se o uso de várias partes menos nobres de animais como porco e gado. O uso de pata de vaca, mondongo, orelha de porco, pé de porco, rabo de porco, entre outros, evidencia a criatividade do negro que usava estas partes desprezadas pelos brancos para fazer pratos calóricos e saborosos.
Estes pratos foram tão bem aceitos que passaram a fazer parte dos pratos típicos do Rio Grande do Sul. Como o sopão, são preparadas em dias de maior frio. Atualmente, para fazer estas receitas, continua-se usando as partes “menos nobres” dos animais, pois é a mistura destes ingredientes que dá o sabor e o valor nutricional característico destes pratos.
A origem do mocotó parece ter sido nas charqueadas, onde os escravos das estâncias gaúchas encontravam nessa mistura uma solução para seu sustento alimentar.
Na receita de todos os pratos, observou-se a presença de banha de porco, o que hoje em dia já é substituída pelo azeite. O uso de banha de porco ocorria pelo fato de ser comum a criação de porcos, mas com o passar do tempo, isso já não ocorre mais, além de uma melhora do poder aquisitivo.
Além dos pratos salgados, os pratos doces de origem africana, mostram sua “identidade”, uma vez que, para fazer o prato conhecido como canjica, utilizava-se o milho quebrado, provavelmente considerado como “resto”. O cuzcuz também é preparado com milho, porém na forma de farinha.
O doce de laranja azeda também é de origem africana. Para fazer esse doce, utiliza-se um tipo de laranja especial que serve apenas para fazer este prato, não podendo ser consumida in natura,
mostrando uma forma de aproveitamento de uma fruta que, em outra situação, provavelmente seria desprezada.

- Mesmo não encontrando muitas referência dos pratos de origem africana na culinária gaúcha, os negros tiveram grande influência na tradição alimentar do Rio Grande do Sul.
- Apesar de sua condição inicial de escravo, sem direitos e com sua cultura desprezada pelos brancos, os negros conseguiram se adaptar às condições de vida a que eram submetidos, formando e transformando pratos de diferentes culturas, graças a sua imaginação, através da combinação de diferentes ingredientes.
- Os pratos de origem africana que fazem parte da culinária tradicional do Rio Grande do Sul, sofreram adaptações para as condições atuais de vida.
Fontes de pesquisa: RS Virtual. Wikipédia, e
de maneira singular o Centro Universitário Metodista
através do trabalho das doutoras Maria Claudete Bastos
e Paula Cibele dos Santos em www.palmares.gov.br
Imagens: Debret, Jean-Victor Frond e Rugendas.
__________________________________

sábado, 9 de maio de 2009

Dia das Mães

Peço licença aos amigos “sérios” e “reflexivos” para colocar esta homenagem as mães. Elas realmente sabem das coisas...




Minha mãe me ensinou a VALORIZAR UM SORRISO. ‘ME RESPONDE DE NOVO E EU TE ARREBENTO OS DENTES!’

Minha mãe me ensinou a RETIDÃO. ‘EU TE CONSERTO NEM QUE SEJA NA PANCADA!’


Minha mãe me ensinou a DAR VALOR AO TRABALHO DOS OUTROS. ‘SE VOCÊ QUER SE MATAR, VÁ PRA FORA. ACABEI DE LIMPAR A CASA!’


Minha mãe me ensinou LÓGICA E HIERARQUIA. ‘PORQUE EU DISSE QUE É ASSIM E PONTO FINAL! QUEM É QUE MANDA AQUI?’


Minha mãe me ensinou o que é MOTIVAÇÃO.‘ CONTINUA CHORANDO, QUE EU VOU DAR UMA RAZÃO VERDADEIRA PARA VOCÊ CHORAR!’


Ela me ensinou a CONTRADIÇÃO. ‘FECHA A BOCA E COME!’


Minha mãe me ensinou sobre ANTECIPAÇÃO. ‘ESPERA SÓ ATÉ SEU PAI CHEGAR EM CASA!’


Minha mãe me ensinou sobre PACIÊNCIA. ‘CALMA! QUANDO CHEGARMOS EM CASA VOCÊ VAI VER SÓ…’


Minha mãe me ensinou a ENFRENTAR OS DESAFIOS. ‘OLHE PARA MIM! E ME RESPONDA QUANDO EU TE FIZER UMA PERGUNTA!’


Minha mãe me ensinou sobre RACIOCÍNIO LÓGICO. ‘SE VOCÊ CAIR DAÍ DESSA ÁRVORE VAI QUEBRAR O PESCOÇO E EU VOU TE DAR UMA SURRA!’


Minha mãe me ensinou MEDICINA. ‘PÁRA DE FICAR VESGO! PODE BATER UM VENTO E VOCÊ VAI FICAR ASSIM PRA SEMPRE.’


Minha mãe me ensinou sobre o REINO ANIMAL. ‘SE VOCÊ NÃO COMER ESSAS VERDURAS, OS BICHOS DA SUA BARRIGA VÃO COMER VOCÊ!’


Minha mãe me ensinou sobre GENÉTICA. ‘VOCÊ É IGUALZINHO AO LOUCO DO SEU PAI!’


Minha mãe me ensinou sobre MINHAS RAÍZES. ‘TÁ PENSANDO QUE NASCEU EM FAMÍLIA RICA ,É?’


Minha mãe me ensinou sobre a SABEDORIA DE IDADE. ‘QUANDO VOCÊ TIVER A MINHA IDADE, VOCÊ VAI ENTENDER.’


Minha mãe me ensinou sobre JUSTIÇA. ‘UM DIA VOCÊ VAI TER SEUS FILHOS, E EU ESPERO QUE ELES FAÇAM PRA VOCÊ O MESMO QUE VOCÊ FAZ PRA MIM! AÍ VOCÊ VAI VER O QUE É BOM!’


Minha mãe me ensinou RELIGIÃO. ‘MELHOR REZAR PARA ESSA MANCHA SAIR DO TAPETE!’


Minha mãe me ensinou o BEIJO DE ESQUIMÓ. ‘SE RABISCAR DE NOVO, EU ESFREGO SEU NARIZ NA PAREDE!’


Minha mãe me ensinou CONTORCIONISMO. ‘OLHA SÓ ESSA SUA ORELHA! QUE NOJO!’


Minha mãe me ensinou DETERMINAÇÃO. ‘VAI FICAR AÍ ATÉ COMER TODA A COMIDA.’


Minha mãe me ensinou habilidades, como VENTRILOQUIA. ‘NÃO RESMUNGUE! CALA ESSA BOCA E ME DIGA POR QUE É QUE VOCÊ FEZ ISSO .’


Minha mãe me ensinou OBJETIVIDADE. ‘EU TE AJEITO NUMA PANCADA SÓ!’


Minha mãe me ensinou a ESCUTAR. ‘SE VOCÊ NÃO ABAIXAR O VOLUME, EU VOU AÍ E QUEBRO ESSE RÁDIO!’


Minha mãe me ensinou a TER GOSTO PELOS ESTUDOS. ‘SE EU FOR AÍ E VOCÊ NÃO TIVER TERMINADO ESSA LIÇÃO, VOCÊ JÁ SABE!…’


Minha mãe me ajudou na COORDENAÇÃO MOTORA. ‘AJUNTA AGORA ESSAS SUAS COISAS!! PEGA UMA POR UMA!!’


Minha mãe me ensinou OS NÚMEROS. ‘VOU CONTAR ATÉ DEZ. SE ESSE LÁPIS NÃO APARECER VOCÊ LEVA UMA SURRA!’



E TEM GENTE QUE NÃO DÁ MUITO VALOR A SUA MÃE!


Fonte: http://www.minhocanacabeca.com/


Postagem de Krika - A Professora


_________0________

À todas as mães que visitam a Torre, a homenagem sincera e carinhosa destes personagens que também amam as suas; Quasímodo e Juca Melena.

Que entendem que a maior felicidade de uma mãe, é a realização, a saúde e a felicidade dos filhos.


Irei, logo mais, dar um abraço à minha. Por enquanto ainda por telefone e orações.
_________________________

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A História de Uma Folha

ESTIMULANDO O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA

A HISTÓRIA DE UMA FOLHA

LEO BUSCAGLIA

Era uma vez uma folha, que crescera muito. Surgira na primavera, como um pequeno broto num galho grande, perto do topo de uma árvore alta. A folha estava cercada por centenas de outras folhas , iguais a ela. Ou pelo menos parecia. Mas não demorou muito pra que descobrisse que não havia duas folhas iguais, apesar de estarem na mesma árvore.


Todas haviam crescido juntas. Aprenderam a dançar à brisa da primavera, a se esquentar ao sol de verão, a se lavar na chuva fresca...


Os passarinhos vinham pousar nos galhos e cantar, havia sol, lua, estrelas, tudo....
As pessoas íam ao parque, sentar à sombra da árvore, no verão. E esse é o propósito da árvore - uma razão para existir!


Tornar as coisas mais agradáveis para os outros é uma razão de existir. Proporcionar sombra aos velhinhos, oferecer um lugar fresco para as crianças brincarem. Abanar as folhas como brisa...


E assim o verão foi passando. A folha admirava tudo, olhava tudo...


E chegou o frio. A folha ficou assustada, nunca sentira frio, e todas as outras folhas estremeceram com o frio, ficaram todas cobertas por uma camada fina de branco, que num instante derreteu e deixou-as encharcadas de orvalho, faiscando ao sol.


Foi a primeira geada... O inverno viria em breve.


Quase que imediatamente, toda a árvore se transformou num esplendor de cores. Quase não restava nenhuma folha verde. Amarelo, laranja intenso, vermelho ardente, dourada. Um arco íris de folhas!


E porque ficaram diferentes?


Por que tiveram experiências diferentes, receberam o sol de maneira diferente, projetaram sombras de maneira diferente. Era o outono chegando...

E a mesma brisa que, no passado as fazia dançar, começou a empurrar e puxar suas hastes, quase como se estivesse zangada. Isso fez com que algumas folhas fossem arrancadas de seus galhos e levadas pela brisa, reviradas pelo ar, antes de caírem suavemente ao solo. E é isso que acontece no outono, algumas pessoas chamam de morrer...

E a cada folha que caía, a árvore ía ficando despida. Como se cada folha fosse morrendo... E elas voltam na outra primavera? Mistério... Talvez não, mas a vida volta. E qual a razão para tudo isso?

A razão das folhas é dar sombra, brisa... e quando caem, elas dão força para as árvores, como se entrassem em suas raízes. As folhas "voltam" dando vida novamente.


A folha caiu... não sabia que se juntaria com a água e serviria para tornar a árvore mais forte.


E, principalmente, não sabia, que ali, na árvore e no solo, já havia planos para novas folhas na primavera.

Postagem publicado por Krika - a professora

_____________________________

 
Letras da Torre - Templates Novo Blogger