domingo, 25 de janeiro de 2009

Balseiros - VI


Imagem: Inês Seppi em http://fotolog.terra.com.br/

Fim de uma viagem... Preparação para outra

Quando os balseiros chegavam ao seu destino, em São Borja/RS, encontravam com o patrão, que já estava à espera de seus empregados. Algumas vezes eram recepcionados com um churrasco, para comemorar a chegada. Ali mesmo, os trabalhadores recebiam seus pagamentos.

Em épocas de enchente, os bancos ficavam abertos, também, à noite. Alguns já gastavam o seu dinheiro ainda em São Borja, mas a maioria trazia para casa e investia nos negócios da família.

No entanto, para Angeli, haviam outras formas de gastar o dinheiro:

“A descida de balsa para o peão era uma aventura gostosa. Além de viajar e conhecer outros lugares ganhavam um bom dinheiro. Em cinco dias recebia o valor de dois meses de trabalho, mas, como não tinha noção de economia, gastava tudo em supérfluos, principalmente coisas da Argentina. O Uruguai era uma esperança, uma porta que se abria para o futuro, para as aventuras, as farras nas descidas, os cabarés de São Borja que na época de enchente se enchiam de mulheres de todos os cantos e principalmente correntinas... O balseiro quase sempre era explorado pelas damas da noite, e muitas vezes um velho remador tinha que pedir dinheiro emprestado para voltar, porque gastara todo o seu em uma única noite.”

O retorno acontecia por via terrestre. De São Borja até Santa Maria, eles vinham de trem. De Santa Maria a Erexim, de ônibus e de lá, vinham a pé até Itá (aproximadamente 50 km). A partir dos anos 1950, era utilizado o caminhão como meio de transporte até Erexim. De lá, a Itá já poderiam dispor de ônibus. O retorno demorava de três a quatro dias. Dependendo das condições do tempo, muitas vezes esses trabalhadores logo seguiam viagem com mais uma balsa pelo rio Uruguai.

Enquanto os balseiros retornavam para casa, o patrão, juntamente com um ou dois peões, ficava para comercializar a madeira. Os trabalhadores cuidavam da balsa e o patrão procurava os compradores. Muitas vezes a negociação era difícil, em função da superprodução e da especulação. Isso prolongava a permanência em São Borja. Eventualmente pernoitavam nos hotéis da cidade, o Glória e o Central. A madeira era vendida por varas. Dezoito varas davam um metro cúbico. Os compradores eram brasileiros e argentinos. Eles adquiriam as toras para exportar.

Após receberem os pagamentos, iniciavam-se as preparações para o retorno. Cada um era responsável pelos seus custos. Em São Borja, eles compravam a passagem e vinham de trem até Santa Maria. Para isso, viajavam durante um dia. De Santa Maria a Erexim, mais um dia e meio, de ônibus. De lá, nos primeiros anos, vinham a pé até Itá, aproximadamente 50 quilômetros.

Carregavam uma mochila com seus pertences e o pagamento para a viagem. Segundo Angeli,
“Na bagagem desses homens arrojados iam os presentes para a família: sedas, crepes, gabardinas, mantos, chalés e perfumes. As mulheres dos balseiros eram as damas mais bem vestidas da região”. No final da década de quarenta, já podiam voltar de caminhão até Erexim e de lá vinham de ônibus. A grande dificuldade era que em épocas de cheias as estradas ficavam intransitáveis, devido à lama existente.



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O dia ainda não amanhecera de todo, as nuvens atrasara o sol, a fúria do rio espantara os biguás, e a umidade das penas calara os pios dos bem-te-vis.

As réstias de luz que rompiam as frinchas das nuvens prateavam, aqui e ali, o lombo das ondas revoltas.

Fora uma noite mal dormida. Fulgêncio não pregara o olho. Tiço dormira um pouco, até o meio da madrugada, depois ficou desperto, atento ao movimento do pai, no quarto ao lado. Na outra margem do rio, Natalício amanhecera mateando, acompanhando o bruxulento movimento das sombras nas paredes do rancho, ora apagadas como num sonho vago, ora bem desenhadas e nítidas como um espectro de gavião, conforme as labaredas mermavam ou se avivavam com os gravetos achegados.

A sanga onde estava amarrada a balsa, já virara um Uruguai só, mas sem a correnteza do canal do rio.

Quando Fulgêncio soltou as amarras, a balsa seguiu lenta para o rio grande, como se conhecesse o caminho e estivesse esperando, saudosa, o encontro com as águas ligeiras.

Ao sair do remanso, adernou para a direita, batida pela força das águas que lhes vinham do Uruguai. Era a hora do Prático assumir o seu papel. Gritando com os remadores de Itá, que estavam do lado direito, empunhou seu remo e aos poucos corrigiu o rumo, cortando em diagonal o rio, afastando-se da margem catarinense.

As toras eram finas e tortas e mesmo empilhadas em dois lastros sobrepostos deixavam ver a água passando por baixo, quando deslizava por breves momentos, e espirrava como uma chaleira fervente quando batia nas ondas.

Antes mesmo de chegar à caixa do rio, o rancho construído com galhos amarrados com cipós pendeu para um lado, e com os primeiros solavancos das ondas vomitou tudo o que havia dentro, esparramando a panela e o arroz, a chapa de lata e o garrafão de cachaça, que rolou para as águas.

- Cuida da bóia, Florão. Cuida da bóia.
- Natalício óia a pinga...
- Vicente; corre cá, desgraçado, corre cá!...

A balsa rodopiou na corredeira e soltou as toras onde estavam os remadores de Itá.

O Prático viu chegar Vicente ao seu lado, gritando e apontando os chefadores na margem do Rio Grande.

- Tá perdida, compadre... tá perdida. Melhor que seja assim. Mas desta feita me vou contigo, compadre. Era mesmo de ti que Elvira gostava. Dos teus zóios e de teus agrados. Desde que te fostes no Yucumã, que ela acabrunhou-se comigo. Desde esse tempo que olho as águas e é teu semblante que ela reflete. Nem toda a pinga do Moura apaga a covardia que te fiz...

O que restava de toras amarradas bateu no barranco e a balsa se desfez como num jogo de varetas. O velho prático balseiro caiu de costas e abraçado a Vicente deixou-se afundar no rio, entre o madeirame que rodopiava na correnteza.

Dividiriam, a partir de agora, o fundo lamacento do Uruguai, como dividiram em vida os perigos e as alegrias das descidas. Como dividiram em vida o amor e a cama da bugra Elvira.

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Tiço corria pela margem, pelas trilhas do mato, acompanhando a caravela. Por entre as frestas dos sarandis viu quando Vasco da Gama, em pé, lançou a embarcação rumo às pedras, do outro lado do mar. Viu-a partir-se. Viu quando alguém jogou-se na água ainda com roupa. Viu quando ele saiu da água mais abaixo, e embrenhar-se novamente no mato arrastando um corpo inerte.
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O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA



REFLETINDO COM LYA LUFT


SOLIDARIEDADE...È muito mais do que doar agasalhos ou alimentos para instituições. Mas... O que é ser solidário? Onde deve começar este aprendizado? O texto a seguir aborda essas questões, é um chamamento para a ação (que pode estar bem ao seu alcance).

O gesto não precisa ser grandioso nem público, não é necessário pertencer a uma ONG ou fazer uma campanha. Sobretudo, convém não aparecer.
O gesto primeiro devia ser natural, e não decorrer de nenhum lema ou imposição, nem convite nem sugestão vinda de fora. Assim devíamos ser habitualmente, e não somos, ou geralmente não somos: cuidar do que está do nosso lado.
Cuidar não só na doença ou na pobreza mas no cotidiano, em que tantas vezes falta a delicadeza, a gentileza, a compreensão; esquecidos os pequenos rituais de respeito, de preservação do mistério, e igualmente da superação das barreiras estéreis entre pessoas da mesma casa, da família, das amizades mais próximas. dentro de casa, onde tudo deveria começar, onde se deveria fazer todo dia o aprendizado do belo, do generoso, do delicado, do respeitoso, do agradável e do acolhedor, mal passamos, correndo, tangidos pelas obrigações.
Tão fácil atualmente desculpar-se com a pressa: o trânsito, o patrão, o banco, a conta, a hora extra... Tudo isso é real, tudo isso acontece e nos enreda e nos paralisa.
Mas, por outro lado, se a gente parasse (mas parar pra pensar pode ser tão ameaçador...) e fizesse um pequeno cálculo, talvez metade ou boa parte desses deveres aparecesse como supérfluo, frívolo, dispensável.
Uma hora a mais em casa não para se trancar no quarto, mas para conviver. Não com obrigação, sermos felizes com hora marcada e prazo pra terminar, mas promover desde sempre a casa como o lugar do encontro, não da passagem; a mesa como lugar do diálogo, não do engolir quieto e apressado; o quarto como o lugar do afeto, não do cansaço.
Pois se ainda não começamos a ser solidários dentro de nós mesmos e dentro de nossa casa ou do nosso círculo de amigos, como querer fazer campanhas, como pretender desfraldar bandeiras, como desejar salvar o mundo - se estamos perdidos no nosso cotidiano? Como dizer a palavra certa se estamos mudos, como escutar se estamos surdos, como abraçar se estamos congelados?
Para mim, a solidariedade precisa ser antes de tudo o aprendizado da humanidade pessoal.Depois de sermos gente, podemos - e devemos - sair dos muros e tentar melhorar o mundo. Que anda tão, tão precisado.
Livro Caminhos de Solidariedade
Retirado do livro didático Novo Diálogo, 9ºano - Editora FTD


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A amiga Géssica construiu um blog onde abriga projetos e idéias sobre educação, e onde também a professora Krika colabora.
Recomendo a todos que tem interesse pelo assunto a que a visitem através do link abaixo, ou pela lapela ao lado.
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domingo, 18 de janeiro de 2009

Balseiros - V


Apesar dos perigos... finalmente a viagem


A viagem era um misto de perigo e aventura. Em média, eram necessários de dez a doze homens para conduzir uma balsa, cada qual com funções determinadas. Segundo Angeli:
“Geralmente eram utilizados cinco homens para cada remo, dois para levantar e três para puxar a remada. Em poucas passadas a balsa obedecia e rumava para o lado desejado; em cada extremidade da balsa eram colocados dois remos” 9

Segundo o dicionário Globo, remo é uma “peça comprida de madeira, achatada num dos lados, que serve para fazer avançar na água embarcações pequenas”. Angeli assim o descreve:
“[...] esses remos de uns oito metros de comprimento eram feitos de madeira menos propensa a quebrar. A preferência era para o guatambu10 e a gramixinga marfim11 [...] eram muito bem falquejados e alisados para dar maior conforto e melhores condições de remar”.12

Um dos trabalhadores era o responsável pela alimentação que, ao que parece, não era considerada uma tarefa prazerosa. Exemplo disso foi Aloísio Lauxen: “Eu fui umas quantas vezes o cozinheiro. Então quando tinha uma defesa braba, eu ajudava a remar, senão eu ficava na cozinha. Pra mim o pior trabalho era fazer comida, eu não gostava muito”.

Os mantimentos eram fornecidos pelo patrão, o dono da balsa. Eles levavam feijão, arroz, farinha de milho, carne suína e frango, charque, pão, erva para o chimarrão, banha, água, e aguardente. A popular ‘pinga’ tinha boa utilidade. José Martins de Oliveira13 comenta: “[a gente] levava cinco até seis garrafões. De noite, naquele frio do inverno, ou lá para baixo, onde tinha vento de dia e à noite frio; a solução era tomar uma pinga”.

O fogão era um caixão com terra, com uma chapa de ferro, coberto com folhas e galhos de taquara, sendo que mais tarde foram utilizadas tábuas. Fazia-se um estaleiro para pendurar as panelas, também de ferro. Além disso, era necessário ter sempre a lenha seca para fazer o fogo, por isso era mantida em lugar protegido. Quando necessário, o cozinheiro também deveria ajudar no controle dos remos, enquanto os demais balseiros faziam suas refeições.

Quando iniciava a época das chuvas torrenciais, que provocavam as enchentes, o rio Uruguai, mesmo não navegável oportunizava o transporte das balsas pelo seu leito. Os balseiros, geralmente agricultores, aceleravam a colheita, recolhiam a lenha para a família e guardavam o pasto para os animais, procurando deixar a família abastecida em sua ausência devido à viagem pelo rio. Além desses, outras categorias de profissionais viajavam com as balsas, conforme Tedesco:
“Havia, em meio aos peões (que se deduz serem, em grande parte, caboclos), os cortadores, os arrastadores, o rolador, os armadores, os buscadores de cipó, os fazedores de roça, o pescador, o cozinheiro e o ajudante. A balsa era uma atividade que exigia precisão, perspicácia, previsão, projeção (das condições do tempo, do tempo e da maneira de chegar ao destino), coordenação, aventura e paixão.” 14

A maior responsabilidade pelo bom andamento da viagem e pela segurança dos trabalhadores era do prático. Para chegar a esse posto, era necessário fazer algumas viagens, conhecer bem o rio e seus perigos. Ele tinha a melhor remuneração, em função do cargo que ocupava. Recebia de três a quatro vezes mais que os outros profissionais.Bellani assim o descreve: “O prático era o elemento indispensável para o manejo da balsa. Homem que tinha grande esperteza e vivacidade, conhecia tudo, desde a formação da balsa, a época certa para o início da viagem, o nível do rio, os perigos das corredeiras, ressorjos15, ilhas e os chamados chefadores que são as pontas de mata que avançam sobre o rio.”16

Todos viajavam em cima das madeiras. Quando o trajeto estava tranqüilo, após alguns dias de viagem, a balsa era amarrada às margens do rio, para que seus tripulantes pudessem dormir e descansar. Às vezes, o patrão acompanhava os balseiros. Porém, mais costumeiramente, ele seguia por terra, livrando-se dos perigos e dos trabalhos, aguardando seus empregados em São Borja.

Devido à instabilidade do clima da região, não havia uma época certa para realizar as viagens, bastava muita chuva. Segundo depoimentos, nos anos de 1942 e 1943 não ocorreram enchentes; já no ano seguinte, em 1943, choveu o ano inteiro e o rio permaneceu com o nível de água elevado. Neste último, foram preparadas e levadas balsas praticamente o ano inteiro.

A viagem de Itá/SC a São Borja/RS durava em média sete dias, dependendo do volume d’água, pois, como assinalado, quanto mais cheio o rio, mais rápida. Cada trabalhador recebia o pagamento por dia trabalhado. Os primeiros dias, depois que saíam de Itá, eram os mais atribulados, pois haviam muitas corredeiras e ilhas, que exigiam mais atenção e destreza dos profissionais. Os balseiros deveriam continuar remando, independente das condições de tempo.

Angeli assim descreve o caminho seguido:
“O percurso da viagem
1. Rio Dourado e sua Ilha
2. Empresa do Velho Balseiro [em Mariano Moro – RS]
3. Porto de Jorge Lucas
4. Rio Jacutinga - SC, a conhecida Volta Fechada e Ilha
5. Rio Novo [Aratiba – RS] e Ilha, Almoço
6. Itá, Porto e Vila
7. Barra do Rio Uvá e Ilha
8. Rio Paloma e Ilha
9. Remanso do Tigre
10. Enseada da Pedra
11. Rio Irani
12. Porto Reiúno, atualmente Goio-Em
13. Ilha Cerne
14. Ilha Dom José
15. Ilha da Luzia
16. Rio Chapecó
17. Corredeira Comprida
18. Ilha Redonda
19. Ilhas Farinhas
20. Irai
21. Ilha do Mel
22. Porto Feliz, atual Mondai
23. Ilha das Ervas
24. Barra do Rio Pardo
25. Capelas
26. Ilha da Fortaleza ou Pedra
27. Itapiranga
28. Bananeiras
29. Macaco Branco
30. Salto Grande
31. Ilha do Alto Uruguai
32. Nove Voltas
33. Alba Posse
34. Ilha Roncador
35. Canal Torto
36. Ilha do Biguá
37. Cancha dos Ingleses
38. Porto Lucena
39. San Javier
40. Cordão do Silva
41. Ilha do Ijuí
42. Ilha de Santa Marta
43. Ilha San Isidoro
44. Tragador do Mercedes (no lado Argentino)
45. Gartruchos
46. Saladero
47. Barra do Macuco, conhecido como Porto do Geraldo
48. San Tomé
49. São Borja”17

O sucesso da viagem era medido pelo mínimo de toras que se perdia. Isso acontecia quando a balsa batia nas pedreiras, nas ilhas ou em uma corredeira, quebrando-se o cipó que a prendia e as madeiras se soltavam. Cilfredo Klein18 assim descreve:
“[...] o remanso do Uvá fazia um ressorjo muito grande [...] A balsa entrava lá, chupava e saia todas as toras soltas, debulhava tudo, [...] dava umas três voltas e virava um funil até que, por fim, ela ia retornando até fechava em cima e as toras saltavam fora , hoje não tem mais nada disso . O passo do Uvá encheu de terra e de madeira é hoje um poço só”.

Muitas vezes já havia, próximo a esses locais, homens esperando para pegar essas madeiras e vender clandestinamente, conforme comentário de Severino Aigner19; “eles [os ladrões] cortavam a marca a das toras e roubavam as madeiras [...]. Ficavam nos rios que entram no Uruguai. A madeira ficava represada e era levada para dentro do rio onde eles estavam, aí eles a escondiam. E depois mais tarde, vendiam”.

Havia trechos bastante perigosos como o Salto Grande, a iIlha Comprida, as Nove Voltas, as ilhas Gêmeas. Esses locais exigiam toda a atenção possível dos balseiros, por isso eles passavam dia e noite sem dormir.Tedesco narra:
“[...] os perigos maiores eram, em ordem crescente: as pequenas ilhotas, o saltinho do Lameu, a Rapadura, a Ilha do Chapecó, a Corredeira Comprida, Passarinhos; adiante vinham as Ervas, a Fortaliza, Macaco Branco, Salto de Macunã; aí então vinha o ressorjo do Cipó, as Nove Voltas, o Saltinho do Sertão, a Corredeira do Santo Ezídio, a Cancha de Santa Maria; seguindo o Salto Grande, que era muito perigoso, totalizando dezesseis quilômetros com uma caída e uma velocidade intensa de água.”20

Para proteger a balsa no Salto Grande, era necessário colocá-la na entrada do canal. Para tal, o prático ordenava o recolhimento dos remos. Quando a balsa chocava-se com as marretas, que eram altas ondas, o primeiro pelotão subia e cortava o fundo. Então, os balseiros permaneciam todos no meio da balsa, pois nas pontas era perigoso. Ninguém estava protegido. Para Cilfredo Klein, “a segurança era a coragem”. Em alguns locais, como no Uvá, em Itá – SC, tinham os ressorjos. O risco foi assim descrito por Barbosa: “Aqui os balseiros novatos ou distraídos, por vezes, passavam horas rodopiando, rodopiando, sem poder sair”21. Esses eram alguns dos motivos pelos quais era necessário esperar para que o nível do rio se elevasse ao máximo, pois assim diminuiria o risco de encontrar esses perigos pela frente.

Outro cuidado que o prático deveria tomar, era com a neblina no rio Uruguai, pois ficavam sem visão e a balsa poderia chocar-se no barranco. Valentini diz que a “neblina dificultava a localização da altura da viagem. O relógio e o eco dos gritos ou assobio dos balseiros permitiam que os mesmos pudessem orientar-se e determinar mais ou menos em que ponto do trajeto se encontravam”22 . Acrescente a isso, o fato de que próximo a esses locais de perigo, em algum afluente do rio Uruguai, estavam os ‘ladrões’, conforme mencionado, esperando que alguma balsa se desfizesse.

Para evitar o saque das toras, cada patrão possuía uma espécie de martelo, com uma marca, que geralmente era uma palavra ou sigla que o identificasse. Severino Aigner explica:
“Cada balseiro ou empresário tinha marca. Por exemplo, a nossa marca era Uva, porque era um martelo escrito Uvá. Então batia aquele martelo, cravado, batia na tora então ficava em cima ‘Uvá’, que era marca da firma. Então se extraviasse a madeira pelo rio, a gente recuperava. Umas era ‘Bósio’, era tudo assim, a nossa marca era Uvá..”
Sobre isso, Barbosa também assinala: “André chegou. Distribuiu ordens. Trepou na pilha de tábuas que traziam as letras R + C, iniciais de Reinaldo Cherubini, fabricante e proprietário.”23

8 ANGELI, Heitor Lothieu. O Velho Balseiro. Porto Alegre: EST Edições, 2000, p. 58.
9 Id. ibidem. p. 57.
10 Madeira de coloração amarelada, com superfície lustrosa e lisa, pesada e dura. Encontrada desde o Rio de Janeiro
e Minas Gerais até Santa Catarina. Usada na construção civil (caibros, vigas e assoalhos); em obras externas, na confecção de móveis, peças torneadas e cabos de ferrramentas.
11 Madeira pesada; cerne branco-palha-amarelado; textura fina; superfície lisa ao tato e medianamente lustrosa; cheiro imperceptível; gosto levemente amargo. É indicada para fabricação de móveis, laminados decorativos, molduras, peças torneadas, peças para esporte e outros artefatos; em construção civil, como vigas, caibros, ripas, rodapés, tábuas e tacos para assoalhos, cabos de ferramentas, metro para medição, forma para calçados etc.
12 ANGELI, op. cit. p.57
13 José Martins de Oliveira foi balseiro. Entrevista concedida à autora em 01/07/2005. Atualmente reside em Linha Santa Catarina – Concórdia/SC
14 TEDESCO, João Carlos e SANDER, Roberto. Madeireiros, comerciantes e granjeiros: Lógicas e contradições no processo de desenvolvimento socioeconômico de Passo Fundo (1900-1960). Passo Fundo: UPF, 2002, p. 222.
15 Espécie de redemoinhos que sugavam as balsas, debulhando-as.
16 BELLANI, Op. Cit., p. 129.
17 ANGELI, op. Cit, p. 63
18 Cilfredo Klein foi balseiro. Entrevista concedida à autora em 13/08/2004.
19 Severino Aigner foi balseiro e filho de patrão. Entrevista concedida à autora em 01/10/2004.
20 TEDESCO, op.cit. p. 222.
21 BARBOSA, Fidélis Dalcin. Semblantes de Pioneiros. Porto Alegre: EST Edições, 1995, p. 71.
22 VALENTINI, op. Cit. P. 85.
23 BARBOSA, op. cit. p.69.

Fonte: Trabalhadores do Rio - Os Balseiros do Rio Uruguai - Noeli Woloszyn

-O-

Capítulo V - Natalício

Natalício encostou-se no balcão e pediu ao Moura que enchesse novamente o copo. A chuva amainara um pouco, poderia até voltar para casa. Seu pensamento, no entanto, estava em outro lugar, no rio que roncava logo ali, cheio, veloz.

Fulgêncio há pouco saíra chateado, brigado, chamando-o de frouxo, covarde. Nunca fora covarde, e o velho prático sabia disso. Tantas vezes o provara, em descidas sem conta. Será que o velho esquecera-se de quantas vezes, quantas, estiveram lado a lado jogando com coragem a balsa nos ressorjos?... Da primeira descida, quando ele e Vicente tiveram que dar uns tapas na cara de alguns dos remadores de primeira viagem que tremiam de medo quando entraram no canal de Yucumã e a balsa ameaçava virar de borco e jogar a todos na goela do Salto Grande?...

Não. O velho não poderia ter esquecido. Estava magoado, somente. Magoado por não ter conseguido encontrar ninguém mais para ajudá-lo a descer o rio na pequena balsa tosca, feita de galhos finos amarrados com cipós, tudo precário e perigoso. Naquela tarde foram ver a balsa, estaleirada numa sanga, a poucos metros do Uruguai, prá lá da roça de feijão. Duvidava que com aquele brinquedo, conseguissem chegar à ilha do Cerne, quanto mais passar o Yucumã. A balsa se desmancharia antes, se não fosse na Corredeira Comprida, seria nos restos da ponte velha do Iraí, que apontavam perigosamente para o céu, do lado de baixo da ponte nova, depois do rio do Mel. Se ainda fosse por precisão, como antes, vá lá... Mas era só por capricho. Mesmo que, por milagre conseguissem chegar à São Borja, de que valeria? Vender para quem aqueles gravetos? Nenhum patrão estaria esperando. E voltar como, sem dinheiro, e se o trem para Santa Maria nem existe mais? E se ainda existisse, como pagar o bilhete?

- Vancê é frouxo, negro velho, covarde, como os filhos do Céza, que deram risada. Como Florão que nem respondeu a carta que mandei. Se Vicente fosse vivo, garanto que ele ia...

- Vicente não ta vivo, compadre, e vancê sabe bem porque ele ficou no fundo do Yucumã...

A discussão fora em voz baixa, quase sussurrada, numa mesa de lata, perto da porta, de onde podiam ver o rio. Olharam-se com dureza, quase com raiva, em silêncio. Depois os olhos foram se enevoando e baixaram a cabeça, pesarosos, até que Fulgêncio soltou os braços conformado e levantou-se, pegando o chapéu.

- Amanhã solto a balsa no rio. Vou sozinho, então...

Agora no balcão, enquanto bebia a pinga em pequenos goles, a imagem de Vicente não saia de sua retina, mesmo quando olhava o cartaz da moça nua na propaganda de cerveja.

Vicente. Moço bonito e alegre. Veio do Rio Grande e ainda menino descia as balsas que saiam de Itá. Encontraram-se um dia, na foz do Chapecó, quando esperavam o rio receber mais águas do Passo Fundo e do Irani, para dar ponto de balsa. Tinham errado os práticos, pensando que o rio daria vau até São Borja. Mas a chuva tinha parado e a enchente veio fraca. Então ficaram ali por dois dias, assando os quatis e os jacus que caçavam nos matos.

Em São Borja encontraram-se novamente e vieram juntos no mesmo trem até Santa Maria, e depois de ônibus até Erexim. Foi quando, nessa viagem de volta, comentaram o sucedido.

- Eu, por mim, não soltava a balsa antes das formigas corredeiras botarem asas - disse Fulgêncio, então remador.

- Soltaram, viu no que deu?... Prejuízo pro patrão e perda de tempo prá nós... Foram dois dias no mato.

- É verdade. Lá no Itá já deve ter outra balsa pronta. Se já não desceu, porque o rio ta alto.

- E lá no Reiúno também. O coronel não perde tempo...

Nessa viagem de volta combinaram conversar com o Patrão, o homem do Coronel que cuidava dos negócios das madeiras e das balsas. Convidaram Vicente.

E foram os três conversar com Manuel Pereira num começo de noite. Fulgêncio fez a proposta. Eles, os três, poderiam levar as balsas até São Borja. E na primeira descida cobrariam a metade do que era pago para os outros práticos. Se não perdessem nenhuma tora, nas próximas viagens o preço seria o acordado; paga de prático para Fulgêncio, paga de dois remadores para Natalício e Vicente, e aos demais o preço normal que o Coronel pagava para todos os outros.

Reuniram em dois dias os remadores, alguns filhos de roceiros, um que era juntador de cipó, Céza que pescava no rio e que mandava os filhos para a vila vender os peixes. De Itá Vicente trouxe Florão, cozinheiro afamado e mais dois remadores.

A primeira descida foi difícil. Tirando Fulgêncio, ele Natalício, Vicente, Florão e os remadores de Itá, todos os outros eram de primeira viagem... Chegaram bem em São Borja, apesar do espanto dos novatos no Salto Grande... Nenhuma tora foi perdida.
Nessa viagem, quando a balsa ia lenta nos remansos, falavam da bugra, filha do patrão. Era bonita por demais a criatura. Vicente brincava: Vou casar com a filha do patrão... Vou mandar em vocês tudo. Eu que vou dar a paga. E ria, debochado.

Em São Borja receberam de um enviado do Coronel o pagamento. Fulgêncio comprou um corte de seda. Vicente comprou um perfume. Ele, Natalício gastou a metade com as francesas de Bento.

Na volta, Fulgêncio levou a seda primeiro. Vicente jogou o perfume no rio.

Quando Fulgêncio casou com a bugra Elvira, Vicente foi morar na casinha deles no Goio-En, num quartinho dos fundos ainda sem porta ou janela, para ajudar na construção, enquanto a enchente não vinha para soltar outra balsa.

E assim foi até a última descida. Os caminhões do Coronel já levavam a madeira serrada, e já existiam estradas. Os pinheiros, as canjeranas e os cedros escasseavam e os poucos que haviam iam direto para a Argentina embarcados nos FNMs, já serrados e em forma de taboas, lá dos lados do Paraná, ao sul do rio Iguaçu, onde há muito tempo havia uma aldeia de selvagens botocudos que, pelo que contam, foram civilizados pelas pregações do Evangelho.

Restaram no Goio-En algumas toras dispersas que o Coronel não queria perder. Reuniram e formaram uma balsa, a última a descer o rio. A última dos balseiros. Eram toras finas, e leves porque secaram pelo tempo de espera. Flutuavam fácil, mesmo as de pinheiros.

Céza não foi desta vez porque estava envolvido nas lidas da lavoura. Os outros foram todos.

O rio estava bonito. A enchente tinha sido das melhores. As formigas tinham soltado as asas na tarde anterior, quase ao anoitecer, sinal de boas águas.

Pela manhã cedinho soltaram a balsa e em dois dias estavam no Salto Grande. Então, ao contrário de tantas outras vezes quando procuravam jogar a balsa no meio do canal, Fulgêncio mandou remarem para a esquerda, para o lado do Rio Grande, até quase enroscar a balsa nas galhadas dos chefadores.

Vicente chegou encharcado ao seu lado gritando:
– Tá louco, homem!.. Quer levar a balsa por terra, que nem o Garibaldi? Sempre descemos pelo meio. Por que isso agora?...

Natalício chegou a tempo de ver Fulgêncio empurrar o Vicente para fora da balsa. Viu quando ele caiu entre a balsa e o barranco, até sumir, esmagado pelas toras. Muito pouco conversaram até chegarem à São Borja.

Ainda com esses pensamentos, Natalício pagou a pinga e seguiu para a ponte, rumando para o seu rancho, do outro lado do rio.

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O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA


Formação do Leitor


“Saber ler não é suficiente para transformar uma nação. É preciso ler mais. E leitores são formados, basicamente, com literatura. Isso porque a literatura é a palavra expressa em arte, alimento essencial do imaginário.” Elizabeth Serra

Transcrevo a seguir um depoimento de Ana Paula Maranhão, do site “Construir Notícias”.
http://www.construirnoticias.com.br

No nível lingüístico, a audição de livros permite esclarecer um conjunto variado de relações entre a linguagem escrita e a linguagem falada; o sentido da leitura; as fronteiras entre as palavras; e a recorrência das letras, dos sons e da pontuação utilizada, aumentando a estrutura de seu repertório e desenvolvendo estruturas de frases e textos. A criança leitora habitua-se a parafrasear, a dizer de outro modo, a compreender e a utilizar figuras de estilo.

Essas capacidades lhe serão particularmente úteis após os dois primeiros anos de aprendizagem da leitura, durante os quais os textos a serem lidos são ainda relativamente simples. Com efeito, os conhecimentos lingüísticos adquiridos durante a audição de livros (histórias) proporcionam-lhe um trunfo considerável para enfrentar uma leitura progressivamente mais sofisticada.

No nível afetivo, descobre-se o universo da leitura pela voz, pela entonação e pela significação daqueles em que a criança tem mais confiança e com quem ela mais se identifica. Através de suas histórias favoritas, seus pais e professores desempenham um papel importante com seus comentários e suas explicações. Frutificando os subsídios cognitivos e lingüísticos, sendo através deles que o leitor descarrega todas as suas emoções e seus sentimentos, sempre lhes dando um novo significado. Desse modo, ele irá perceber a função social da leitura.

Formar um leitor é algo sutil e democrático, exigindo a única pedagogia possível: a do afeto e da liberdade (Maria Dinorah,1996).

Segundo estatísticas internacionais, forma-se um leitor mais ou menos até os quatorze anos de idade, num processo que tem raízes no lar, onde a criança, desde os primeiros anos de vida, convive com a magia das histórias, lendas, poesias... Especialistas chegam a afirmar que esse processo tem início no ventre materno. Aprendendo a gostar de ler, antes mesmo de saber ler.

José Morais, em seu livro A arte de Ler, afirma que “Os prazeres da leitura são múltiplos. Lemos para saber, para compreender, para refletir. Lemos também pela beleza da linguagem, para nossa emoção, para nossa perturbação. Lemos para compartilhar. Lemos para sonhar e para aprender a sonhar (há várias maneiras de sonhar...).

A melhor maneira de começar a sonhar é por meio dos livros...

Deduzimos então, como Maria Dinorah, professora e escritora, que “Uma criança sem livros é um prenúncio de um tempo sem idéias”. Para ela, o livro tem o poder de desenvolver na criança leitora a criatividade, a sensibilidade, o senso crítico, a sociabilidade e a imaginação; e leva a criança a aprender. É lendo que se aprende a ler, a escrever e a interpretar, formando assim um verdadeiro leitor, leitor no mundo que o rodeia. Numa palestra, Emília Ferreira falava: “Contem muitas histórias para as crianças, desde pequeninas”. Bill Gates, o papa da computação, em entrevista ao Jornal do Brasil de 15 de dezembro de 1996, revelou: “Computadores não substituem livros”. Cecília Meireles citava: “A literatura melhor é a que as crianças lêem com prazer”.

Assim falava Fanny Abramovich: “Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias”. Monteiro Lobato, que desejava muito fazer “um livro onde as crianças pudessem morar”, também comentava: “Um país é feito de homens e livros”. Percebemos em todas as citações o quanto é encantador proporcionar o prazer pela leitura.

Para formarmos leitores, precisamos ter prazer; o prazer da audição, de se encontrar consigo mesmo, de ser ator e espectador, mesmo que ela ainda não saiba ler. Daniel Pennac, em seu livro Como Um Romance, revela-nos os dez direitos imprescritíveis de um leitor:

01. O direito de não ler.

02. O direito de pular páginas.

03. O direito de não terminar um livro.

04. O direito de reler.

05. O direito de ler qualquer coisa.

06. O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).

07. O direito de ler em qualquer lugar.

08. O direito de ler uma frase aqui e outra ali.

09. O direito de ler em voz alta.

10. O direito de calar.

É importante que esses direitos estejam incorporados às práticas cotidianas do leitor, propiciando-lhe informações culturais e oportunidade de se apaixonar pelas leituras e pelos livros, dando alimento à sua imaginação. Proporcionando o máximo de conforto e liberdade, pretende-se despertar o desejo e o prazer de ser um verdadeiro leitor.

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(Gostou da cor, amiga?... Era essa mesma que querias?...)

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domingo, 11 de janeiro de 2009

Balseiros - IV

Foto: Salto Grande - Yucumã. 1800 metros de extensão.
Comércio de Madeiras: uma atividade lucrativa


A região oeste catarinense caracterizou-se pela economia essencialmente agrária, o cultivo do arroz, milho, feijão e trigo servia para abastecer as necessidades locais e comercializar com regiões mais distantes como São Paulo, por exemplo. Além do trabalho agrícola, a região destacou-se também na criação de animais, especialmente o suíno. Em função disso, surgiram os primeiros abatedouros o que a tornou - até hoje - conhecida como área de grandes empresas frigoríficas brasileiras.

A madeira foi uma das atividades comerciais mais lucrativas, especialmente nos períodos de 1930-1950. Na década de 1930, foi o principal produto de exportação do estado. A maior parte da produção madeireira “era destinada ao mercado argentino e uruguaio, transportada por meio do rio Uruguai, em forma de balsas, durante o período de cheias” 5

As árvores eram, geralmente, compradas no mato. Segundo Aloísio Lauxen2, em 1947 pagava-se de vinte a vinte e cinco mil réis por árvore (final da década de quarenta). “Eles [os patrões] compravam madeira no mato, ficavam junto para derrubar o cedro, e também já tinha boi e tudo. Então eles mandavam levar para o rio. Aqui no mato, pagava naquele tempo vinte a vinte cinco mil réis a árvore”.

Nessa época, com tal soma, era possível comprar dois alqueires de terra. Para retirar a madeira, primeiro cavoucavam em torno dela até que ficasse o mais próximo possível da raiz. Em seguida, cortavam a tora com machado. Após isso, descascavam a madeira e cortavam a ponta de cima da árvore. Finalmente, arrastavam e encarreiravam, colocando uma árvore ao lado da outra.

Para tirar as toras do mato, usavam três, quatro ou até cinco juntas de bois. Das glebas, primeiramente, o transporte era feito com carretão3 e mais tarde, depois da Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, foram utilizados os primeiros caminhões. O combustível usado nesses meios de transporte era, a princípio, o gás pobre (assim chamado o carvão) e, mais tarde, o óleo diesel.

Segundo Bellani, o pelotão era formado “de 10 a 15 toras, amarradas a uma travessa de madeira de lei, forte, cuja espessura variava de 20 a 25 cm de diâmetro, chamada pelos balseiros de ‘lata’. A lata possibilitava a amarração e a fixação da madeira”4 . Em seguida, as madeiras eram amarradas com cipó, doze voltas de cada lado da vara, para que ficassem bem firme – era a gravata5. Isso dava a devida aderência à madeira, formando um pelotão compacto, que era unido a outro pelotão por mais uma gravata. Feito assim, de maneira sucessiva, tinha-se a balsa, formada por dez pelotões ou mais.

Uma balsa possuía, em média, de 180 a duzentas toras. Seu tamanho era de dez metros de largura, por noventa a cem metros de comprimento. Em cima das toras eram construídas duas casinhas (ou ranchos). Uma era utilizada para armazenar os mantimentos e fazer a comida. Outra, um pouco maior, para proteger as mochilas, as roupas dos balseiros e para abrigar os peões quando a balsa estava ancorada.

Na região do Alto Uruguai Catarinense, o cedro era a principal madeira destinada ao comércio por meio das balsas. Comercializava-se também o louro, a guajuvira, a araucária, a açoita e a cabriúva. Para fazer o transporte das madeiras pesadas, como o pinheiro, por exemplo, era preciso intercalá-las com o cedro. Também era necessário fazer uma amarração bem resistente, para que as toras não afundassem.

Depois de prontas, as balsas ficavam à espera de uma enchente que elevasse o nível da água, para serem levadas até São Borja – RS e dali para a Argentina e Uruguai, onde seriam comercializadas. Valentini lembra:
“Pronta a balsa era só aguardar a enchente, indispensável para a largada e requisito para vencer o itinerário dos obstáculos naturais que se compunham de cachoeiras, remansos, pedras, peraus, ilhas, curvas, corredeiras, neblina, chuva e frio. Tudo dependia das condições climáticas, do número e da habilidade dos balseiros.” 6

O nível das águas deveria aumentar em quatro metros, no mínimo,e era chamado de ponto de balsa7. Quanto maior o nível da água, menor o tempo da viagem. As balsas de toras eram preparadas no leito, ao longo de todo o rio Uruguai. Os locais de partida eram os chamados pontos baixos e ficavam em Entre Rios, Porto Itá, Barra do Uvá e Linha Simon, todos no estado de Santa Catarina.
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De Chapecó, no porto de Goio-En, saíam as balsas feitas com madeira de pinheiro serrada. Para fazer as amarras, era utilizado o arame galvanizado, embora o cipó oferecesse maior segurança, devido à sua maleabilidade. Angeli comenta o fato e menciona os principais comerciantes envolvidos nessa atividade:
“A partir da década de quarenta, muitos madeireiros partiram para a construção de balsas de pinho serrado. Muitos foram os que adotaram esse meio de transporte para a Argentina, possuindo uma liderança destacada o coronel Francisco Bertazo e seu filho Serafim Bertazo, a Cooperativa Chapecó, Irmãos Pagnondelli, Emílio Grando, Germano Hoffmann, Ernesto Fronza, Nenê Barthier e os Frare de Nonoai.” 8

A opção pela venda do pinho deu-se especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, em 1939-45, quando essa madeira teve um aumento de valor considerável. Apesar das dificuldades, como a distância do rio para encontrar as árvores e o fato de que essa era uma madeira que flutuava de maneira precária, os madeireiros dedicaram-se com afinco a essa atividade.

A balsa foi, durante muitos anos, a principal fonte de renda para os balseiros, que também eram pequenos agricultores. O rendimento obtido com essa atividade era maior que o da venda de produtos cultivados. Muitos investiram seu dinheiro nas propriedades ou em outros negócios, como madeireiras, alambiques ou mesmo no comércio.

4 POLI, Jaci. Caboclo: pioneirismo e marginalização. Chapecó: FUNDESTE, 1991, p. 65.
5 GOULART FILHO, Alcides. Formação Econômica de Santa Catarina. Florianópolis: Cidade Futura, 2002. p. 91.
2 Aloísio Lauxen trabalhou como balseiro e cozinheiro. Atualmente mora em Ita/SC. Entrevista concedida à autora em 01/10/04. Acervo Particular.
3 Espécie de carroça, sem a caixa. Era puxada por burros ou por juntas de bois.
4 BELLANI. Eli Maria. Balsas e Balseiros no Rio Uruguai (1930-1950). IN Centro de Organização da Memória Sócio-Cultural do Oeste. Para uma História Catarinense: 10 anos de CEOM. Chapecó: UNOESC, 1995, p.118.
5 Nome dado ao nó, feito de cipó, que amarrado às madeiras, formavam as balsas.
6 VALENTINI, Delmir José. Tropeiros, Ervateiros e Balseiros: Memoráveis personagens da História do Sertão Catarinense. IN: Ágora: Revista de divulgação científica da Universidade do Contestado. Caçador (SC): UnC, 1994. v.1, nº 1 (jan/jul), p. 85.
7 Limite mínimo para elevação do nível da água
Fonte: Trabalhadores do Rio - Os Balseiros do Rio Uruguai - Noeli Woloszyn
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Capítulo IV - Tiço


O dia de Fabrício era dividido em três partes distintas. Pela manhã ia cedo para a beira da estrada, do outro lado do rio para vender frutas aos motoristas que reduziam a velocidade ao aproximarem-se do posto policial. Em algumas épocas do ano eram bergamotas, noutras ameixas ou goiabas. Não dava muito lucro, e vendia-se pouco. Eram raros os motoristas que paravam, e mesmo estes, compravam também dos outros meninos e meninas que, como ele se enfileiravam na margem da estrada, do lado do morro. Na época de bergamota até sobrava mais dinheiro, pois elas eram tiradas da roça do pai. Mas na roça não tinha um só pé de ameixa ou de goiaba. Então era preciso colhê-las nas roças dos vizinhos e repartir, meio a meio com eles a féria do dia. No inverno era melhor, pois o sol batia de frente e aquecia a manhã fria. No verão o sol torrava. Seria melhor trabalhar à tarde, quando a sombra do morro se esparramava no asfalto. Mas à tarde ia para a escola.

Essa era a parte do dia de que mais gostava, a parte da escola. Principalmente quando, no terceiro ano começou a aprender sobre as navegações portuguesas. Gostava especialmente da palavra “caravelas” e de Vasco da Gama. Cabo da Boa Esperança também lhe trazia sonhos.
Nos dias de enchente, quando o Uruguai bufava lá embaixo, ele via, do alto da ponte, o Oceano e as Tormentas. Via Vasco da Gama, seu pai, em pé no centro da caravela, gritando ordens enérgicas para os marujos balseiros. Via os monstros marinhos surgirem na correnteza em forma de sacos de lixo e litrões de Coca-Cola, que desciam céleres o rio e atacavam a caravela, balsa imaginária, valentemente defendida pelo pai, Vasco da Gama e pelos destemidos marinheiros armados de remos e cartucheiras.

Depois da escola, às cinco horas, passava no bar do Moura e comprava as encomendas que a mãe fizera. Coisa pouca, quase sempre. Um quilo de sal num dia, um Anil no outro, um carretel de linha, um pedaço de fumo para o pai... Quando o dinheiro dava, pagava. Quando faltava, o Moura anotava na caderneta.

No verão sobrava dia para buscar as frutas e acertar a parte com o dono da plantação, e ainda podia ajudar o pai na roça, quando este estava lá, recolher lenha ou revisar as esperas no rio.
Antigamente, quando o pai ficava em casa à noite e não chegava tarde bêbado, ouvia calado as histórias que ele contava para a mãe Elvira e para o irmão que foi-se embora prá cidade, trabalhar no frigorífico.

Seus sonhos eram povoados de ressorjos, chefadores e corredeiras. Gostava do Salto Grande, mesmo que lá tivesse ficado para sempre o Vicente, melhor amigo do pai, atingido por uma ponta de galho de um chefador, já do lado do Rio Grande.

O pai contava que formaram os três, ele Fulgêncio, Natalício e Vicente, os melhores balseiros do Uruguai, desde que Manuel Pereira confiara-lhes a primeira descida. Isso lá atrás no tempo, quando eram ainda moços e foram conversar com Manuel e conheceram Elvira. Nunca perderam uma tora. Natalício e Vicente foram padrinhos de casamento. Vicente perante o padre e Natalício na lei dos homens.

Pois a tragédia foi dar-se justamente na última descida de balsa, quando já o cedro escasseava e as taboas de pinheiro eram levadas, já serradas, pelos caminhões Internazionale e FNM do Coronel.

Daquela viagem não sobrou dinheiro e nem sedas para Elvira, embora a balsa tenha chegado inteira em São Borja. O pai nunca contou, mas um dia Tiço escutou do Natalício que gastaram todo o dinheiro nos cabarés da fronteira.


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O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA

Continuando a postagem anterior
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PLANO DE AÇÃO


O plano de ação contém toda parte metodológica do projeto. Listarei os assuntos que estou planejando para 2009. Não colocarei todos os detalhes, como objetivos ou estratégias. Se alguém interessar-se em tê-lo completo, é só me contatarem.


No primeiro momento levarei leituras com o tema BRINCADEIRAS para a sondagem que me referi semana passada. Serão leituras sobre bonecas, brinquedos em geral, como curiosidade: boné: sua origem e alguns fatos pitorescos. Passarei também pelas histórias clássicas de fadas. Procuro assuntos que chamem a atenção, para que as leituras não sejam desgastantes, sendo do universo deles, fica mais interessante.


As leituras contém, no primeiro momento letras grandes e poucas linhas, entre 15 a 20 linhas. Não devo colocar mais linhas, pois estão se familiarizando com o projeto e ainda apresentam inibições. Aqui também preciso de atenção para a verificação se estão alfabetizados.
Não se assustem: Às vezes alguns alunos chegam ao 6º ano sem saber ler, ou lendo silabicamente.


No mês seguinte, o segundo tema será sobre Valores Humanos. O título será PEQUENAS TERNURAS.


São leituras sobre cidadania, ética, as palavras: obrigado, por favor, desculpa, etc. Também leremos sobre as virtudes e seus significados. São histórias lúdicas que ensinam e trazem mensagens.


O terceiro tema: VOCÊ SABIA? Envolvendo curiosidades e informações. Leituras científicas experiências, conhecimento geral. Exposição das imagens em 3D das Sete Maravilhas do Mundo Moderno com suas histórias (coleção Revista Caras-2008).


O quarto tema: “A LIÇÃO ATRAVÉS DAS HISTÓRIAS”, assunto folclore. Leituras de fábulas e lendas. Enfoque para a poesia, com a “COLETÂNEA DE POESIAS”.


O quinto tema: “TEMPORADA DE ARTES”. Sobre a artista Tarsila do Amaral. Biografia, história e leituras de suas obras.


Um espaço para a leitura de imagens, oportunizando a observação e apreciação de detalhes como: cor, forma e textura.


Interpretar obras de Tarsila estabelecendo relações entre textos, desenvolvendo o senso crítico, valorizando nossa artista.


O sexto tema: “EMBARQUE NESTA AVENTURA”.
Leituras deste gênero, com biografias de super heróis, História em quadrinhos. È um tema muito aceito, portanto deixo-o para o final. Faço um estudo no túnel do tempo, resgatando Dom Quixote entre outros heróis clássicos já desconhecidos destas crianças, até chegar nos cibernéticos e nos mais conhecidos, como super homem .


Dependendo do rendimento durante o ano, deixo preparado uma última unidade chamada “ESTAÇÃO REFLEXÃO”. Como o título diz, leituras reflexivas. Ano passado não trabalhei este tema, pois meus alunos eram bem imaturos, preferi encerrar com os heróis, pois não assimilariam histórias de autoconhecimento e linguagem figurada. Isto depende muito do repertório literário que tiveram nos primeiros anos escolares. Muitos chegam à segunda etapa do ensino fundamental totalmente despreparados, inclusive, de ter vários professores, um para cada matéria. Eles chegam chamando-nos de “tias”,costume antigo de salas infantis.


Estes são os temas que selecionei, porém havendo necessidade posso substituir algum.

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domingo, 4 de janeiro de 2009

Balseiros - III

Foto: Entardecer no Rio Uruguai - Fonte: Internet

O início da colonização

Para compreendermos esse processo de ocupação da região oeste de Santa Catarina, é imprescindível a menção dos fatos que caracterizaram o maior acontecimento de caráter popular dessa região e do Brasil – a Guerra do Contestado.

Vários motivos estiveram envolvidos nesse episódio. Entre eles a disputa de território entre Paraná e Santa Catarina, a luta dos caboclos pela posse da terra, a oposição ao imperialismo americano (representado pelo sindicato Farqhuar), a atuação do coronelismo e a forte presença da crença messiânica, que servia de acalento frente ao abandono a que estavam submetidos.

Esse conflito pode ser caracterizado como o divisor de águas, no processo de ocupação e modelo econômico local. A região antes habitada pelos caboclos, que tinham uma economia de subsistência, sendo a erva-mate seu principal produto de comercialização. Aos poucos essa economia passa a ser exploratória, pois atende à lógica capitalista e submete a população nativa ao novo modelo.

Com o fim da Guerra do Contestado, as Companhias Colonizadoras passam a lotear as terras do oeste catarinense e a vendê-las a um preço acessível. Os ‘novos colonos’, no entanto, deparam-se com o habitante local. É inevitável o confronto cultural, já que as percepções de mundo e de vida são muito diferentes. Os migrantes são vistos como superiores porque seu trabalho gera opulência e acúmulo de mercadorias. Sua concepção de riqueza está centrada na produção de bens em abundância; para o caboclo, no entanto, o trabalho é visto como meio de obter a sobrevivência. Por isso, foram chamados de ‘preguiçosos’.

O caboclo não consegue conviver com essa visão capitalista, introduzida na região pela colonização, patrocinada por companhias colonizadoras. Estando à margem dessa sociedade e não tendo dinheiro suficiente para adquirir uma propriedade, o caboclo torna-se a força de trabalho nas lavouras do novo proprietário, ou então são isolados em regiões distantes. Poli assim descreve essa situação: Com a instituição da propriedade privada e com as concessões de grandes áreas a quem tivesse prestígio político, os habitantes delas passaram a ser empurrados para terras mais distantes, onde não havia colonização ou reclamação da terra pelos proprietários, ou, então, permaneciam em lugares onde as terras não prestavam à exploração pecuária ou para as atividades agrícolas mais racionalizadas.

De posse da terra, os colonos recém-chegados dedicaram-se à abertura de estradas, à derrubada das matas e ao cultivo de novos produtos a serem comercializados. Dessa forma, temos na região outro modelo econômico implantado, no qual os colonos dedicam-se à propriedade rural familiar, e além de produzir toda a sua subsistência, concretizam o grande sonho de acumular riquezas.


Fonte: Trabalhadores do Rio - Os Balseiros do Rio Uruguai - Noeli Woloszyn



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Capítulo III - Apocalíndio segundo Xamã-tô-Prèy



Ele caminhou trôpego por entre os corpos esparramados, as moscas azuladas e o fedor da morte.

Os urubus se postavam enfileirados, asas abertas, na linha da coxilha, enquanto uma nesga de luz começava a surgir atrás, emoldurando-os contra o firmamento ainda opaco. Alguns deles revoavam alto, em círculos, sobre a fumaça azulada da manhã.

Não se escutava mais os gritos alegres das crianças nas cabanas, nem se viam mulheres trazendo água do rio. Algumas delas jaziam de pernas abertas ao lado da trilha, a cumbuca pela metade, a gotejar lenta seu veneno leitoso sobre a grama.

Homens, poucos. Os que restavam na aldeia eram velhos e fracos. Foram os primeiros a morrer, ainda quando se podia velar-lhe a alma. Os novos haviam partido há dias, descendo o rio, onde tinha mais pinhas e as pacas vinham quase a lamber-lhes os pés, contavam. Certamente estariam mortos também, pois era do mesmo rio que bebiam.

Primeiro foi um dos velhos. Logo outro, e outro mais. Nos outros dias as crianças e a mulheres, arroxeavam os beiços, se contorciam e morriam como formigas em que se verte água quente.

Quando o cacique proibiu que se bebesse do rio, e os mortos iam sendo enterrados, vieram os Zugs na madrugada, saídos em bando de dentro do mato. Primeiro mataram com tiros, os que ainda dormiam. Depois com facão os que tentavam debandar para o lado do rio.

Ele a tudo assistiu acovardado, tremendo entre o taquaral, onde fora, muito cedo, buscar galhos para a cerimônia dos mortos da noite.

Só ele estava vivo. Ele, e talvez a menina Xa-Cunhã, que um Zug havia levado embora, dias antes, trocada à mãe por um deus morto espetado numa cruz de pau. Teria sido o deus derrotado que envenenara a água, como punição?...

Ainda cambaleante, chegou à ponta do mato, de onde saíram os brancos. Apoiou o pedaço de lança no chão e debruçou-se nela.

Anos mais tarde, quando o progresso chegou à margem sul do Iguaçu, as toras arrastadas, vez que outra, removiam das macegas, cabelamas e ossos. Um dos peões do Coronel encontrou um esqueleto transpassado encostado num pinheiro grosso. Afastou-o com nojo e começou a cortar o pinheiro, bem embaixo, com o machado, para fazer a barriga, determinando o lado em que ele deveria tombar. Outros peões já chegavam com os serrotes para cortar do outro lado.


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“Aí chegando com as maiores cautelas, a um sinal convencinado, deram o ataque. Estabeleceu-se uma confusão enorme: gritos, pulos, imprecauções, um berreiro infernal por parte dos selvagens. Não contam os expedicionários, mas é fácil prever terem feito eles uma boa chacina, (...)”.


“O pavor e a consternação produzidas pelo assalto foi tal, que os bugres nem pensaram em defender-se, a única coisa que fizeram foi procurar abrigar com o próprio corpo, a vida das mulheres e crianças. Baldados intentos !! Os inimigos não pouparam vida nenhuma; depois de terem iniciado a sua obra com balas, a finalizaram com facas. Nem se comoveram com os gemidos e gritos das crianças que estavam agarradas ao corpo prostrado das mães! Foi tudo massacrado”.

“A turma não tinha nem tempo de carregar a arma de novo. Iam de facão mesmo, subindo e descendo, cortando. O pai lembra de uma meninota que saiu correndo pro mato quando o primo dele agarrou ela pelos cabelos e desceu o facão. O aço desceu pelo ombro até as partes (vagina). Cortou que nem bananeira. Ao ouvirem a gritaria e os tiros dos caçadores, os bugres procuravam suas armas, como não as encontravam, debandavam de forma desesperada mato adentro, deixando tudo para trás.”


Trechos extraídos da obra: MATAR BUGRES: (...), de Flamariom Santos Schieffelbein, que por sua vez cita o Jornal “O Novidades” dos anos 1904 e 1905. Fotos da mesma obra; na primeira, acampamento Xokléng em 1910; na segunda, patrulha de bugreiros (caçadores de índios) - ao centro, de camisa escura, lenço no pescoço e um facão no ombro direito, Martinho Marcelino de Jesus, o Martin Bugreiro, o mais conhecido e sanguinário bugreiro da época.




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O HÁBITO SAUDÁVEL DA LEITURA
Projeto Estímulo à Leitura




Meta



“Estimular os alunos para leitura como ação inteligente e reflexiva, garantindo o acesso aos saberes lingüísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inabalável de todos.”

Vamos iniciar mais uma etapa deste projeto em fevereiro de 2009. Receberei cerca de 150 alunos, na faixa de 11 anos, vindos das escolas municipais. Todos chegando para os 6ºs anos. Todos curiosos para uma nova etapa de mais quatro anos nesta escola estadual. Eles chegam com olhinhos assustados, enfim, tudo é novo.
Para mim também, pois acabo de “deixar” as turmas de 2008 para trás... De uma forma gratificante... Pois passamos o ano letivo juntos, explorando o máximo da literatura e das leituras que considerei adequadas para eles. Eles também estarão empolgados com a continuação... Quem sabe o projeto não se expande e terei uma colega para me ajudar com as turmas de 7ºs anos?

A diretora da escola e eu temos pedido ao “Papai do Céu” esta Graça... Se conseguirmos aprovação de nossa Superintendência local estes alunos teriam continuidade e avançariam mais em seus estímulos literários.

Quem sabe, você, leitor e amigo das Letras da Torre não deixa um comentário nos ajudando no pedido? Pode ter certeza que eu encaminharei esta postagem à pessoa responsável, prometo!

Outro detalhe pertinente é a questão dos números de turmas.
A cada ano estamos recebendo menos alunos para os 6°s anos. Diminuímos uma turma, de seis teremos cinco.

Os pais estão pensando melhor em colocar filhos no mundo ou é impressão minha?
Também nessa crise do país... Bem, deixo esta parte tão polêmica para meu amigo Quasímodo, afinal ele é o anfitrião deste blog e sabe discursar plenamente sobre questões sociais, econômicas e assuntos afins.

Voltemos ao assunto LEITURA!

Já estou iniciando meu novo planejamento. Tenho pensado nos tipos de leituras que irei apresentar. Meu objetivo geral é desenvolver a competência de leitura do aluno buscando torná-lo um leitor eficiente.

“... A didática pode ser envolvente. Em vez de longas fórmulas para decorar problemas que envolvam áreas distintas do conhecimento, fontes diversas como livros, internet e colegas. Em vez do mecânico, o lúdico. Em vez de teórico, o prático contido num poema ou revista... O aluno estimulado se transformará em um pesquisador ávido. São maiores as chances de que venha a ler Machado de Assis, por sentir-se seduzido pelo prazer da leitura, e não porque foi obrigado.” (Gabriel Chalita).

Darei uma atenção especial ao tema “Valores Humanos”, incutindo nos alunos o respeito pelo outro, trocando gentilezas, sensibilizando-os a praticá-las no dia-a-dia, além dos portões escolares. Para isto já estou preparando leituras sobre cidadania, exercícios das palavrinhas mágicas, ética ,convivência harmoniosa, entre outros.

No plano de ação eu organizo as leituras em temas, separando-os em atividades mensais.

No mês de fevereiro eu reservo para fazer a sondagem da clientela, ou seja: chamarei os alunos pela primeira vez, eles lerão e interpretarão as leituras que eu pedir.

Lembrem - se que o trabalho principal do projeto é atendê-los individualmente. Isto acontece sistematicamente durante o ano letivo. A sondagem me indicará o nível de leitura e interpretação de cada um. As leituras não devem ser longas, apenas de uma folha, pois trata - se de uma verificação da oralidade e capacidade de contar o que leu.

Após este primeiro contato começo a agrupar os alunos por níveis. Os que apresentam mais dificuldades serão chamados mais vezes para estarem comigo. Aqueles que já dominam a leitura e interpretação eu vou aumentando o grau de dificuldades das leituras. Ou seja, é necessário um grande tipo de leituras para que o trabalho apresente resultados.

Normalmente um aluno tímido, no mês de fevereiro, vai se desinibindo gradualmente e em maio ou junho já está bem mais fluente e até fazendo gestos com as mãos na hora de me contar o que leu. Quando eles terminam a leitura eu costumo dizer: “Conte-me o que você leu”. Li, certa vez, que não é aconselhável perguntar o que entendeu da leitura.

Na primeira vez que ouvem esta frase, alguns estranham, mas com o passar do tempo eles automaticamente já iniciam a interpretação assim que terminam a leitura. Tudo é uma questão de jeito e treino.

Estes alunos são chamados durante as aulas de Língua Portuguesa, eu trabalho fora da sala de aula, como auxiliar das professoras regentes. Não há problema em tirá-los da sala, enquanto um está comigo o outro está a caminho da sala e já chama o próximo. Funciona sem tumulto algum. Eu cronometro o tempo disponível e quem vai ser chamado naquele momento, o aluno que terminou já espera que eu diga o nome do próximo colega.
Não há também perda de tempo, caso o aluno demore no percurso de volta para a sala, pois imaginem quem não quer sair por alguns minutinhos e ir para a Oficina? Se ele demora os colegas cobram-no ao chegar à sala.

Aliás, o único problema (se é que isso é considerado problema...) é quando eu apareço na porta da sala. No início de cada aula existe aquela expectativa de meu aparecimento. Quando surjo, vejo aquela cena de burburinhos falando meu nome e levantando o dedo, “me chama professora”, “faz um “tempão” que não me chama”, e assim por diante.

Isso também é sanado rapidamente, pois faço a famosa “punição” do “impedido de ir à Oficina” para quem apresenta um comportamento inadequado. Não pensem que eu também não sou questionada, caso me atrase a chegar ás portas. Eles ficam tão ansiosos para a leitura que me vigiam o tempo todo.

Como sou a única a fazer este trabalho e tive seis turmas (2008), elaborei um horário de acordo com as disponibilidades deles com as professoras regentes ,portanto, eles sabem perfeitamente quando apareço.Eis porque também preciso de uma colega me ajudando. Os alunos gostam tanto destes momentos prazerosos e eu não tenho disponibilidade de atender a todos (lembrem-se do meu pedido lá em cima...). Seria excelente contar com o apoio de mais alguém! Deixem-me sonhar!

A partir do final da sondagem já inicio com os temas, que distribuo entre os outros meses.

Na próxima postagem colocarei aqui este Plano de Ação em questão.










Aproveito par divulgar e-mail que chegou à Torre, enviado pela Géssica, e que se adequa a este contexto:

Pessoal, fiz uma comunidade no orkut de Atividades de Leitura. Quem quiser participar fique a vontade. http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=79827409

A idéia da comunidade surgiu após as aulas divulgadas no blog Projetos e Idéias. http://projetoseideias.zip.net/

Beijos a todos

 
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