domingo, 26 de abril de 2009

Culinária Gaúcha - Italianos


Os homens do vinho ficaram nas terras altas



Embora tenham encontrado um Rio Grande mais organizado economicamente, os italianos tiveram de enfrentar dificuldades semelhantes às vividas pelos alemães. Mas, embora ambas as colonizações tenham sido feitas em zonas de mato, as áreas de ocupação italiana eram mais altas e mais acidentadas. Enquanto a colonização alemã atingiu seu ponto máximo em Nova Petrópolis (597 metros de altitude), a italiana se faria em altitudes que variavam entre 600 e 900 metros.Isto porque a colonização alemã seguira os vales dos rios de parte da Depressão Central, interrompendo-se nas encostas inferiores da Serra Geral. A região da Encosta superior estava desocupada, e a colonização italiana começaria ali - entre os vales dos rios Caí e das Antas, limitando-se ao norte com os campos de Cima da Serra, e ao sul com as colônias alemãs do vale dos rios das Antas e Caí.As primeiras colônias na Encosta Superior foram as de Conde dÉu e Dona Isabel (atualmente Garibaldi e Bento Gonçalves, respectivamente), criadas pela presidência da província em 1870, antes que se iniciasse o processo de imigração italiana no estado. Para ocupá-las, o governo provincial firmou contrato com duas empresas privadas, que deveriam introduzir 40 mil colonos em um prazo de dez anos.Mas, como normalmente acontecia com esse tipo de contrato - que também foi adotado em alguns momentos pelo governo central - o sucesso foi pouco. Em 1872 chegaram 1.354 imigrantes, no ano seguinte 1.607, no de 1874 foram 580 e no de 1875 só 315. Os motivos para isto foram vários. Na Europa Central, e em especial na Alemanha, havia uma prevenção generalizada contra o Brasil - que era visto como um local onde os imigrantes sofriam privações.Além disso, o governo provincial pagava menos para os transportadores do que o governo central, o que os desestimulava.
Quanto aos próprios imigrantes, preferiam ficar no sopé da serra, nas áreas já colonizadas, do que se arriscarem mato adentro. Por isto em 1874 só 19 lotes de Conde d'Eu estavam sendo cultivados, com apenas 74 pessoas vivendo no local. Desestimulado por esse quadro de insucesso, o governo provincial desistiu de administrar a colonização da área, e repassou-a para o governo central.É a partir de 1875 - sob a administração da União - que chegam as primeiras levas de italianos para Conde D'Eu e Dona Isabel. A área dessas colônias encontrava-se limitada pelo rio Caí, os campos de Vacaria e o município de Triunfo, sendo divididas entre si pelo caminho de tropeiros que seguia do local chamado de Maratá em direção ao rio das Antas (Conde d'Eu ficava à esquerda, Dona Isabel à direita).No mesmo ano - 1875 - foi criada a colônia Caxias, no local chamado pelos tropeiros que subiam a serra em direção a Bom Jesus de "Campo dos Bugres". Esta colônia limitava-se com Nova Petrópolis, São Francisco de Paula, o rio das Antas e Conde d'Eu e Dona Isabel. Dois anos depois, em 1877, foi criada uma nova colônia para imigrantes italianos, a de Slveira Martins, em terras de mato próximas de Santa Maria.Essas quatro colônias oficiais foram o núcleo básico da colonização italiana que, a partir dali, em uma primeira etapa, transbordaria para regiões próximas, que foram ocupadas por colônias particulares, e mais tarde atingiria o planalto. Foi assim que, em 1884, os colonos começaram a atravessar o rio das Antas e foi criada Alfredo Chaves; São Marcos e Antonio Prado (1885) foram, por sua vez, um prolongamento natural de Caxias.Também o governo imperial (pouco depois federal) criou as colônias italianas de Mariana Pimentel (1888), Barão do Triunfo (1888), Vila Nova de Santo Antonio (1888), Jaguari (1889), Ernesto Alves (1890) e Marquês do Herval (1891). A partir da Proclamação da República houve a preocupação de que as colônias criadas fossem mistas, com membros de várias etnias. Mas a idéia teve sucesso apenas parcial, pois geralmente os colonos se remanejavam, reagrupando-se, por iniciativa própria, segundo seus grupos étnicos.Da mesma forma que os alemães, os italianos tinham que desbravar a terra que adquiriam. Mas, agora, os lotes eram bem menores, tendo uma média que ficava entre 15 e 35 hectares. Ali plantavam produtos de subsistência, como o milho e o trigo. Mas o cultivo que marcou sua presença no Rio Grande do Sul foi a videira.Antes de sua chegada, a produção vinícola do Rio Grande era considerada de qualidade inferior. Mas os primeiros colonos trouxeram novas variedades de uvas e isto ajudou a aperfeiçoar a qualidade do vinho gaúcho. A partir do início deste século começavam a ser formadas cooperativas vinícolas e a produção foi crescendo e melhorando, transformando o estado no principal produtor de vinhos finos do país.

Fome e caos estão na origem da emigração
A emigração italiana, como a almeã, foi provocada por fatores eminentemente econômicos. Mas, embora a base das duas tenha sido semelhante - alterações da economia que impossibilitaram a subsistência do pequeno proprietário - o processo que resultou na emigração diferiu nos dois países.Entre as semelhanças, entretanto, convém destacar duas: a primeira, comum a toda a Europa, foi o grande crescimento demográfico, experimentado entre 1815 e 1914, que fez com que, nesse período, a população do velho continente saltasse de 180 para 450 milhões de habitantes, o que provocou a emigração para outros continentes de 40 milhões de pessoas - 85% das quais para as Américas. A segunda foi o processo de unificação, que em ambos os países foi tardia: em 1870 na Itália, em 1871 na Alemanha.Mas a Itália de 1870 - época em que começa a emigração maciça - apresentava suas peculiaridades. Ainda na década de 60, antes de concluída a unificação, a supressão das alfândegas regionais, a oferta de produtos industriais a preços reduzidos e o desenvolvimento das comunicações haviam destruído a produção artesanal, atingindo os pequenos agricultores - que complementavam a sua renda com o trabalho em indústrias artesanais existentes no campo.A unificação alfandegária - que impôs a toda a Itália o sistema alfandegário da Sardenha, que tinha as taxas mais baixas - fez com que as economias regionais, que até então, mais ou menos fechadas, conseguiam manter um certo equilíbrio, sofressem um violento baque. Também a disparidade econômica do Norte - que se industrializou mais cedo - e do sul (mais agrícola) agravou o quadro econômico do país.Preocupado em obter recursos para a realização de obras públicas, como ferrovias, o governo italiano tomava medidas impopulares, como o imposto sobre a farinha, que atingia duramente os pobres. Nas décadas de 70 e 80 várias decisões dessa ordem aumentariam os problemas.Exemplo disto foi a de controlar a entrada dos cereais vindos das Américas, que eram vendidos mais barato do que os produzidos localmente. Essa medida beneficiava apenas os grandes produtores, que vendiam o produto, já que os pequenos produziam apenas para seu uso. Mas, ao mesmo tempo, prejudicava toda a população, que era obrigada a comprar farinha por um preço mais caro.Também a indústria vinícola foi atingida por medidas desse tipo. O governo italiano resolveu unilateralmente decretar uma taxa alfandegária sobre a entrada de produtos. A França, como resposta, tomou atitude semelhante: decretou uma taxa para produtos italianos. Com isto, a exportação de vinho da Itália para a França caiu de 300 milhões de litros em 1887 para 1,9 milhão em 1890.A situação, do ponto de vista do pequeno agricultor, era caótica. A pequena indústria artesanal, que complementava a sua renda, tinha sido destruída. Os impostos estavam elevados. Os minifúndios eram cada vez menores e a solução era apelar para a passarinhada - caçar passarinhos se tornou a única alternativa para ingerir proteínas de origem animal. Aumentou também o consumo de pratos à base de milho, como a polenta.Com um dieta alimentar desequilibrada, os camponeses se tornaram subnutridos e fracos, e começaram a sentir o peso da visitante que sempre acompanha a miséria: a doença. Cresceu o número de casos de malária e de pelagra (avitaminose causada pelo consumo quase que exclusivo de milho). A alternativa foi emigrar.

A maior parte veio do Vêneto
Embora a situação econômica de toda a Itália tenha se deteriorado durante o período final do século passado, a crise não abalou igualmente todas as regiões. O Norte foi a primeira área a ser atingida, pois ali começou a se desenvolver a industrialização, deixando os agricultores que complementavam sua renda com o trabalho artesanal sem emprego e sem ter mercado para colocar seus produtos - que não podiam competir com os feitos pelas fábricas locais ou com os importados. Por isto, o norte da Itália forneceria as primeiras grandes levas de emigrantes, e o Sul só viveria o processo de emigração mais tarde, principalmente a partir do início deste século.O Rio Grande receberia parte dessas primeiras levas, a partir de 1875, vindos primeiro do Piemonte e Lombardia, e depois do Vêneto. Quando começou a imigração do Sul, em 1901, as terras disponíveis no estado já estavam quase que totalmente ocupadas e, por isso, no Rio Grande predominaram os italianos vindos do norte.Os primeiros colonos que chegaram aqui escreviam para suas famílias e amigos, contando as vantagens que encontraram na nova terra - e muitas vezes omitindo as dificuldades. Assim, atraíram novos imigrantes, e por isto muitos dos que vieram para cá são das mesmas localidades e até das mesmas famílias.A principal área de emigração para o Rio Grande, na Itália, foi o Vêneto, onde a crise era maior por volta de 1875, sobretudo nas províncias de Vicenza, Treviso e Verona. Também vieram muitos de Cremona, Mântua e parte da Bréscia, regiões próximas do Vêneto, e do Bérgamo, província no sopé dos Alpes. A região de Trento, especificamente na área de Trentino Alto Ágide (que só foi anexada à Itália após a Primeira Guerra Mundial) e de Friuli-Venécia Julia (principalmente nas montanhas próximas ao Vêneto) também forneceram emigrantes para o Rio Grande.Em um cálculo aproximado, estima-se que do total de imigrantes que veio para o estado, 54% era de vênetos, 33% de lombardos, 7% de trentinos, 4,5% de friulinos e as outras regiões forneceram os restantes 1,5%. Calcula-se que, entre 1875 e 1914, entraram no estado entre 80 e 100 mil italianos.A grande predominância de vênetos fez com que aqui os dialetos da região prevalecessem, e que, da fusão dos diversos dialetos, surgisse uma "língua geral", que é chamada de vêneto. Mas essa "língua" foi enriquecida com expressões locais, para designar hábitos e objetos inexistentes na Itália, tais como o churrasco (sorasco), bombacha (bombassa) e cangalha (gringaia).


O Rio Grande do Sul na época da imigração italiana
O Rio Grande do Sul encontrado pelos italianos era muito diferente daquele que os alemães viram ao chegar. De 110 mil habitantes em 1824 havia saltado para 440 mil. Dessa população, um sexto se achava concentrada na zona de colonização alemã, e o restante se reunia principalmente na depressão central.Já não existiam somente os cinco municípios de 1824 (Porto Alegre, Rio Grande, Santo Antonio da Patrulha, Rio Pardo e São João da Cachoeira). Eram agora 28, incluindo Porto Alegre, Alegrete, Bagé, Cachoeira, Caçapava, Canguçú, Conceição do Arroio, Cruz Alta, Dores de Camaquã, Encruzilhada, Itaqui, Jaguarão, Passo Fundo, Pelotas, Piratini, Rio Grande, Rio Pardo, Santa Maria, Sant'Ana do Livramento, Santo Antonio da Patrulha, São Borja, São Gabriel, São Jerônimo, São José do Norte, São Leopoldo, Taquari, Triunfo e Uruguaiana.A ferrovia já era uma realidade, existia rede telegráfica, sistema bancário organizado e a navegação fluvial a vapor encontrava-se bastante desenvolvida. Todos esses elementos facilitavam a comunicação entre os diferentes pontos da província, e permitiam uma atividade econômica mais sólida e organizada - não obstante ainda estivesse centrada na pecuária e na agroindústria do charque, couro e outros derivados.Além disto, a província estava mais "pacífica". A Guerra do Paraguai acabara há pouco tempo, as campanhas do Prata tinham ficado para trás, a Revolução Farroupilha - que havia atingido em cheio a colônia alemã de São Leopoldo em seus primeiros anos - era coisa do passado. Isto não significava que as coisas fossem permanecer assim: haveria a Revolução Federalista de 1893, a de 1923, a Revolução de 1930. Mas isto pertencia, então, ao futuro.Entretanto, uma coisa - e que era a motivação básica da imigração - permanecia igual. Ainda existia muita terra para ocupar, principalmente nas serras na encosta nordeste e no Alto Uruguai, em um total, na província, de 87 mil quilômetros quadrados de terras devolutas.

Culinária Italiana

A culinária italiana conhecida hoje é um resultado da evolução de séculos de mudanças sociais e políticas. Suas raízes se encontram no século IV na Idade Média e mostram a influência dos árabes e normandos que levaram os primeiros chefs notáveis à região da Itália. Essas influências ajudaram a moldar o que hoje é conhecido como culinária italiana, adicionando itens como: batatas, tomates, pimenta e milho.No século XVIII a maior parte da Itália era governada pela França, Espanha e Áustria. Foi no início deste mesmo século que livros de culinária italiana começaram a ser escritos e distribuídos, para que os chefs espalhados pelas regiões da Itália pudessem mostrar seu orgulho pelo país.


A culinária italiana tem várias características específicas, conhecidas mundialmente. No entanto, dentro da própria Itália, a culinária não só é regional, como também sazonal. As regiões têm características próprias que as diferenciam umas das outras. Utilizam diferentes ingredientes, receitas e até modos de preparo.Na Itália, as refeições podiam ter até cinco pratos servidos, com mais três depois de terminada a refeição. As refeições duravam horas e, em dias de festividades, podiam durar até o dia inteiro. Hoje em dia, esta tradição só é utilizada em feriados especiais e, mesmo assim, não de forma tão exagerada.


As refeições, antigamente, seguiam a seguinte regra:
1. Antipasti - tiragostos quentes ou frios.
2. Primo - um prato quente como pasta, risoto, gnocchi ou polenta.
3. Secondo - o prato principal. Normalmente, composto por peixe, carne bovina ou suína ou aves.
4. Contorno - uma guarnição, normalmente de salada ou legumes cozidos. Servido com o prato principal.
5. Formaggio e frutta - queijo e futas, a primeira sobremesa.
6. Dolce - a sobremesa em si, com bolos e biscoitos.
7. Caffè - Café e/ou expresso.
8. Digestivo - licores ou vinhos que, tradicionalmente, encerravam as refeições.
A culinária italiana que conhecemos hoje não é verdadeiramente italiana. A culinária de cada região da Itália difere-se bastante das outras, então não existe uma culinária própria para o país inteiro. Neste caso, costuma-se dizer que a culinária italiana é mundial, pois cada país pode adicionar seu toque especial à receita que desejar e servir um bom prato italiano.











Fonte: RS Virtual
Imagens: Google.

_____________________________________________

terça-feira, 21 de abril de 2009

Culinária Gaúcha – Alemães e Pomeranos


A história não é estanque. Ela não espera terminar uma fase para começar outra. Assim, apenas para tornar mais didática a exposição, optou-se por publicar os fatos históricos tendo-se por base os diferentes povos e orígens dos primeiros habitantes do Rio Grande do Sul. Esses povos e essas culturas se cruzarão, cronológicamente, na formação cultural e culinária do Estado e do sul do Brasil.



O começo da colonização maciça do Rio Grande
A primeira colonização maciça, após a tentativa feita com os açorianos, ainda no século XVIII, aconteceria, no Rio Grande do Sul, a partir de 1824, quando começaram a chegar os colonos alemães. Nos primeiros cinquenta anos de imigração foram introduzidos entre 20 e 28 mil alemães no Rio Grande, a quase totalidade deles destinados à colonização agrícola.
Essa primeira grande colonização alteraria a ocupação de espaços, levando gente para áreas até então desprezadas. Introduziria também outras grandes modificações. Até então, a classe média brasileira era insignificante, e se concentrava nas cidades. Os colonos alemães iriam formar uma classe de pequenos proprietários e artesãos livres, em uma sociedade dividida entre senhores e escravos.
A história da imigração alemã para o Brasil começou em 1822, quando o major Jorge Antonio Schaffer foi enviado por Dom Pedro para a corte de Viena e demais cortes alemãs, com o objetivo declarado de angariar colonos, e o não declarado de conseguir soldados para o Corpo de Estrangeiros situado no Rio de Janeiro. O segundo objetivo era, inicialmente, mais importante que o primeiro, pois tinha a finalidade de garantir a independência brasileira, ameaçada pelas tropas portuguesas que continuavam na Bahia após a declaração, e pela recusa de Portugal em reconhecer o Brasil como estado independente.
Mas a intenção de obter soldados estrangeiros não podia ser revelada nas cortes européias, porque nenhum país do antigo continente concordaria com isto. Após a experiência com Napoleão, a Europa desconfiava de qualquer um que pudesse ser tomado como aventureiro ou golpista. E Portugal procurava justamente fazer com que Dom Pedro fosse visto como o líder de uma rebelião.
Por isto, o trabalho de Schaffer foi dificultado. Usando a alegação de convocar colonos, em seus primeiros anos de trabalho von Schaffer convocou principalmente soldados - e uns poucos colonos. Porém, à medida em que o Império brasileiro foi se estabilizando, Schaffer passou, efetivamente, a se preocupar em enviar colonos. Para isto, anunciava aos interessados que, aqui no Brasil, receberiam 50 hectares de terra com vacas, bois e cavalos; auxílio de um franco por pessoa no primeiro ano e de cinquenta cêntimos no segundo; isenção de impostos e serviços nos primeiros dez anos; liberação do serviço militar; nacionalização imediata e liberdade de culto.
Daquilo que foi oferecido, ao menos a primeira promessa superou as expectativas: ao invés de 50, os colonos receberam (no início) 77 hectares. Os dois últimos itens não poderiam ser cumpridos, porque contrariavam a constituição brasileira. Dos outros itens, alguns também não foram cumpridos integralmente. Mas o que interessava realmente aos colonos era a posse da terra, e isto, ao menos, obtiveram, se bem que à custa de grandes sacrifícios.

Como era o Rio Grande do Sul no início da imigração alemã
Apesar dos esforços de ocupação, no início do século XIX o Rio Grande do Sul ainda estava muito isolado, e era enorme a sua área desocupada. Em 1822 existiam em todo o seu território cem mil habitantes (menos de 10% da atual população de Porto Alegre), distribuídos da seguinte maneira: No Planalto Setentrional havia cerca de 10 mil habitantes, sendo 6.750 na região das Missões e o restante nos Campos de Cima da Serra, na região ao redor de Vacaria. Essa região, aliás, só teria uma ocupação maior entre 1828 e 1850, quando lagunenses de origem lusa se estabeleceram no planalto, desenvolvendo ali uma economia pastoril, ligada mais a Santa Catarina e São Paulo do que a Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, devido às dificuldades do relevo e à floresta.
No litoral, entre Torres e Santa Vitória do Palmar estavam 23.960 habitantes (22% da população). Na Depressão Central concentrava-se a maior fatia (36%), graças a Porto Alegre (com 10 mil habitantes) e Rio Pardo (com 3.600). Os restantes 31% estavam espalhados pela Campanha, que contava com 22 mil habitantes.
A economia gaúcha centrava-se na pecuária. Portanto, os campos eram as zonas escolhidas para a ocupação luso-brasileira que, no entanto, não era muito intensa na região dos campos do Planalto. O Rio Grande tinha, em zonas desabitadas, quase toda a sua metade setentrional, compreendendo a zona de floresta na planície à margem dos grandes rios que formam o estuário do Guaíba, a encosta nordeste da Serra e os matos do Alto Uruguai.

As razões dos alemães
Por que os emigrantes alemães pretendiam deixar sua terra? A resposta é simples, e vale também para qualquer outro processo de migração humana: porque esperavam encontrar condições melhores. E, no início do século XIX, não eram boas as condições de vida do camponês alemão.
Até o início do século passado a Alemanha era essencialmente rural. Existiam os senhores, que possuíam áreas menores ou maiores, e os servos, que estavam ligados à terra, tendo o direito - que era hereditário - de cultivar uma determinada gleba, mas sem terem a posse da área que cultivavam. Tinham, também, obrigações - que variavam de região para região - relativas ao pagamento de taxas e a prestação de determinado número de dias de serviço ao senhor.
No início do século XIX, graças à pressão do aumento populacional que vinha se processando desde o século XVII, ao início do processo industrial e às guerras napoleônicas, a estrutura feudal alemã foi derrubada, embora a região continuasse essencialmente rural.
Abriu-se aos camponeses a possibilidade de deixarem de ser servos e se tornarem proprietários. Mas, para isto, tinham que ceder um terço de sua área para o seu senhor. Para o camponês que possuía uma área média foi uma solução benéfica: dava um terço de sua gleba e ainda ficava com o suficiente para se sustentar. Mas, para o pequeno camponês, a situação ficou difícil, e ele tinha que se empregar como trabalhador agrícola ou arrendar mais terras para cultivar para poder garantir seu sustento. Quando tinha muitos filhos - e essa era a regra entre os camponeses - a situação piorava. Cada filho herdava uma fração diminuta de terras. Diante desse quadro, a opção era emigrar.
Convém lembrar que, quando teve início o processo de emigração para o Brasil, a Alemanha não era ainda um país unificado. Era formada por diversos estados, que só se unifcariam em 1871.
Assim, dois fatores iriam resultar na emigração. O primeiro era a determinação - ou não - dos estados em deixarem seus súditos emigrarem. Pelo menos no início do período de emigração para o Brasil, a Áustria proibia a emigração, e a Prússia tratava de impedir ao máximo. Já em Württemberg e Hannover a postura era de liberalidade, enquanto que na Baviera existiam algumas limitações. O segundo fator que determinava a emigração era a situação econômica da região, em especial a situação da propriedade agrária: emigrava-se mais onde a situação era pior.
Os primeiros colonos alemães vieram das regiões de Holstein, Hamburgo, Mecklemburgo e Hannover. Logo, porém, a região de Hunsrüch e do Palatinado passaram a fornecer o principal contingente. Houve também grupos de pomeranos (toda a colônia de São Lourenço), de westfalianos, de wurtembergenses e de boemios, além de pequenos grupos de todas as partes da Alemanha. Quanto à religião, predominaram os protestantes, mas por pequena margem.

Dezenas de colônias no interior e 50 mil imigrantes
A primeira leva de colonos alemães chegou ao Rio Grande do Sul em 1824, tendo desembarcado, em 25 de julho, na colônia de São Leopoldo (antiga Real Feitoria de Linho Cânhamo). A essa leva inicial - composta de 39 pessoas de nove famílias - se seguiram outras e, entre 1824 e 1830 entraram no Rio Grande 5.350 alemães. Depois de 1830 até 1844 a imigração foi interrompida. Entre 1844 e 50 foram introduzidos mais dez mil, e entre 1860 e 1889 outros dez mil.
Entre 1890 e 1914 calcula-se que 17 mil alemães chegaram ao estado. A estimativa geralmente aceita é de que, entre 1824 e 1914, entraram no Rio Grande entre 45 e 50 mil alemães, e que, no total, foram criadas 142 colônias alemãs no estado.
A partir de São Leopoldo as colônias alemãs se espalharam primeiro pelas áreas mais próximas, atingindo depois zonas mais isoladas. Geralmente as colônias - principalmente as primeiras - se situavam à beira de rios. Isso tinha uma grande importância estratégica: em uma época em que os caminhos eram muito precários, os rios serviam como "estrada fluvial" para o recebimento de equipamentos e escoamento da produção.
Na primeira etapa o governo fez duas tentativas de colonização em locais menos acessíveis, mas ambas falharam. A primeira foi ainda em 1824, quando se decidiu reunir os imigrantes considerados indesejáveis em São Leopoldo (aqueles que criavam problemas) e enviá-los para ocupar a região das Missões. Assim, um grupo de 67 indivíduos foi encaminhado para aquela que seria a colônia de São João das Missões. Mas, ao longo da viagem e já na região, vários dos imigrantes adoeceram, ou debandaram, e o grupo começou a se dissolver, com seus remanescentes sendo conduzidos para São Borja.
A outra tentativa foi feita no litoral, em Torres. Seu objetivo era povoar a zona de mata entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e lá foram estabelecidos dois núcleos, a partir de 1826: um formado por católicos em São Pedro de Alcântara, outro de protestantes em Três Forquilhas. Isolados, sem poder comercializar sua produção, os dois acabaram por também se dissolver. Os alemães que ficaram na área se integraram à população e cultura da região, enquanto que alguns subiram a serra, indo para a zona de São Francisco de Paula e Bom Jesus.
Mas, de maneira geral, a colonização obedeceu a uma ocupação sistemática. Apesar da interrupção da imigração e colonização patrocinadas pelo governo central a partir de 1830 (a prática seria retomada mais tarde), o governo da Província (em alguns períodos) e particulares cuidariam de criar colônias e vender os lotes.
A partir de São Leopoldo foram ocupadas - por empreendimentos particulares - as margens do rio dos Sinos, com colônias como Mundo Novo (atual Taquara), de 1847; Padre Eterno, Sapiranga e Picada Verão (todas de 1850). Também foi loteado o médio Caí, onde se criaram Bom Princípio (1846), Caí (1848), Montenegro (1857) e Nova Petrópolis (1858), entre outras. Esta última, colônia provincial, foi o ponto mais alto que a colonização alemã atingiu na serra.Já no vale do Taquari e rio Pardo se instalaram Estrela (1853), Lajeado (1853) e Teutônia (1868), e até o fim do século as terras à venda do lado ocidental do médio Taquari estavam todas ocupadas por alemães. O governo da província, por sua vez, criou em 1849 a colônia de Monte Alverne em Santa Cruz, e em 1855 a de Santo Angelo - atualmente Agudo, nas imediações de Cachoeira.
No último decênio do século XIX não existiam mais terras à venda nas margens inferiores dos rios, e a serra já estava ocupada pelos italianos (que começaram a chegar na década de setenta). Iniciou-se então a colonização do Alto Uruguai, com colônias que iam desde Marcelino Ramos até o rio Ijuí. Nessa etapa foram criadas quase que exclusivamente colônias particulares, com algumas exceções, como Sobradinho (1901) e Erechim (1908), patrocinadas pelo estado; e Ijuí (1890), criada pela União.
Outra característica dessa fase é que, enquanto que nas colônias particulares predominavam grupos de uma mesma etnia, nas oficiais havia a preocupação de misturar elementos de diferentes origens. Isto foi feito, por exemplo, em Ijuí, que desde sua criação recebeu colonos das mais variadas procedências.
As novas colônias que surgiram a partir do núcleo inicial de São Leopoldo, não foram, entretanto, ocupadas apenas por imigrantes alemães. Houve um processo a que o historiador Jean Roche - estudioso da imigração alemã no Rio Grande do Sul - deu o nome de "enxamagem". Os filhos de colonos (ou mesmo os colonos) das zonas mais antigas saíam em busca de terra nas novas regiões, e com isto foram ocupando boa parte do Rio Grande. Quando, depois de 1914, não existiam mais áreas disponíveis no estado, esses colonos passaram a migrar para Santa Catarina e Paraná e, de lá, foram - em uma etapa mais atual - para o Mato Grosso.

Pomeranos, os plantadores de batata
Pomerano significa, literalmente, plantador de batata. A Pomerânia, de onde esse povo veio para o Brasil, está atualmente em território polonês. Descendentes de uma mistura de germanos com eslavos oriundos de regiões antigamente ocupadas pelos celtas, os pomeranos habitavam uma província da forte Prússia do século XVIII. Sua área original foi dividida há algumas centenas de anos, entre prussianos, suecos e poloneses. No século passado, esteve ocupada pela Áustria, Prússia e Rússia.
Tentando russificar à força os poloneses e os demais povos que estavam em seu território, o regime czarista forçou a imigração de centenas de milhares de pomeranos. Alguns se refugiaram na Alemanha e muitos procuraram outros países. Os que ficaram se miscigenaram rapidamente para evitar as perseguições. Assim, pode-se dizer que não existem pomeranos em suas áreas de origem. Perseguidos por todos os lados, os que ficaram na Europa perderam todos seus traços culturais, inclusive o dialeto que é considerado oficialmente morto.
No momento, o pomerano é falado apenas no Brasil e uma das colônias mais importantes está no Rio Grande do Sul, em Harmonia, próximo a São Lourenço do Sul. Outras estão em Santa Catarina e Espírito Santo. Mas, se falam o dialeto, os pomeranos não podem escrevê-lo corretamente. Desconhece-se a grafia do pomerano. Algumas pessoas apenas conseguem reproduzir os sons, e quando isso acontece somente outro pomerano pode entender alguma coisa. Entre as crianças, nem todas já conseguem falar a língua dos pais.
A relação dos pomeranos com os alemães são muito frias, embora sejam apontados como alemães. Mais simples, pobres, e de menor nível cultural, os pomeranos continuam sendo agricultores no Brasil, onde também plantam batatas, entre outras culturas: sua atividade, no momento, está muito diversificada e nos últimos anos tem sido um pouco melhor remunerada desde que começaram a plantar fumo.
A mistura racial fez com que, entre os pomeranos, não predominem os louros. Predominam homens e mulheres com cabelos pretos. Com pouco tempo para a diversão, a vida comunitária não é tão rica quanto a dos alemães: não se festeja o kerb (a festa mais importante dos alemães, ocorrida em cada comunidade no aniversário da inauguração da igreja, seja ela católica ou protestante) e não há o tiro-rei (festival de tiro, ao final do qual se escolhe o rei do torneio, fazendo-se um desfile pela cidade, seguido de grande festa). O canto coral é menos disseminado, embora seja importante.

A chegada a São Lourenço do Sul
A chegada de pomeranos e alguns alemães em São Lourenço do Sul começou trinta e quatro anos após o início de sua imigração para o Rio Grande do Sul, iniciada por São Leopoldo. Esse fluxo de pomeranos para a parte sul do estado se deve ao trabalho de Jacob Rheigantz. Ele era sócio da Casa Comercial de Guilherme Ziegenbein, de Rio Grande, e viajava muito para a região de São Lourenço, que já era ocupada há setenta anos por imigrantes açorianos e portugueses oriundos de Laguna.
Conhecendo as potencialidades da área para a produção de alimentos, Rheigantz celebrou um contrato com o Império, comprometendo-se a ocupar a Serra dos Tapes com alemães, suiços ou belgas - ele comprou as terras onde se daria o assentamento e receberia uma ajuda de custo por cada colono que assentasse.
Os primeiros imigrantes - todos alemães e principalmente pomeranos - chegaram em outubro de 1857 e cinco anos após já havia mais de três mil instalados. Como algumas terras compradas não foram entregues por Rheingantz, em pouco tempo se estabeleceu o descontentamento na colônia. Em 1867 um destacamente policial que se instalou na área proibiu a realização de bailes públicos, ajuntamentos de mais de três pessoas, jogos nas vendas e, entre outras coisas, que os colonos andassem armados. Apesar disso, no final desse ano os colonos, revoltados, invadiram a sede do destacamente e a casa de Rheingantz, obrigando-o a fugir.
Com a colônia pacificada, ele voltou anos depois e começou a adquirir terras lindeiras e instalou novos colonos. Quando viajou à Alemanha para selecionar um novo grupo morreu no porto de Hamburgo. A administração da colônia foi então assumida por seu filho, Carlos Rheingantz, que, em 1873, também fundou em Rio Grande uma das primeiras indústrias do estado, a Companhia União Fabril, cujas instalações ainda são preservadas na cidade. Por este motivo, abandonou a direção e os interesses da família na área foram vendidos em 1898 para João Batista Scholl, que terminou a implantação do empreendimento.
Harmonia é a área mais pomerana da região. Calcula-se que 99% dos moradores sejam pomeranos. É uma região composta por pequenas propriedades, onde trabalham as próprias famílias. A carroça puxada por juntas de bois, a aração manual da terra e a associação da pequena agricultura com a pecuária de leite e criação de porcos, são algumas das marcas registradas dessa área.

Os costumes dos pomeranos
Os pomeranos moram em casas mais simples que os alemães do Vale do Sinos e Encosta da Serra. Ao chegarem nas colônias, no século passado, começaram ocupando abrigos provisórios, cobertos com palha. Evoluíram para uma casa um pouco mais reforçada coberta com tabuinhas, até chegarem ao enxaimel, em que barras de madeira dispostas em diagonal sustentam pedras que, na época, subsituíam o tijolo. Muitos, entretando, preferiram uma casa mais simples, misturando o enxaimel com o tipo de moradia do caboclo da região, resultando daí uma construção em que não aparece a madeira - como se vê na Encosta da Serra -, e o reboco recebeu a aplicação de retângulos. A maior parte dos telhados é de zinco.
Embora não comemorem o kerb e não tenham mais o tiro-rei, porque desapareceram as sociedades de tiro, os pomeranos têm como sua dança mais típica o kraval, uma variação da dança das damas, que ocorre na Alemanha. Pode ser dançada nos salões das sociedades ou nas casas. Mas o kraval não dura toda a noite, estendendo-se apenas da meia noite às duas horas da madrugada. À meia noite a bandinha dá o sinal e, nesse momento, as mulheres ficam de um lado e os homens do outro, no salão. Cabe às mulheres, então, escolher o homem para dançar, com base num código muito rigoroso:- Elas não podem tirar para dançar o seu marido, noivo ou namorado. Se tirarem, ele paga seis cervejas. O cavalheiro, por sua vez, não pode fumar (a multa é de uma dúzia de cervejas) e nem sentar, o que é uma prerrogativa das mulheres.
O sinal para que as mulheres escolhessem o seu par era dado, antigamente, no momento em que a bandinha, soltando uma cordinha, fizesse baixar um cesto com um vaso onde havia cravos. Daí o nome de kraval. Ultimamente, porém, o vaso de cravos foi substituído por uma boneca de plástico vestida com roupas típicas, amarrada pela cintura.
A exemplo dos alemães, os pomeranos também gostam muito de cantar e, por isso, se associam em várias sociedades de canto, que em sua região são denominadas filarmônicas. Quando morre um sócio, os corais das sociedades vão cantar no enterro, a pedido das famílias.
O canto está ainda mais presente no casamento. Os convidados são recebidos e homenageados na despedida, por corais e bandinhas. Para cada casal é cantada uma música, e quando há luto nessa família os cantores ficam em silêncio. Dentro de casa há a dança do bolo: sorteia-se um casal que é obrigado a dançar com o bolo na mão. Depois passa-se um prato de cerâmica entre os presentes, para que dêem sua contribuição para os músicos. Eles ficam com o dinheiro, mas o prato jogam no chão na frente dos noivos, para que estes recolham todos os pedaços - segundo a tradição, isto dá sorte.
Até há alguns anos as noivas casavam de preto (como em todas as colônias alemãs), pois, nessa cor, a roupa poderia continuar sendo utilizada depois do casamento. Além do mais, por serem muito pobres, os pomeranos nunca tiveram condições de utilizar vestimentas coloridas, por não terem recursos para a compra dos pigmentos necessários.
Quando retornam do civil, na véspera do casamento religioso, os noivos ainda fazem uma visita a toda a sua plantação, "para dar sorte". No caso das filhas, a última a casar tem a obrigação de ficar em casa, para ajudar os pais. Quando o irmão mais novo casa antes do mais velho, este é colocado sentado em cima do forno de pão, enquanto uma bandinha toca em volta.
O compromisso entre namorados se estabelece no momento em que dançam duas ou três vezes nos bailes das sociedades. Quando o namorado visita a moça em sua casa, estabelece-se um compromisso mais sério, correspondente ao noivado. A virgindade não é valorizada. Se a moça ficar grávida antes do casamento e o namorado não assumir a paternidade, é este que "fica mal" diante da comunidade.
O churrasco e a salada de batata com ovo (sem maionese), que ultimamente também passou a receber tempero verde, é a base das festas de casamento. Mas o prato mais típico da culinária pomerana, que ainda tem muitos adeptos na região, é o peito de ganso defumado, que integra as refeições, o café colonial (pela manhã) e, por vezes, um lanche matinal e outro vespertino. O mais freqüente, porém, é que nestas ocasiões tomem café e comam lingüiça, que eles mesmos preparam.
A contribuição culinária alemã e pomerana

Carne de porco (assada e frita), würst (lingüiça), chucrute (conserva de repolho), nudeln (massa), kles (bolinhos de farinha de trigo com batata cozida), conserva de rabanete, galinha assada, sopa com legumes e ovos, kas-schimier (ricota), küchen (cuca), leb-kuchen (cuca de mel), mehldoss (doces de farinha de trigo), schimier (pasta de frutas), syrup (frutos cozidos com melado), weihmachts (bolachinhas), bolinhos de batata ralada, pão de milho, de centeio, de trigo, tortas doces. Café colonial (salgadinhos, salames, queijos, bolos).

Bebidas: Das bier - cerveja, chopp, Spritzbier (gengibirra). Assimilaram o chimarrão.

Fonte: RS Virtual = http://www.riogrande.com.br/
Fotos: Internet - Vários Sites

domingo, 12 de abril de 2009

De como o trigo virou pão


O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA
Retirado do blog da amiga Betty:
http://canto-do-conto.blogspot.com/







“DE COMO O TRIGO VIROU PÃO "



Quando o capim viu que tinha recebido tão belas espigas, deixou - em agradecimento - brotar em cada grão uma pequena irradiação, de maneira que as espigas pareciam cheias de pequenos sóis. Os grãos cresceram, cresceram e ficaram tão pesados que as espigas se inclinaram para a terra, dizendo-lhe: "Querida terra, o céu nos deu a luz e você nos deu a matéria.Em agradecimento enviamos nossas irradiações ao céu e inclinamos nossos grãos para você". Disse então a terra:" Vocês agora estão contentes por estarem assim carregadas de grãos, mas ainda terão que sofrer muito. Não desanimem, pois no fim ficarão brancas como a luz celeste e receberão um novo corpo, redondo e marrom como uma pequena terra". As espigas ouviram atentamente as palavras da terra.


Então chegou o lavrador e ceifou as espigas.Malhou o trigo tanto que os grãos saltaram de suas cascas."Este é o sofrimento de que a terra falou", pensaram as espigas. "Isto tem que acontecer para ficarmos brancas como a luz e redondas e marrons como a terra". Depois de terem sido malhados os grãos foram colocados em sacos. Ali dentro estava apertado e escuro.O lavrador pegou o saco nas costas e o levou para o moinho. A cada passo que dava, os grãos ralavam-se e desejavam sair daquele saco escuro. "Aqui está tão apertado e escuro", queixavam-se.


Depois o saco foi aberto e os grãos pularam para fora. Mas não alcançaram a luz. Foram, sim, para um funil ainda mais escuro. No moinho, o trigo foi moído e perdeu sua própria forma. Mas continuava a lembrar-se do que a terra lhe dissera e, por isso, suportava tudo.. Assim o trigo foi transformado em farinha, branca como a luz celestial.

Em seguida, a mulher do lavrador tomou a farinha e misturou-a com água, fermento e sal, e da massa formou um pão redondo.Levou-o ao forno, onde ele criou uma crosta firme e ficou parecendo uma pequena terra, redondo e marrom.


E assim cumpriu-se o que a terra prometera ao trigo quando este ainda estava no campo.


Postagem de Krika


_________________________


DESEJAMOS A TODOS OS AMIGOS


UMA FELIZ PÁSCOA


E UMA SEMANA DE MUITA LUZ E PAZ.









__________________________________

domingo, 5 de abril de 2009

Culinária Gaúcha - O Legado Português


Ao pesquisar sobre a culinária gaúcha, indo além do tradicional churrasco, deparei-me com este estudo de Luiz Henrique Torres, que narra a saga dos imigrantes portugueses que para cá vieram em busca de uma vida melhor. Fujo, portanto, um pouco do tema central que projetava ser essencialmente gastronômico.
É uma postagem longa. Peço paciência aos visitantes. Eu não poderia omitir essas histórias depois de conhecê-las.
Peço também à amiga Beta, a quem esta série é dedicada, para dividir a postagem de hoje com a amiga Luzia, de Alma Lusa, que de Lisboa acompanha estas modestas letras que brotam da torre e da alma de seu anfitriã
o.



-0-



A mulher portuguesa valoriza os produtos do solo americano; aproveitou as especiarias da Índia (cravo, canela, noz-moscada). Criou novos pratos, adaptou outros e conservou algumas receitas tradicionais (bacalhoada, caldo verde, acorda, pasteis, empadas, feijoada, cozido, fatias douradas, coscorões, pão-de-ló, papo-de-anjo, sonhos, pães, compotas, marmeladas, frutas cristalizadas, licores.

A culinária luso-brasileira pode ser assim distribuída pelas regiões gaúchas: Litoral (com influência açoriana) – peixe assado, grelhados, fervido, desfiado, moqueca de peixe, siri na casca, marisco ensopado, arroz com camarão, camarão com pirão. Pirão de água fria, pirão cozido, farofa, cucus torrado, beju, angu de milho, mingau de milho verde, paçoca de carne desfiada, lingüiça frita, feijão mexido, fervido de legumes, açorda, canja, galinhada, fervido de suquete (osso buco), mocotó, bolo de aipim, pães caseiros, “massas doces” (pão doce sovado) “farte” (pão com recheio de melado), melado com farinha de mandioca, roscas de polvilho, roscas de trigo (fritas), rosquetes, “negro deitado” (bolo de panela), bolo frito, sonhos, omelete de bananas, banana frita, pão-de-ló, sequilhos, rapaduras (com diferentes misturas), pé-de-moleque, “puxa-puxa”, balas diversas, pasteis doces e salgados, doce de panela (de frutas), doce
de leite, ambrosia, fatias douradas, bolos, pudins, empadas.
Bebidas – Concertada (vinho com água e açúcar), Queimadinha (queimar cachaça com açúcar), Licores diversos (de vinho, de ovos, de butiá, de abacaxi etc), Café, mate-doce.

Cozinha Depressão Central (influência açoriana e outras) – Canja de galinha, sopas diversas, feijoada, feijão branco, fervido (com legumes e carne), feijão mexido, quibebe, paçoca de favas, arroz de forno, carne de panela, carne assada no forno, bife enrolado, bife à milanesa, guizado de carne, bolo de arroz, pão recheado, empadas, pasteis, “rosinhas” de massa, ovos mexidos, ovos escaldados, “roupa velha” (sobras), peixe recheado, peixe escabeche, peixe frito, bacalhoada, bolinho de bacalhau. Conservas de pepino e cebola. Galinha assada, galinha recheada, arroz com galinha. Pães de forno, pão de panela, “mãe-benta”, biscoitos, “calça-virada”, coscorões, fatias-do-céu, merengues, broas, pudim de laranja, ambrosia de laranja, “manjar celeste”, pudim de pão, “ovos moles”, “fios-de-ovo”, arroz-de-leite, “bom-bocado”, mandolate, balas de leite, de mel, tortas
(doces), pé-de-moleque, “farinha de cachorro” (farinha de mandioca com açúcar).

Bebidas: gemada com vinho, licor de vinho, licores com furtas, vinho de laranja.






-0-


A COLONIZAÇÃO AÇORIANA NO RIO GRANDE DO SUL(1752-63)




LUIZ HENRIQUE TORRES




Fundamentação básica da emigração açoriana para o Rio Grande do Sul, destacando as motivações, a normatizacão para os emigrados, a viagem marítima e o povoamento açoriano da Vila do Rio Grande de Sao Pedro no periodo de 1752-63.






1 – INTRODUÇÃO


O ano de 1752 é o referencial cronológico que assinala o desencadear da imigração açoriana para o Rio Grande do Sul, a partir de sua chegada ao porto do Rio Grande de Sao Pedro. Em anos anteriores, açorianos ja desembarcaram no cais da então Vila do Rio Grande, porém a política dos casais se configurou em 1752 com a chegada de grande número de ilhéus.


Este capítulo épico no povoamento do Rio Grande do Sul acarretou o surgimento de várias cidades gaúchas e a difusão de hábitos alimentares, de linguajar, de práticas agrícolas, de adaptações arquitetônicas, etc, expressos nas singularidades da cultura luso-açoriana.

Na Vila do Rio Grande de Sao Pedro, assim denominada administrativamente a partir de 1751, os açorianos tiveram um papel colonizatório essencial para o seu desenvolvimento urbano, demográfico e econômico.



2 – O ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES

Portugal está dividido geográfica e administrativamente em parte Insular (arquipélago da Madeira e dos Açores no Oceano Atlântico) e parte Continental, situada em território europeu. O arquipélago dos Açores localiza-se no Atlântico Norte, estando dividido em três grupos de ilhas: grupo Oriental, constituída por Santa Maria e São Miguel; grupo Central, constituido pelas ilhas Terceira, Sao Jorge, Pico, Faial e Graciosa; e o grupo Ocidental, formado pelas ilhas Flores e Corvo.
Atualmente, o território possuiu uma área de aproximadamente 2.333km2. A Ilha de São Miguel é a de maior área, com 750km2, seguida da Terceira, com 500km2; a menor e a do Corvo, com 15km2. Os Açores estão distantes 800 milhas da costa de Portugal, estando sob o domínio português desde 1432. O arquipélago foi historicamente povoado por descendentes de portugueses e flamengos (Flandres e Belgica). O clima dos Açores é temperado marítimo e com intensa umidade relativa do ar. A situação geográfica do arquipélago, isolado no Oceano Atlântico e com fenômenos vulcânicos, fez com que os ilhéus estivessem voltados para o mar; ao mesmo tempo que impôs a solidão, despertou a criatividade para a sobrevivência nas limitações do espaço através da expressão cultural. O Oceano acabou sendo a fronteira da expansão agrícola que instigou a expectativa de dias melhores e de fartura em terras que o homem tornaria produtivas pelo trabalho.

3 – ANTECEDENTES DA COLONIZAÇÃO

O Rio Grande do Sul luso-brasileiro da primeira metade do século XVIII se restringia a poucos núcleos populacionais, cujo centro estava na Comandância do Presídio do Rio Grande de São Pedro, centro administrativo e militar que demarcava efetivamente a orientação da diplomacia portuguesa em garantir o domínio sobre o atual Rio Grande do Sul.
Grande parte do espaço almejado, o centro e o noroeste, estava sob o controle da Coroa Espanhola com o projeto civilizatório jesuítico-guarani das Missões, constituída por sete cidades e amplas estâncias missioneiras para a criação do gado. Os portugueses buscavam o controle do litoral e sul, com as fortificações em Rio Grande e também na direção da atual fronteira com o Uruguai (Forte de Sao Miguel), buscando a ligação com a Colonia do Sacramento do Rio da Prata.
Nos quadros do "uti possidetis", a legitimação do direito de posse através do efetivo povoamento dos territórios almejados, os açorianos foram vistos como os potenciais desbravadores a ocuparem os espaços deixados pelas ações diplomáticas e bélicas lusitana.
Com o Tratado de Madri de 1750, a necessidade de povoamento da região missioneira a ser abandonada pelos guaranis intensificou a busca de um efetivo povoamento pelos açorianos nesta região litigiosa.
Por uma série de fatores históricos, isto não acabou se efetivando, porém, a participação populacional açoriana fez surgir vários povoamentos e o desenvolvimento de atividades econômicas essenciais ao longo do seculo XVIII.
O Tratado de Madri estabelecera, como condição para a vigência de uma paz definitiva entre Portugal e Espanha, que a Colônia do Sacramento passasse à Coroa castelhana, e que, em troca, entregava à soberania portuguesa o território ao Norte do Ibicui, onde estavam as Missões Jesuítico-guaranis.
Para demarcar a linha de fronteiras, regressou ao Rio Grande o Governador e Capitão General do Rio de Janeiro e Minas, Gomes Freire de Andrade; na qualidade de embaixador e representante de Portugal e chefe supremo da Comissão Demarcadora, sendo, com iguais títulos, representante de Espanha, o Marques de Val de Lyrios.
Já em consulta datada de 26 de agosto de 1738, o Conselho Ultramarino portugues dirigiu-se ao rei, sugerindo que casais das ilhas fossem enviados ao Presídio do Rio Grande de São Pedro: (...) visto se achar estabelecida a fortificação do Rio Grande de São Pedro que V. Majestade se sirva querer tomar a última resolução nas consultas que o Conselho tem posto na real presença de V. Majestade para os transportes dos casais das Ilhas para o mesmo estabelecimento, porque só por este meio se poderá evitar a grande despesa que precisamente se há de fazer com os transportes dos mantimentos do Rio de Janeiro por falta de cultivadores que naquelas vastíssimas terras os fabriquem, além de ficarem, estes, também igualmente servindo para a sua necessária defesa, e ser do interesse do Estado acrescentarem-se o número de povoadores, o que para crescer consideravelmente as rendas reais do mesmo Estado, assim nos dízimos das terras que cultivarem como também nos direitos das alfândegas dos gêneros a que precisamente hão de dar consumo, matéria esta que se faz digna da alta e grande compreensão de V. Majestade."
Apesar de migrarem para promoverem o desenvolvimento de atividades agrícolas, as quais, por exemplo, foram implementadas inclusive com o plantio do trigo, os açorianos foram, ao longo das décadas, transformando-se de colonos agricultores em fazendeiros criadores.
Os primeiros estancieiros do Rio Grande do Sul, cuja distribuição de sesmarias teve início oficial em 1732, procediam de Laguna e tambem da Colônia do Sacramento e, a partir da década de 1750, os açorianos passam a ocupar estes espaços.
O aspecto mais destacado que impulsionou a colonização açoriana no Sul do Brasil deveu-se à pressão demográfica e à concentração territorial, associada à um fraco crescimento econômico das ilhas. Além disso, o arquipélago foi assolado por vulcanismo, abalos sísmicos e cataclismas que deixaram apreensiva a população.

4 – NORMAS PARA OS EMIGRANTES

O governo de Portugal acompanhava as aspirações dos ilhéus e, através do Conselho Ultramarino, definia as estratégias geopolíticas para a expansão territorial e populacional do Império ultramarino lusitano.
Em 31 de agosto de 1746, foi publicado, nas Ilhas dos Açores, um edital que abria inscrições para os casais que almejassem transferir-se para o Brasil.
Por esse documento, o Rei acenava com uma série de privilégios e regalias aos que quisessem lançar-se na aventura da imigração.
Entre esses privilégios, incluia-se o transporte até o local de origem por conta da Fazenda Real.
O criterio básico para inscrição era uma idade limite de 40 anos para os homens, e de 30, para as mulheres.
Quando desembarcassem no Brasil, as mulheres que tivessem idade superior a 12 anos e inferior a 20, casadas ou solteiras, receberiam uma ajuda de custo individual de 2$400 réis. Os casais receberiam 1$000 por cada filho. Os artífices receberiam 7$200 de ajuda.
Ao chegarem ao local de povoamento, receberiam "uma espingarda, duas enxadas, um machado, uma enxó, um martelo, um facão, duas facas, duas tesouras, duas verrumas, uma serra com uma lima e travadoura, dois alqueires de sementes, duas vacas e uma égua".
Enquanto preparavam as terras para o cultivo agrícola, esperando as primeiras colheitas, seriam sustentados pela Fazenda Real.
No primeiro ano, conforme o edital: "se lhes dara a farinha que se entende basta para o sustento, que são tres quartas de alqueire de terra por mês para cada pessoa, assim dos homens, como das mulheres, mas não as criancas que não tiverem sete anos; e, aos que tiverem até quatorze, se lhes dara quarta e meia para cada mês".
O edital prometia isenção do serviço militar para os homens.
Cada casal deveria receber uma data de terra de um quarto de légua quadrado, ou seja, 272 hectares. No caso de uma familia ser muito numerosa e necessitar de maior quantidade de terras para cultivar, poderiam fazer a solicitação.
O edital ainda previa a vinda de casais de estrangeiros, desde que não pertencessem à outras nações que tivessem domínios na América.
Para melhor disciplinar o assunto, a Coroa resolveu estabelecer em 4.000 o número máximo de casais que deviam ser transportados; e para facilitar, em como ordenar o referido transporte, arrematou-se a Feliciano Velho Oldenberg, que no ano seguinte desembarcava no Rio de Janeiro os primeiros contingentes. O unico critério de seleção era o limite de idade e a prática da religião católica.
Dadas estas providências, outro documento disciplinou o seu estabelecimento no Brasil. Por este documento, se vê que os casais deveriam ser fixados em número de 60 nas terras devolutas de cada localidade, onde se faria a distribuição das datas. Entre as datas assim distribuidas, deveria destinar-se uma légua quadrada para logradouro público. Nele, deveria ser assinalado o quadrado da praça, que seria de quinhentos palmos de face, e num dos lados deveria edificar a Igreja.
Como se vê, trata-se do planejamento de núcleos habitacionais que seriam as futuras vilas ou cidades do Brasil Colonial.
Cultivadores de trigo, de cevada, de legumes, de vinho, de frutas, de hortaliças, criadores de ovelhas e de gado, agricultores, os açorianos eram pequenos agricultores ou pequenos proprietários.
Agricultores de tradição, entre eles, os homens se distinguiam quase que exclusivamente pela sua maior ou menor riqueza agrícola. A opulência era avaliada pela quantidade de trigo que recebiam dos seus rendeiros.
No Sul do Brasil, a formação pecuarista definia a riqueza num mercado fundado no gado, e que teve como referência histórica o território da antiga Colônia do Sacramento do Rio da Prata, cuja economia baseava-se na criação de gado e aproveitamento e comércio de couros.
Dessa atividade econômica, participavam os portugueses da Colônia do Sacramento, espanhóis de Buenos Aires, Santa Fe e Corrientes.
Em 1695, o porto do Rio de Janeiro exportava 5.000 couros de procedência platina e sul-rio-grandense, o que mostra a importância deste comércio, que atrairia também os açorianos, além dos lagunenses e paulistas que motivaram a valorização econômica e a integração do Rio Grande do Sul a partir da rota Sacramento-Sao Paulo.
Os conflitos entre espanhóis e portugueses pela posse da Colônia do Sacramento determinaram a ocupação do território Rio-grandense, cujo valor econômico foi destacado pelo brigadeiro Jose da Silva Paes: "Ainda não se sabe lá dos grandes e fertilíssimos campos debaixo de seus domínios desde o Rio Grande e Serra de São Miguel a Passo de Chuí..."
A defesa da Colônia do Sacramento tornava onerosas as ações militares lusitanas. Era necessário ocupar a área almejada para edificar uma barreira à expansão espanhola. Neste contexto, surge a iniciativa de promover o povoamento com ilhéus.

(Para Jose Feliciano Pinheiro "... anuindo o soberano as representacoes dos habitantes das ilhas do Acores e Madeira para alivia-las da sobeja populacao que ali gorgulhava, decretou que se transportassem para este pais, a custa da real fazenda, ate quatro mil casais, ainda que estrangeiros fossem, contanto que professassem a religiao catolica romana, principiando a introducao pela ilha de Santa Catarina, e continente imediato; arrematou o transporte Feliciano Velho de Oldemberg com vinte e quatro condicoes, concernentes ao comodo e agasalho deles ate os lugares do seu destino; debaixo das clausulas, que os homens nao seriam de mais de quarenta anos de idade, e as mulheres de mais de trinta; que logo que desembarcassem no Brasil, a cada mulher que fosse de mais de doze anos de idade e de menos de vinte e cinco, casada ou solteira, se dariam dois mil e quatrocentos reis de ajuda de custo, e aos casais, que levassem filhos, mil reis cada um para ajudar a vesti-los; que chegando aos sitios designados para sua habitacao se daria a cada casal uma espingarda, duas enxadas, um machado, uma enxo, um martelo, um facao, duas facas, duas tesouras, duas verrumas, uma serra, lima e travadeira, dois alqueires de sementes, duas vacas, uma egua, e no primeiro ano se lhes daria a farinha, que se entendesse bastante para o sustento, que vinha a ser tres quartas do alqueire da terra por mes para cada pessoa, assim homens como mulheres, mas nao as criancas, que ainda nao contassem sete anos e as que tivessem ate quatorze anos, se assistiria com quarta e meia por mes; que os homens, que passassem por conta de Sua Majestade, ficariam isentos de servir na tropa paga, contanto que dentro em dois anos se estabelecessem onde se lhes destinasse, e se concederia a cada casal um quarto de legua em quadra para principiar sua cultura, sem que pelo titulo desta data se exijam direitos ou emolumento algum, e quando pelo tempo adiante aumentem de familia com que possam cultivar mais terreno, o pediriam ao governador do distrito que lho concedera na forma das ordens sobre esta materia. As mesmas conveniencias e vantagens se estendiam aos casais, naturais das ilhas, que quisessem vir de Portugal, por ali ja se acharem, e aos casais estrangeiros, que nao fossem vassalos de soberanos, que tivessem dominios na America, aos quais pudessem passar-se, dando aos que fossem artifices uma ajuda de custo, segundo o grau de pericia, nao excedendo de 7.200 reis a cada um; que, no primeiro ano da chegada, se assistiria com medicamentos aos casais doentes; que pelos filhos dos assim transmigrados, que casassem dentro do ano, se repartiria a mesma mencionada quantidade de ferramentas, armas, sementes e terra de cultura; que aos novos povoadores destas paragens fazia Sua Majestade merce pelos primeiros cinco anos da sua chegada de isenta-los de todo tributo, a excecao dos dizimos; que distribuidos em arranchamentos ou povoacoes de sessenta casais, pouco mais ou menos, delineando a largura das ruas, praca e logradouro publico, se prevenia para que lhes faltasse o pasto espiritual e sacramentos, que se erigissem igrejas com suficiente capacidade e se nomeassem para cada uma delas vigarios com a congrua de sessenta mil reis, e um quarto de legua em quadro para passal da sua igreja, etc. Mandou El-Rei escrever ao Provincial da Companhia de Jesus para que enviasse aquelas terras dois missionarios; e ao bispo de Sao Paulo, a quem entao obedecia no espiritual todo aquele territorio, avisou, pela Mesa de consciencia e Ordens, que provesse cada igreja destas de um vigario, ao qual no primeiro ano se assistiria com o sustento, e mais comodos da vida, como aos outros colonos, que findo o contrato atual da comarca de Sao Paulo, no qual se incluem os dizimos daquele distrito do Sul, se faca ramo a parte, pertencendo a arrecadacao do rendimento a provedoria do Rio de Janeiro, para dele se pagarem as congruas dos vigarios e missionarios". PINHEIRO, 1982, p. 71-72. )

O documento oficial disciplinador dos núcleos de povoadores refere-se à povoados de 60 casais como número ideal para povoamento, porém, o deslocamento dependia da disponibilidade de transporte marítimo para o envio, conduzindo números diferenciados de casais que começam a chegar em grande número ao porto do Rio Grande, a partir de 1752.
Um documento enviado junto com o ofício de 22 de setembro de 1780, do vice-rei Luis de Vasconcelos e Sousa para o governador Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara, traz o nome dos primeiros colonizadores:
"Relação dos primeiros casais e filhos dos ditos que foram para o Rio Grande na Sumaca N. Sra. da Conceição, Santo Antonio e Almas, de que é mestre Jose Joaquim de Freitas Lisboa.
1. Jose Rodrigues e sua mulher Ana Jacinta. Filhos: Manuel, Maria, Ana e Rosa.
2. João Duarte e sua mulher Teresa Maria. Filhos: Manuel, José, Antonio, João, Maria, Teresa e Catarina.
Cada um destes cabeças de casal recebeu uma enxada, uma espingarda, uma serra, uma foice, um machado, uma picareta, uma enxó, uma fechadura e um martelo.
Casais que ficaram para ir na primeira ocasião que se oferecer:
1. Jorge da Serra e sua mulher Josefa Teresa. Filhos: Francisca, Antonia, José, Ana e Maria.
2. Manuel Francisco e sua mulher Maria Rosa. Filhos: José, Manuel, Maria, Ana e Rosa.
3. Jose Antonio e sua mulher Rosa Clara. Filhos: Francisca, Antonio, Catarina e Maria.
4. Antonio Inácio da Silveira e sua mulher Maria Jacinta. Filhos: Manuel, Diogo, Mariano, Antonia.
5. João Francisco de Sousa e sua mulher Genoveva Inacia. Filhos: Jose, Manuel, Clara, Teresa, Mariana e Mariana Rosa, cunhada dos ditos.

5 – A VIAGEM

O deslocamento dos açorianos das Ilhas para o Brasil envolveu as normas oficiais da Coroa Portuguesa, o transporte marítimo e as difíceis condições de sobrevivência durante a viagem.
A travessia marítima pelo Atlântico no século 18 era demorada, e com riscos consideráveis à saúde dos passageiros. Antecedendo a migração alemã e italiana do século 19, os açorianos sofreram de forma ainda mais dramática as dificuldades de deslocamento até a terra da promissão: o Brasil.
O primeiro empresário responsável pelo transporte dos açorianos, o contratador de tabacos Feliciano Velho Oldenberg, recebeu do rei de Portugal a autorização para comerciar livremente, no Brasil em troca do transporte gratuito de um casal de açorianos para cada cem toneladas de carga transportada.
A participação de Oldenberg foi muito criticada, inclusive pelas autoridades, devido às péssimas condições do transporte e pelo grande número de mortos e doentes durante a viagem.
Para Miguel Frederico do Espirito Santo, a viagem, que levava de dois a tres meses, era extremamente penosa, não discrepando das viagens comuns do século 18.
A falta de higiene tornava precária a convivência a bordo do navio. Não havia o hábito do banho, e no navio não havia água disponível para este fim. Como os passageiros não mudavam a roupa, o cheiro à suor e à sujeira acumulavam-se. O local onde dormiam, mesmo sendo diariamente lavado, não chegava a secar, fazendo com que a umidade aumentasse a pestilência do ar. "O transcurso era extremamente penoso. O ambiente no barco era promíscuo, os alimentos eram escassos, a higiene era deficiente, e a água apodrecia poucos dias depois de começada a viagem. A maior parte dos passageiros adoecia: febres, infecçôes intestinais, pneumonias, crises de fígado, escorbuto.
A mortalidade era grande. Os corpos eram jogados ao mar. O escorbuto, ou mal de Luanda, era o que mais estrago gerava, provinha da carência de vitamina C, e era caracterizado por hemorragias".
Conforme o historiador Henrique Wiedersphan, o Regimento Régio de 5 de agosto de 1747 buscava garantir a ordem nos navios e promoveu o isolamento das mulheres do contato com os demais passageiros. "O Regimento chegara a impor um regime de verdadeiro enjaulamento, como se as mulheres estivessem em prisões, recebendo seus alimentos através de postigos, etc. Somente o cirurgião e o capelão podiam penetrar nos alojamentos delas, que aí viajavam com seus filhos menores, e, assim mesmo, apenas para tratá-las ou para sacramentá-las, tudo na presença obrigatória do comandante do navio.
Permitia-se também falassem com elas os respectivos maridos, filhos e irmãos, embora apenas à hora da refeição principal, e sem se achegarem muito delas".
Na interpretação do historiador catarinense Oswaldo Rodrigues Cabral, as mulheres eram as maiores penalizadas durante as viagens. Segundo ele, "quando nos dias santificados celebrasse o capelão, poderiam as mulheres sair a ouvir missa ao pé do altar, passando, na ida e na volta, entre alas de guardas armados que as separavam do resto dos homens, colonos e tripulantes. Durante os oficios, ficavam à frente, separadas sempre pela dita guarda, e, acabada a cerimônia, regressavam à prisão, na qual se sujeitavam à disciplina imposta por duas dentre todas, de maior graduação e capacidade".
Os alojamentos eram mal arejados e superlotados, e os espaços destinados às mulheres eram minúsculos, "não se pode permitir nem ao menos o pensamento de estas câmaras, em que as pobres mulheres faziam a travessia, com raríssimas e rapidíssimas saídas, pudessem oferecer, para amenizar todo o rigor do isolamento, qualquer sombra de conforto. Os melhores cômodos eram para as pessoas de qualidade e para os capelões. Se algum homem ousasse dirigir-se a qualquer das mulheres, sem as imunidades do parentesco, arriscava-se a ter diminuída a sua ração, com prisão na casa da bomba – que não havia de ser muito confortável –, ou a ser metido a ferros por tempo variável, de acordo com a gravidade da transgressão".
Ainda segundo Oswaldo Rodrigues Cabral, "não é de admirar, com semelhantes disposições, que a viagem se transformasse num verdadeiro tormento, principalmente para as mulheres e para as crianças que lhes faziam companhia, as quais, não poucas, não puderam resistir, adoecendo e morrendo durante os meses da travessia".
Infelizmente, "muitos dos que abandonaram as ilhas na esperança de melhores dias no Brasil desejado, foram sendo sepultados nas águas do Atlântico, com os seus sonhos e com as suas ilusões. E os que resistiram chegaram ao seu destino como verdadeiros espectros". Com a deterioração da água após poucos dias e com a alimentação "exclusivamente composta de gêneros em conserva, pobre de víveres frescos, começassem já os viajantes a sofrer as consequências, com o aparecimento das mais variadas afecções. Na promiscuidade dos alojamentos, as afeccões iam passando de uns para os outros. Surgia a parasitose. Surgiam as disenterias. E, com o decorrer dos dias, quando a viagem se adiantava, em meio do caminho entre o céu e o mar, aparecia o pior: o mal de Luanda".
O pesquisador da temática açoriana João Borges Fortes, no livro Casais, relatou que, em 1750, Francisco de Souza Fagundes substituíra Feliciano Velho Oldenberg no transporte dos açorianos ao Brasil. Porém, o tratamento não melhorou. Um navio levava até três meses de viagem até a Ilha de Santa Catarina, e, quando nesta chegava, "eram doentes, mortos e moribundos no meio de um montão de estropiados que desembarcavam, num desfile tétrico ante o povo e autoridades".
Manuel Escudeiro de Souza, governador da Ilha de Santa Catarina, fez um relato ao rei sobre um desembarque dos migrantes. "Três navios haviam chegado com pouca diferença um do outro. O último aportou no dia 20 de janeiro (1750), trazendo mortos 10 adultos e dezesseis crianças, outros morreram ao desembarcar, e 130 se recolheram doentes a dois hospitais, com malignas e correição escorbútica."
Borges Fortes também se refere à desgraça que atingiu duas outras embarcações: "A 23 e 25 de maio desse terrível ano de 1753, ocorreu o doloroso naufrágio de duas sumacas carregadas de famílias açorianas que se encaminhavam para o Sul. O trágico acontecimento deu-se na barra Sul de Santa Catarina, na ponta da Ilha, que desse fatal sucesso recebeu o nome sinistro de Ponta dos Naufragados. Dos infelizes náufragos, só se salvaram 77 pessoas, que tudo perderam do que lhes pertencia, tendo de recorrer à bondade de seus semelhantes e do governo local, sendo todos de manifesta generosidade para com os desgraçados. Desses 77 salvos, poucos foram para o Rio Grande, a maior parte preferiu estabelecer-se na Vila Nova da Laguna, hoje cidade de Imbituba. Temos portanto, positivamente, que, até o ano de 1753, a estatística de 278 casais entrados no Rio Grande não sofreu oscilação sensível, portanto os desastres marítimos não permitiram acrescentar o saldo das remessas".
Constata-se que a viagem era o primeiro grande desafio a ser vencido. Tanto na rota Açores-Santa Catarina quanto na viagem em embarcações menores para Rio Grande. Desafio que seria acrescido de outros, ligados à posse da terra, à produção agrícola, à adaptação.

6 – AÇORIANOS NA VILA DO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO (1752 - 1763)

Desde janeiro de 1748, os casais açorianos começaram a desembarcar no porto do Desterro em Santa Catarina, porém, à Vila do Rio Grande de São Pedro eles só chegaram na década seguinte.
Em setembro de 1749, um espião espanhol esteve observando a Vila, e constatou que nenhuma família havia chegado à ocupação portuguesa. A expectativa da vinda dos casais açoriana está contextualizada nas tratativas do Tratado de Madri, assinado em janeiro de 1750, quando a efetiva ocupação das terras, o "uti possidetis", era o desafio que a Coroa de Portugal buscou enfrentar com um povoamento planejado com os ilhéus.
A consolidação dos portos do Desterro, na Ilha de Santa Catarina, e do Rio Grande, no canal do Rio Grande de São Pedro, garantia o controle do litoral meridional, propiciando a expansão colonizatória lusa em direção ao oeste, a almejada região ocupada pelas Missões Jesuitico-Guaranis. A vinda de casais açorianos para Rio Grande já estava ventilada em documento da Coroa portuguesa (1735), o qual permitia que "em cada navio que partisse das Ilhas dos Açores para o Brasil se enviasse cinco casais para os presídios da Ilha de Santa Catarina e Rio Grande de São Pedro".
Portanto, antes da efetivação da ocupação do canal sul, a Coroa já incentivava o povoamento açoriano. A pressão para efetivação de uma sistemática migração foi feita nas Ilhas pelos açorianos, especialmente a partir de 1746. O contrato com o empresário responsavel pelo transporte, Feliciano Velho Oldenberg, foi assinado em 1747, na expectativa de transportar 1.000 pessoas até a Ilha de Santa Catarina. Outro empresario foi Francisco de Souza Fagundes, que, entre 1749 e 1754, foi responsável pelo transporte de ilhéus, os quais, segundo Walter Piazza, totalizaram aproximadamente 6.071 pessoas que chegaram até a Ilha de Santa Catarina.
O deslocamento para Rio Grande ainda dependia, segundo o governador da Ilha de Santa Catarina Manuel Escudeiro, em "selecionar aqueles que ainda estivessem em condições de poder suportar um acréscimo de vários dias aos que já traziam de viagem", e também em "conseguir embarcações de pequeno calado capazes de transpor o porto do Rio Grande". O Conselho Ultramarino instruiu para que "todas as embarcações que se destinassem ao Rio Grande fizessem escala em Santa Catarina, para transportar os casais em condições".
Esse transporte assistemático e possivelmente em grupos reduzidos dificulta uma conclusão de quantos casais vieram para Rio Grande. Conforme a historiadora Maria Luiza Queiroz, o primeiro assentamento de casais na Vila remonta a 22 de novembro de 1750, indicando uma pequena entrada neste ano. Para Queiroz, a Vila do Rio Grande foi a porta de entrada da corrente açoriana que se deslocou da Ilha de Santa Catarina para o continente do Rio Grande.
Atendendo ao objetivo principal de sua imigração, os casais deveriam ser deslocados em grupos para o interior, e lá aguardar a ocasião para ocupar a regiao das Missões. Entretanto, a resistência indígena, já a partir de 1753, e a consequente Guerra Guaranítica, que se estendeu ate 1756, tornaram impossível a concretização desses planos e determinaram a permanência da quase totalidade do contingente açoriano na propria Vila do Rio Grande. É provável que, entre 1752 e 1754, grupos de casais tenham apenas passado pela Vila, seguindo logo para o interior; nessa época, Gomes Freire fortificava três áreas, estrategicamente, importantes para manter acesso à região a ser incorporada; Santo Amaro, onde estabeleceu os armazéns de abastecimento do Exército, Rio Pardo, onde erguera o Forte de Jesus-Maria-Jose para garantir aquela fronteira, e o porto do Arraial de Viamão, base de manutenção dos outros dois pontos.
Os historiadores João Borges Fortes e Oswaldo Cabral apontam o mês de abril de 1752 como a referência para a vinda dos casais açorianos de Santa Catarina. Mesmo que esporadicamente tenham chegado desde 1750, é neste ano que a presença açoriana é quantitativa nos dados demográficos da Vila do Rio Grande.
O impulso da colonização açoriana está demarcado no ano de 1752, o que pode ser constatado nos batizados da população livre açoriana, que, em 1751, foi quatro registros, e, em 1752, passou para 42 registros.
Queiroz acentua que a importância da imigração açoriana para a Vila do Rio Grande, em termos demográficos, foi excepcional. Ela representou um acréscimo, em menos de cinco anos, de pelo menos 1.273 pessoas adultas brancas, a uma população que, incluindo todos os grupos raciais, na metade da década anterior, teria 1.400 almas.
De imediato, estabeleceu-se um predomínio numérico do grupo sobre a população branca da vila, e, possivelmente, também sobre o conjunto da população livre.
A historiadora também destacou que a produção açoriana foi fundamental para afastar da Vila o espectro da fome, que a rondava desde a sua fundação. A população já não dependia apenas da carne e da importação de farinha para sobreviver, e podia contar com hortaliças, legumes e frutas que eram produzidos para o consumo interno.
Como bem salientou Borges Fortes, "só a Vila do Rio Grande tinha se beneficiado com a esplêndida sementeira que ali ficara retida". Na verdade, esses eram os resultados esperados pela Coroa ao promover a imigração açoriana para o sul do Brasil, e certamente mais amplos teriam sido se as terras, animais e implementos tivessem sido distribuídos na forma proposta. Em relação ao lugar social dos açorianos na Vila do Rio Grande, Queiroz observa que o insignificante número de famílias açorianas que se tornaram proprietarias de escravos até abril de 1763 (invasão espanhola) significa claramente que, nesta fase, a mão-de-obra básica das pequenas propriedades – as chácaras ou sítios –, que os casais açorianos partilharam com tios, primos, sogros, e outros casais, foi essencialmente livre, branca, açoriana; os açorianos constituiram a autêntica classe camponesa da sociedade rio-grandina deste periodo.
De acentuada relevância foi o povoamento da Vila do Rio Grande de Sao Pedro, pelo contingente açoriano até 1763. Porém, em outras localidades do Rio Grande do Sul, os açorianos ficaram abandonados do apoio estatal prometido. O drama épico da saída das ilhas e chegada ao Brasil persistiu nas décadas posteriores à sua chegada.
O assentamento previsto na Provisão de 9 de agosto de 1747 foi protelado por décadas. Portugal, neste periodo, estava com a balança comercial deficitária. A ocupação do território missioneiro, a partir do previsto no Tratado de Madrid, frustrou as expectativas dos casais, pois a área continuou sobre controle da Coroa Espanhola. A economia mineradora no Brasil colonial apresentava queda na produção, e a cotação internacional do açucar era baixa. Os custos de manutenção das tropas e a reconstrução de Lisboa, que fora destruida pelo terremoto e maremoto de 1755, deixou deficitário o Erário Régio lusitano. Uma situação metropolitana e ultramarina complexa em que a colonização açoriana inseriu-se e que os colonos sentiram severamente os efeitos, inclusive com a dominação espanhola na Vila do Rio Grande.
Após a retomada lusitana e expulsã espanhola, durante os governos do brigadeiro Marcelino de Figueiredo (1769-1780) e do brigadeiro Sebastiao da Veiga Cabral e Camara (1780-1801), é que o povoamento açoriano, que já havia difundido-se, passou a ser organizado com legalização de terras em núcleos como Porto Alegre, Viamão, Osório, Mostardas, Santo Amaro, Cachoeira, etc. Novas conjunturas e perspectivas abriam-se aos colonizadores dos Açores nas duas últimas décadas do século XVIII.
Após a viagem maritima, o drama do abandono e do conflito com os espanhois, novos desafios aguardavam os colonizadores açorianos nos primórdios do seculo XIX.

BIBLIOGRAFIA
BARROSO, Vera Lucia Maciel. Acorianos no Brasil. Porto Alegre: EST, 2002.
_____. (org.). Presenca acoriana em Santo Antonio da Patrulha e no Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: EST, 1993.
BORGES FORTES, Joao. Os casais acorianos: presenca lusa na formacao sul-riograndense.
Porto Alegre: Martins Livreiro, 1978.
BUNSE, Heinrich. Sao Jose do Norte: aspectos linguistico-etnograficos do antigo
municipio. Porto Alegre: IEL, 1983.
CABRAL, Oswaldo. Os acorianos. In: Anais do 1o Congresso de Historia Catarinense.
Florianopolis: Imprensa Oficial do Estado, v. 2, 1950, p. 503-608.
CESAR, Guilhermino. Historia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1980.
COLECAO DE DOCUMENTOS DE JOSE DA SILVA PAES. Revista do Instituto Historico
e Geografico do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: IHGRS, 1949.
ESPIRITO SANTO, Miguel Frederico do. Acorianos no Sul do Brasil: da prata de Potosi ao
ouro das Gerais. In: BARROSO, Vera Lucia Maciel (org.). Presenca acoriana em Santo
Antonio da Patrulha e no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST, 1993.
LAYTANO, Dante. Origem da propriedade privada no Rio Grande do Sul. Porto Alegre:
Martins Livreiro, 1983, p. 21-22.
MACEDO, Francisco Riopardense de. Acorianos para o Sul do Brasil. Revista do Instituto
Historico e Geografico do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: IHGRS, 1998.
PESAVENTO, Sandra. Historia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1980.
PINHEIRO, Jose Feliciano Fernandes. Anais da Provincia de Sao Pedro. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1982.
QUEIROZ, Maria Luiza Bertulini. A vila do Rio Grande de Sao Pedro. Rio Grande: Ed. da
FURG, 1987.
SANTOS, Corcino Medeiros dos. Economia e sociedade do Rio Grande do Sul: seculo
XVIII. Sao Paulo: Companhia Editora Nacional, 1984.
TORRES, Luiz Henrique. Camara Municipal do Rio Grande – berco do parlamento
gaucho. Rio Grande: Salisgraf, 2001.
Biblos, Rio Grande, 16: 177-189, 2004. 191
VIEIRA, Euripedes Falcao; RANGEL, Susana Salum. Planicie costeira do Rio Grande do
Sul: geografia fisica, vegetacao e dinamica socio-demografica. Porto Alegre: Sagra, 1988.
WIEDERSPHAN, Oscar Henrique. A colonizacao acoriana no Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: EST Sao Lourenco de Brindes/Instituto Cultural Portugues, 1979.

________________________________________________

 
Letras da Torre - Templates Novo Blogger